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Agência de Jornalismo das periferias

Léu Britto/ Agência Mural

Por: Sarah Fernandes

Notícia

Publicado em 29.11.2023 | 19:00 | Alterado em 29.11.2023 | 19:00

Tempo de leitura: 3 min(s)

Aumentar o número de profissionais periféricos nos grandes veículos de jornalismo do país é uma tendência para responder a demanda da sociedade por diversidade, mas que ainda não altera a estrutura das grandes empresas de comunicação. Este movimento pró-diversidade pode ser alterado ao menor sinal de crise econômica e por isso é fundamental fortalecer o jornalismo das periferias.

Essa é a opinião de comunicadores que participaram da roda de conversa “O panorama do jornalismo local nas periferias ao longo da última década”, promovida no último sábado (25) no Museu das Favelas, em São Paulo, em comemoração aos 13 anos da Agência Mural.

Apesar das críticas, os participantes do evento reconheceram que foram muitos os avanços quando o assunto é cobertura jornalística nas quebradas. “Ter mais jornalistas periféricos nas redações e ter mais diversidade de gênero e raça é algo que virou uma ‘modinha’, mas por outro lado esse movimento ajudou a criar editorias de diversidade para as grandes redações. É um avanço porque antes nem se pensava nisso”, pontuou a diretora institucional da Agência Mural, Cíntia Gomes.

‘Ajudamos a ampliar a diversidade no jornalismo’, diz Cíntia Gomes @Léu Britto/ Agência Mural

O avanço é representado em números: em 2019, pelo menos 97 iniciativas de jornalismo periférico atuavam nas quebradas da capital paulista, segundo a pesquisa Mapa do Jornalismo Periférico: passado, presente e futuro, produzida pelo Fórum de Comunicação e Territórios de São Paulo.

“Há alguns anos, a cobertura jornalística sobre as periferias se pautava apenas em violência, assistencialismo ou na ‘jornada do herói’, daquele que superou adversidades”, relembrou Thiago Borges co-fundador do portal Periferia em Movimento. “Para aumentar sua sobrevida, as grandes redações contratam pessoas periféricas e alteraram sua cobertura, mas na primeira crise isso pode mudar. Por isso, temos que fortalecer a nossa esfera de trabalho”.

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Gabrielle

‘Conseguimos pautar a grande mídia’, diz Gabrielle Guido, do Entre Becos @Léu Britto/ Agência Mural

Caê Vasconcellos

‘Ter um chefe de redação periférico na grande imprensa é um sonho’, diz Caê Vasconcellos @Léu Britto/ Agência Mural

Publico

Evento da Agência Mural lotou auditório do Museu das Favelas, no Centro de São Paulo @Léu Britto/ Agência Mural

Suplicy

O vereador de São Paulo Eduardo Suplicy (PT) esteve presente no evento @Léu Britto/ Agência Mural

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Evento contou com exposição de fotos e artes exclusivas da Mural @Léu Britto/ Agência Mural

Comunicação para as quebradas

É importante atentar que o modelo de jornalismo que avança nas periferias de São Paulo não pode simplesmente ser replicado em outras cidades do país, pois cada uma tem características muito próprias na sua dinâmica.

“Em Salvador, por exemplo, as periferias são misturadas com os bairros nobres. Não dá pra dizer que a periferia é distante do centro. É complicado definir o que de fato é periferia por aqui”, disse Gabrielle Guido, integrante do projeto de jornalismo local de Salvador Entre Becos, parceito da Agência Mural. “Conseguimos pautar a grande mídia e agora outros veículos da cidade estão produzindo conteúdos sobre bairros específicos”.

Há, porém, um longo caminho para avançar quando se fala em ampliar a diversidade no jornalismo. “As redações tradicionais ainda são brancas, cisgeneras, heterosexuais, formadas na Cásper Libero. Isso mostra que está contando as histórias que chegam até nós”, pontua o jornalista Caê Vasconcellos, fundador da Transmidia, ex-muralista e com passagem por grandes veículos como o UOL e a ESPN.

‘Cobertura das periferias se pautava em violência, assistencialismo ou na jornada do herói’ @Léu Britto/ Agência Mural

Avançar requer, necessariamente, financiamento e garantia de sustentabilidade para os projetos que fazem jornalismo nas, pelas e para quebradas.

“Os veículos de comunicação periféricos devem falar sobre garantia de políticas públicas para as quebradas, inclusive políticas para financiar a comunicação feita nesses locais. É isso que pode garantir nossa sustentabilidade”, diz Borges. “A gente ouve muito que a ‘favela venceu’, mas que favela? Pode até ter um ou outro que chegou no topo, mas o topo não é lugar para todo mundo. Por isso é preciso fortalecer a nossa esfera de trabalho, do jornalismo que sai da avenida e entra na viela”.

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Sarah Fernandes

Jornalista e geógrafa, com foco em direitos humanos e ambientais. Reúno mais de 10 prêmios de reportagem, entre eles dois Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Atualmente é Editora na Agência Mural.

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