Ricardo Souza
Por: Bruna Nascimento
Notícia
Publicado em 07.12.2023 | 15:49 | Alterado em 07.12.2023 | 15:49
Isabella Ribeiro, 8, é moradora do bairro Boa Vista na cidade de Suzano, região do Alto Tietê, Grande São Paulo, e conta com mais de 9 mil seguidores nas redes sociais.
O perfil é administrado pela mãe, Fernanda Sousa, 31, e exibe conteúdos com dicas de lugares, fotos e vídeos de provas de roupas e registros em passarela, levando beleza e representatividade negra para esses espaços.
Na profissão desde o ano passado, a pequena modelo conta que ama desfilar e quer continuar seguindo essa carreira, que nasceu por meio de brincadeiras. “Comecei a ver na TV e ficava desfilando em casa”, relembra ela. Hoje ela faz cursos como teatro e passarela.
Além da divulgação de diferentes lojas e marcas de roupa infantil, Isabella já saiu de Suzano para desfilar em outras cidades, como em Santos, litoral de São Paulo, e também em grandes eventos como a ‘Expo Noivas e Festas 2023’, feira do setor de casamentos realizada no Expo Center Norte.
Para a mãe, a melhor parte de acompanhar a filha desde cedo em uma carreira “é o crescimento dela e a forma que ela encara cada desafio”. Mas cuidados também são necessários.
“Ela não tem acesso às redes sozinha. Em relação ao dinheiro, eu tento sempre guardar uma parte e investir outra. E sempre informar a Isa o que estamos fazendo, quanto ela ganha e sempre ensinar a ela o valor do dinheiro”, conta Fernanda.
Outro cuidado é ficar alerta com os golpes que existem no ramo. Fernanda conta que participa de grupos de WhatsApp com mais de 500 mães que funcionam como redes de apoio para trocar experiências, tirar dúvidas, recomendar agências confiáveis e também expor golpes e ajudar a identificar possíveis fraudes.
Pesquisar o CNPJ de agentes, agências e produtoras, consultar clientes e seguidores nas redes sociais e entrar em contato com responsáveis de crianças marcados em postagens também são cuidados praticados por ela, assim como se atentar às abordagens comuns em golpes que exploram o aspecto emocional com elogios e promessas irreais.
“Aprendi a ser empresária da minha filha. Eu tento colocar o pé no chão, olhar com outro olhar, ouvir com outro ouvido, ser mais criteriosa”
Fernanda Sousa, mãe da modelo mirim Isabella
Além de empresária, Fernanda também passou a fotografar e desenvolver amor pela função de ficar responsável pelos cliques da filha. Ela busca lugares ‘instagramáveis’ para retratos e registra os desfiles, para passar credibilidade e profissionalismo nas redes sociais, além de ser uma forma de economizar.
“Comecei [a fotografar] por causa da minha filha. Porque cada foto de boa qualidade é muito cara. Só faço pra ela e para algumas mães que às vezes estão nos mesmos eventos”, diz Fernanda.
Quem também cuida das redes e da carreira de modelo do filho é Léa da Silva, 40, moradora de Itaquaquecetuba, cidade vizinha de Suzano. O perfil do filho, Brayan Ricardo, 10, reúne mais de 7 mil seguidores.
Há pouco mais de um ano e meio no ramo, Brayan também esteve na Expo Noivas com Isabella e já levou o nome da cidade de Itaquaquecetuba para diversos desfiles em lugares como Santos e Itapecerica da Serra.
Também coleciona conquistas como fotos para diversas lojas e figuração em produções variadas, como um comercial de volta às aulas da Prefeitura de São Paulo e até a série ‘Luz’ da Netflix e o filme ‘Inexplicável’, que devem ser lançados em breve.
“Gosto quando estou na passarela com vários fotógrafos tirando foto. E indo pra vários lugares, conhecendo vários artistas e inspirando outras crianças”, diz o artista mirim.
Para a mãe, “é muito bom ver ele fazendo o que gosta, já recebendo cachê pelo trabalho e sendo reconhecido”.
Assim como Isabella, Brayan também participa da organização financeira. Ele sabe o valor de cada cachê e é ensinado que não pode gastar todo o dinheiro recebido.
Uma parte é guardada em uma conta própria de Brayan e outra destinada para gastos com ele, além de investimentos necessários, como inscrições para desfiles e concursos, roupas, cabelo e maquiagem.
O deslocamento para outras cidades, além de também ser um gasto a mais, é desafiador. A maioria dos trabalhos e eventos acontecem aos finais de semana, marcados por manutenções nas linhas de trem e metrô e maiores tempos de espera.
“A gente tem que sair bem mais cedo de casa pra chegar no horário certinho quando vamos de trem porque a gente não tem carro. É bem complicado. E quando tem algum evento durante a semana na hora de ir é ótimo porque a gente vai sentadinho, mas na hora de vir aí já é complicado porque o trem vem lotado”, diz Léa.
Mas, segundo ela, a distância e os desafios de morar em uma cidade periférica são tirados de letra.
“Meu filho graças a Deus leva o nome de Itaquá com orgulho […] as pessoas tem que ver que não é porque a cidade é assim que a criança não pode ter um futuro. Tem que acabar o preconceito”, defende a mãe.
Léa conta que essa trajetória faz com que Brayan incentive e aconselhe os amigos da escola a estudarem e não desistirem dos sonhos.
“Muitas crianças sonham em ser modelo e muitos pais também, mas não querem passar pelo processo. Porque no começo a gente sofre mesmo, luta e tudo, mas lá na frente a gente vai ter a colheita. É um toque para as crianças não desistirem do sonho, não só na área de modelo, em qualquer área”, diz Léa.
Entre a vida de artista, compromissos e deslocamentos, há o cuidado com o equilíbrio entre as responsabilidades e as tarefas escolares e o tempo para brincar e aproveitar a infância.
“Ele estuda na parte da manhã, chega da escola, descansa um pouco, depois faz a lição de casa, brinca um pouco e duas vezes na semana faz aula de capoeira”, explica a mãe.
“Final de semana é bem corrido porque tem os desfiles, fotos e também o curso de passarela. Mas sempre sobra um tempinho pra passear e se divertir com os colegas”, completa.
Uma decisão do Ministério Público do Trabalho determina a necessidade de alvará judicial para participação, entrada ou permanência de crianças e adolescentes menores de 16 anos em trabalhos publicitários.
A advogada Agatha Sales, 25, moradora de Suzano, explica que “o alvará judicial é uma autorização, temporária ou definitiva, para que a pessoa consiga realizar determinado ato”. Essa autorização deve ser requerida à Justiça, por meio de um advogado.
“É de suma importância que o responsável pelo menor peça o alvará judicial e siga os passos certinhos para não prejudicar a vida profissional nem impedir que ele faça seus trabalhos de maneira sadia”, diz Agatha.
Fotojornalista, sonhadora, observadora e ouvinte de 'causos' profissional. Corinthiana maloqueira e sofredora (graças a Deus), boa sujeita, pois gosta de samba e tal qual Candeia na voz de Cartola, precisa se encontrar e vai por aí a procurar. Correspondente de Suzano desde 2019.
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