APOIE A AGÊNCIA MURAL

Colabore com o nosso jornalismo independente feito pelas e para as periferias.

OU

MANDE UM PIX qrcode

Escaneie o qr code ou use a Chave pix:

apoie@agenciamural.org.br

Agência de Jornalismo das periferias

Léu Britto/Agência Mural

Por: Wellington Nascimento

Notícia

Publicado em 17.04.2023 | 15:15 | Alterado em 17.04.2023 | 17:43

Tempo de leitura: 3 min(s)

Do gramado do campo de futebol do Parque Sete Campos, Marcos Yamada, 34, observa ao fundo as casas do Jardim Novo Pantanal, no distrito da Pedreira, zona sul de São Paulo. É com essa paisagem que o professor tem as principais ideias para desenvolver o hobby mais recente: construir miniaturas de favelas com materiais recicláveis.

O interesse surgiu no início da pandemia de Covid-19 e o passatempo ajudou no controle da ansiedade, que aumentou no período.

Tudo começou em 2020 quando Yamada dava aulas de arte e educação para crianças da comunidade e ajudava elas a fazer maquetes, que são representações de obras ou projetos em tamanho reduzido. Depois de montar uma em casa para mostrar de exemplo aos alunos, o artista não parou mais.

“A primeira eu peguei uma caixa de sucrilhos e um papelão e fiz como se fosse uma banca de jornal. A criatividade era pouca, só depois que comecei a utilizar outros materiais e as formas mais próximas do que faço hoje”, explica.

Casas em miniatura das periferias nasceram como um hobby @Léu Britto/Agência Mural

Ao decidir construir miniaturas de casas e comércios de quebrada, Yamada não quis ter réplicas de lugares específicos, mas inserir nas artes algo que remeta às favelas com base na memória. Das 15 feitas até o momento estão algumas casas, um bar, uma barbearia e uma tabacaria.

“Essa ideia de fazer miniatura é também dedicar a ter detalhes perfeitos ou próximos da perfeição de um detalhe real para a galera se identificar”, diz.

Além do amor declarado pela favela, outra inspiração do hobby foi conhecer o trabalho de Marcelino Neto, o Nenê, criador do projeto ‘Quebradinha’ que também transforma materiais recicláveis em elementos de favela. “A devolutiva sempre foi muito positiva”, citando o apoio que Nenê deu ao conhecer seu trabalho.

O processo criativo das obras de Yamada começa em um pequeno escritório que tem em casa. Ele mora com o filho, Yuri Yamada, 13, e a esposa, Darlene Aparecida, 43, que opina e dá ideias desde o esboço até a arte final.

O artista é o responsável por toda a produção. Ao construir, utiliza, em sua maioria, materiais recicláveis como papelão, papel machê, canudos de refrigerante e fios de energia e os reutilizáveis como palitos de sorvete, madeiras de fundo de gaveta e argila. “Tudo que eu olho pode virar parte da arte”, conta.

Dependendo do projeto, as miniaturas ficam prontas de dois a cinco meses. As peças já foram parar em exposições do bairro e o resultado tem sido motivador. Ele comenta que as pessoas, principalmente os adultos, se identificam com elas.

“As pessoas olham as miniaturas e dizem: ‘Minha casa tem isso’ ou ‘Na minha infância eu tinha uma janela dessas’. São essas memórias afetivas que dão o prazer de fazer”.

Por se tratar de um hobby, Yamada não as comercializa, mas deixa em aberto essa possibilidade no futuro. Agora, quer se desafiar e construir apenas com materiais que encontrar nas ruas, sem usar o estoque que já tem em casa. Todos os projetos podem ser encontrados no Instagram da @arquitetura_periferica.

Marcos cuida de toda a produção @Léu Britto/Agência Mural

Materiais recicláveis são a principal matéria-prima dos trabalhos @Léu Britto/Agência Mural

Materiais recicláveis são a principal matéria-prima dos trabalhos @Léu Britto/Agência Mural

Materiais recicláveis são a principal matéria-prima dos trabalhos @Léu Britto/Agência Mural

Geração Yamada, pai e filho do artistas acompanham trabalho @Léu Britto/Agência Mural

Artista além das miniaturas

Morador do Jardim Novo Pantanal há 29 anos, a arte acompanha a vida de Yamada em quase metade deles. Muito ativo no bairro, já organizou saraus de poesia, bibliotecas comunitárias e eventos de hip-hop, mas o resultado não era satisfatório. “Os vizinhos ligavam para a polícia por causa do barulho”, lamenta.

Yamada também é cantor de rap e autor de um livro chamado “Saudações Favela”. Ele começou na música em 2006, e hoje se apresenta no tempo livre em espaços da região. O músico comenta que não estava conseguindo atingir todas as pessoas e então decidiu priorizar a área que se encontra atualmente: o esporte.

“Alcancei um tanto de pessoas com a música, mas percebi que os jovens estavam ficando dispersos. Foi aí que morando do lado do Parque Sete Campos vi que eles desciam muito pra jogar bola. A partir daí fui deixando a música em segundo plano e entrei de cabeça no esporte.”

Há quase 10 anos envolvido com o futebol, Yamada está fazendo faculdade de educação física para se tornar um profissional na área. Durante a pandemia, precisou fazer rifas de duas miniaturas para ajudar a pagar a graduação que termina este ano. 

Ele também chegou a ficar desempregado, mas logo apareceu uma oportunidade para dar aulas de futebol para jovens do bairro, no projeto social que participa atualmente.

receba o melhor da mural no seu e-mail

Wellington Nascimento

Formado em Jornalismo e pós-graduado em dar boas risadas. Apaixonado por esportes, ex-atleta em atividade e toca violão nas horas vagas. Sonha em viajar o Brasil e o mundo para encontrar e contar histórias. Correspondente da Cidade Ademar desde 2022.

Republique

A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.

Se você quer saber como republicar nosso conteúdo, seja ele texto, foto, arte, vídeo, áudio, no seu meio, escreva pra gente.

Envie uma mensagem para republique@agenciamural.org.br

Reportar erro

Quer informar a nossa redação sobre algum erro nesta matéria? Preencha o formulário abaixo.

PUBLICIDADE