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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Gabriela Vasques

Notícia

Publicado em 22.07.2022 | 19:13 | Alterado em 27.07.2022 | 11:15

Tempo de leitura: 4 min(s)

Na barraca de Lourdes das Neves, 63, há laranjas, couve, gengibre e uma variedade de pães de biomassa – uma massa feita com casca de banana.Tudo que ela vende ali em Itaquera, na zona leste de São Paulo, é produzido por ela e quatro irmãos, em uma família na qual a relação com os alimentos orgânicos é tradição passada pelo pai dela.

“A nossa proposta não é só vender, é conscientizar as pessoas para que utilizem alimentos mais saudáveis”, diz a vendedora que ainda oferece dicas de receitas para os clientes. Ela planta tudo em um sítio dentro da capital, em São Mateus, também na zona leste.

Lourdes é dona da banca mais antiga da Feira Orgânica de Itaquera, que ocupa há quatro anos a Praça Inácio de Tolosa, na Avenida Maria Luiza Americano. Quinzenalmente, aos sábados, ela encontra por lá Zelia Madureira, 58, e Edina Aparecida Oliveira, 64, que também atuam com produtos na região.

Além de frutas e verduras sem agrotóxicos, há artesanato e óleos essenciais vendidos nas barracas, trabalho que encontraram para garantir uma renda extra e, também, porque foi a forma para manter contato com os vizinhos.

Para Lourdes, falta informação sobre a qualidade dos produtos orgânicos. Muitas vezes, os clientes querem uma maçã e ela explica que na região não é possível plantar essa fruta de maneira natural.

“O importante é você diminuir um pouco do consumo dos agrotóxicos”, defende a feirante. “Se você tiver só comprando a produção tradicional, que usa adubos químicos e agrotóxicos, você está consumindo 100% de comida contaminada, mas se você vem aqui e pega uma couve, uma mexerica, você já está diminuindo”.

Placa de identificação Feira Orgânica de Itaquera @Gabriela Vasques/Agência Mural

Na banca de Zelia, a aposta são nos óleos essenciais, vegetais e naturais. Ela é aromaterapeuta e produz as mercadorias que vende.

A aromaterapia é uma técnica que usa aromas liberados por óleos essenciais com finalidades terapêuticas. Esse tipo de trabalho está entre as PICS (Práticas Integrativas e Complementares) reconhecidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

O contato de Zelia com a aromaterapia começou por um problema do filho, que não tinha boas noites de sono. A partir daí ela passou a estudar sobre o tema e se formou em um curso profissionalizante promovido pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Zelia diz que a maioria das pessoas não conhece os produtos, por isso precisa apresentar e mostrar os benefícios. “Você tem que ir educando e orientando essa pessoa que vai experimentar. Às vezes, ela se sente bem, sente que melhorou a qualidade de vida, assim ela vem e compra mais”, diz ela que também vende os óleos pela internet.

Edina (na esquerda) trabalha com artesanato @Gabriela Vasques/Agência Mural

Zelia e Lourdes concordam que o retorno financeiro não é tanto e continuam o serviço em especial pelo encontro com os vizinhos e amigos. Mesma opinião da Edina que afirma ser satisfatório conhecer pessoas novas.

Edina vende produtos artesanais feitos manualmente, como toalhas de banho bordadas. A artesã também mora na zona leste desde que nasceu e teve vários trabalhos durante a vida, como manicure e chegou a vender salgados para festas.

Atualmente, ela busca formas de ganhar dinheiro para conseguir ter uma vida digna com o marido que é aposentado e recebe um salário mínimo.

Em meio a situação econômica dos moradores, ela também tem oferecido opções mais baratas: deixou as grandes toalhas bordadas que saem a R$ 100 e R$ 120 em segundo plano e passou a oferecer panos de prato, toucas e aventais de cozinha, com opções saem a partir de R$ 5. Ela diz que são mais fáceis de vender.

“Se eu vendo assim é uma vez ou outra bem difícil e as pessoas que estão próximas a mim, sabem que eu tenho essas mercadorias. Mas é difícil chegar um vizinho lá, uma pessoa assim que eu conheço, que é de dentro da vila para comprar, eu vendo mais para os de fora”.

Zélia vende óleos essenciais e atua com aromaterapia @Gabriela Vasques/Agência Mural

Não é apenas Edina que teve outros trabalhos durante a vida, Lourdes também foi professora em escolas da prefeitura e do governo na região. Na escola ela desenvolveu projetos com as crianças para uma alimentação mais saudável.

A vendedora conta que se preocupava ao ver no colégio as crianças comendo preferencialmente alimentos industrializados, como os salgadinhos e biscoitos. Além disso, muitas vezes eles descartavam alimentos da merenda oferecida.

Em 2014, ela desenvolveu em uma escola da prefeitura o projeto “Educação Além do Prato”, no qual criou junto com as crianças uma receita que seria incorporada na merenda escolar: um patê.

“Na hora do café da manhã, as crianças iam comer o pão com queijo e eles retiravam o queijo, comiam e jogavam o pão fora”, relata Lourdes. Ela afirma que após questionar as crianças, descobriu que elas achavam o pão muito seco, assim com o patê elas teriam mais vontade de comer.

Ela tenta reproduzir isso na Feira Orgânica de Itaquera, pois ensina aos clientes preparos para aproveitarem bem os alimentos e terem vontade de comer.

“Damos sugestões de receitas, de como preparar, por exemplo, a banana utilizando toda a fruta, inclusive a casca”, diz. “A gente tem um relacionamento muito bom aqui com o bairro. Não saí daqui do bairro por conta deles, eu vejo aqui como um ponto de encontro”, diz Lourdes.

Feira Orgânica de Itaquera

Endereço: Av. Maria Luiza Americano, 1000 – Cidade Líder, São Paulo – SP, 08275-180

Quando: A cada 15 dias aos sábados, das 8h às 11h

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Gabriela Vasques

Jornalista formada pela PUC-SP e assistente de produção na TV Cultura. Interessada por diferentes formas de fazer jornalismo, como, jornalismo em quadrinhos. Ama fotografia e gosta de conhecer diferentes pontos da cidade. Correspondente do Parque do Carmo desde 2022.

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