Artista do extremo leste de São Paulo fez gravação em casa durante período da pandemia de Covid-19
Por: Redação
Notícia
Publicado em 05.10.2020 | 10:43 | Alterado em 05.10.2020 | 16:19
Paulo Silva, 19, mais conhecido como Ph Silva, mora em Guaianases, no extremo leste de São Paulo, e é apaixonado por música. Para driblar os sentimentos de angústia e incertezas, o músico encontrou na arte uma maneira de retratar a vida após o fim do relacionamento com o filme “Girassol Dourado”.
Com um celular e um tripé, ele fez as gravações em casa. Ph é o único ator do longa-metragem, responsável pela roteirização, gravação e edição do próprio filme. “Em quarentena, eu era a única opção de fazer acontecer esse projeto. Sempre tive o sonho de fazer isso, mas por falta de recursos deixava pra lá”, conta o músico.
O título do filme é uma homenagem a um girassol dado pela ex-namorada no tempo em que ambos estavam juntos. O compositor conta que mesmo cuidando da planta, ela foi morrendo e as folhas ficavam na cor dourada após o término.
O longa-metragem segue o estilo cinema experimental que se difere do cinema comercial por conta do formato abstrato (a ideia foi aproximar o filme da música). São 16 faixas de composições autorais que foram fragmentadas para cada cena.
Para abordar a vida após o término, o compositor conta que escolheu esse estilo porque se identifica com o formato e por retratar mais fielmente o que estava sentindo após o fim do relacionamento.
“A arte foi um escape para mim, me sentia no fundo do poço, antes mesmo do término do relacionamento não estava bem psicologicamente, fazer esse trabalho me ajudou”, diz o artista.
Sem recursos para a produção, o músico usou itens de casa para manter a criatividade. “Peguei o roupão da minha mãe e virei ao contrário para parecer um avental, também usei um óculos de proteção EPI do pedreiro que estava construindo uma casa no quintal de casa”.
Em uma das cenas, ele explica com palavras e gestos sobre o seu sorriso que era elogiado pela sua ex. “Mostro o meu riso de forma evidente escovando os dentes. Também penso sobre o pedido de casamento e logo me ajoelho com a caixa de aliança na mão”, fala Ph.
O filme levou um mês para ser finalizado, Paulo conta que passava 24 horas por dia acordado. Por conta do barulho da construção no quintal de casa, não era possível fazer as gravações durante o dia, somente de madrugada. “Gravava o máximo que conseguia e na parte do dia editava”, diz Ph.
Os colegas se surpreenderam por ele ter feito tudo sozinho. Alguns falaram “Meu Deus, não teria coragem de fazer isso”, “Não tenho capacidade para fazer um filme só”.
O que chama atenção do músico são os desabafos inesperados feitos por quem vê o seu vídeo, na maioria das vezes, são pessoas que terminaram também o relacionamento em meio ao isolamento social da Covid-19. As gravações ocorreram no isolamento social por conta do vírus. Ele conta que fazer um projeto criativo o ajudou a superar e compreender as suas emoções.
Além de expressar suas ideias, o compositor diz que quer ser instrumento de inspiração para outros jovens da periferia que mesmo com poucos recursos ou nenhum querem viver da música. O jovem possui 2 álbuns, 1 ep e 2 single parte feito em casa e outra em home studio que estão disponíveis na plataforma spotify e também no youtube. .
A história de Ph também está no Em Quarentena, o podcast criado pela Agência Mural de Jornalismo das Periferias.
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