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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Ira Romão

Notícia

Publicado em 22.03.2023 | 16:02 | Alterado em 22.03.2023 | 19:24

Tempo de leitura: 6 min(s)

Em 2022, a subprefeitura de Casa Verde/Cachoeirinha, localizada na zona norte, teve um orçamento de R$ 49 milhões, bem mais do que os R$ 29 mi que deveriam chegar na subprefeitura de Perus/Anhanguera, na região noroeste.

Na prática, porém, Perus teve R$ 36 milhões realizados em ações na região, enquanto a Cachoeirinha ficou com R$ 33 mi.

Os dados dessas duas administrações regionais que ficam acima do Rio Tietê são exemplos do quanto o orçamento aprovado pelos vereadores não foi realizado pela gestão municipal. Levantamento da Agência Mural mostra que 24 subprefeituras gastaram menos do que foi prometido na LOA (Lei Orçamentária Anual).

A subprefeitura de Casa Verde/Vila Nova Cachoeirinha foi a terceira na cidade com menor execução do previsto, atrás apenas de Sapopemba e do Itaim Paulista. Essa subprefeitura engloba os distritos da Casa Verde, Vila Nova Cachoeirinha e o bairro do Limão.

Terminal da Vila Nova Cachoeirinha. Subprefeitura da região abrange o bairro e a Casa Verde @Ira Romão/Agência Mural

Dentre os projetos orçados que não saíram do papel estão duas obras de contenção das enchentes, problema de longa data que atinge o território.

Uma delas seria executada no Jardim Peri Novo II, no distrito da Vila Nova Cachoeirinha, um dos mais atingidos pelas enchentes.

Situação que o líder comunitário Rodney Vicente, 46, lamenta, além de apontar outro problema. Para ele, a subprefeitura foca a maior parte dos esforços na região da Casa Verde, apesar da Cachoeirinha concentrar 70% da população.

“Na prática é assim, há bastante serviços nos bairros mais próximos da Marginal [Tietê], enquanto que nos demais, na periferia, cai muito. É uma luta histórica”, diz Rodney, que é professor universitário e especialista em gestão pública.

Rodney atua como liderança comunitária em todo o território da subprefeitura em diferentes frentes. Começou em 1991, atuou no grupo de jovens da Igreja Católica e atualmente está em movimentos de habitação, onde acompanha as necessidades do território.

Rodney lembra que obras de contenção de enchentes, além de necessárias, são aguardadas há anos pelos moradores.

“A Casa Verde começa na Serra da Cantareira e desce até a Marginal Tietê. Toda a água que vem da Serra desce pelos mananciais”, discorre Rodney, que nasceu na região do Imirim, e, hoje, mora no Sítio do Morro, na Casa Verde.

‘Com a ocupação da população, acentuou muito essa questão de enchente. Como as obras de drenagem e de contenção não estão sendo feitas, a situação continua a mesma’

Rodney Vicente, 46, líder-comunitário

Entre os lugares que demandam obras emergenciais, ele cita a rua Cachoeira dos Antunes, no Jardim Peri, distrito da Cachoeirinha. “Ainda no distrito da Cachoeirinha, precisa de atenção o Jardim Vista Alegre e também a área chamada de São Roque de Minas, próximo ao Córrego do Bispo”, completa.

O produtor cultural Francisco João Moreirão de Magalhães, 65, conhecido como João Moreirão, ressalta que algumas casas na Vila Nova Cachoeirinha estão com portões de ferro para minimizar as enchentes, mas nem todas conseguiram evitar o problema.

“Além da enchente em si, já ser um grande problema, ela está causando problemas na estrutura das casas. Várias delas já foram condenadas”, relata João, que, no atual momento, é o coordenador do Conselho Participativo Municipal da Casa Verde.

Apesar disso, João, que mora no Jardins das Laranjeiras, na Casa Verde, diz que muitas das obras que são necessárias para a contenção de enchentes, precisam ser direcionadas para a Siurb (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras).

João questionou a subprefeitura sobre o orçamento não ter sido executado e, como resposta, foi informado que ainda existem serviços que foram contratados, porém, ainda não foram finalizados.

Para ele, em 2022, os maiores investimentos realizados pela subprefeitura Casa Verde/Cachoeirinha foram nos distritos do Limão e da Cachoeirinha, principalmente na área que compreende ao Peri.

“Houve investimento em aprofundamento da calha dos córregos, em contenção de margens e contenção de laterais, com guarda-corpo”, aponta.

Córrego na Vila Inácio, em Perus, transbordou em 2021 @Ira Romão/Agência Mural

Perus

Na subprefeitura de Perus/Anhanguera, que engloba os distritos de mesmo nome, o orçamento liquidado foi 24% acima do previsto. A maior parte dos gastos foi na “Intervenção, Urbanização e Melhoria de Bairros”, para onde foram destinados R$ 11 milhões.

Investimento que passou despercebido por Sirlene Mariano, 50, conhecida como Índia Mariano, moradora da Vila Inácio, distrito de Perus, e que atua como liderança comunitária. Pelo menos no que diz respeito a obras de grandes dimensões, ela alega não ter acompanhado.

“Aqui na Vila Inácio foi feita uma obra, um muro de proteção lindeiro ao córrego Laranjeiras, cuja verba veio de uma emenda parlamentar, aprovada em 2021”, conta.

Desde 2018, Índia coordena o Espaço Comunitário Jefferson Gonçalves, criado em homenagem a um jovem morador que perdeu a vida durante uma enchente que afetou todo o território. A obra mencionada por ela foi realizada para contenção de enchentes, que são recorrentes no local.

Índia ainda aponta que a obra em questão teve a execução prejudicada, pois a empresa responsável se dividiu entre o local e a entrega de algumas praças.

“Depois da entrega do muro, em março de 2022, a área pouco recebeu atenção da subprefeitura, com foco na zeladoria. Foram duas ou três vezes que foi feito capinação”, diz.

Bairro do Sol Nascente, em Anhanguera, é marcado pelo mato alto em várias ruas @Ira Romão/Agência Mural

Conhecido como Mad, o comerciante Willams Fernandes da Silva, 50, mora no bairro Residencial Sol Nascente, que pertence ao distrito de Anhanguera e é presidente do Conseg (Conselho Comunitário de Segurança) de Perus/Anhanguera.

Embora avalie o bairro onde vive foi atendido pela subprefeitura, o comerciante afirma que muita coisa não foi feita.“Temos muitas ruas com o sarjetão estragado e não estamos vendo esse trabalho”, diz.

“Não adianta só vir pintar a sarjeta. O mato precisa de uma roçada mais baixa para que a manutenção dure mais tempo até o retorno, sem que a população precise cobrar”

Willams Fernandes da Silva, 50, comerciante

Outro ponto avaliado por Mad é que o gestor do território precisa ter condições de trabalho, com equipes qualificadas para a zeladoria.

Ele também reconhece que na subprefeitura de Perus/Anhanguera há obras que estão em andamento, mas que há muito a ser feito, como a terceira faixa para a Estrada da Ligação e o alteamento da ponte sobre o Córrego Buracão, aprovadas dentro do orçamento de 2022, que ainda não foram realizadas.

“A terceira faixa atenderia o sentido subindo para o bairro, o que aliviaria o intenso trânsito formado, principalmente, pela passagem e quebras de carretas que transitam pela região”, explica.

“Já a obra do córrego se faz necessária porque toda vez que chove, enche. E além da água, vem muita terra, que acaba assoreando o córrego”, relata Mad.

Calçada no bairro do Sol Nascente, em Perus @Ira Romão/Agência Mural

O comunicador Jackson Naim, 58, morador do Jardim Canaã, no Morro Doce, distrito Anhanguera, também acompanha de perto a execução do orçamento da subprefeitura Perus/Anhanguera. Embora concorde que ainda falta muito a ser feito, avalia como boa a zeladoria que vem sendo executada.

“No ano passado, foi eliminado na região vários pontos viciados, de descarte irregular de lixo, principalmente nas vias principais como a rua Delsuc Alves Magalhães, onde foram feitos dois pontos”, conta Jackson.

Apesar da avaliação positiva, Jackson não vê a distribuição do orçamento no território de forma igualitária entre os distritos Perus e Anhanguera.

Mesmo não sabendo oficialmente quanto foi investido em cada distrito, Jackson arrisca dizer que o valor investido no distrito Anhanguera em 2022 foi menor do que o investido em Perus. Se tivesse que chutar uma porcentagem, de forma neutra, ele arriscaria que “foi 30% para a Anhanguera e 70% para Perus”.

“Não vejo como uma distribuição igual, por isso, eu mesmo acredito que deveríamos ter uma extensão da subprefeitura aqui no bairro”, conclui.

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Prefeitura

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Siurb, afirma que na Subprefeitura Casa Verde/Cachoeirinha foram concluídas duas obras para contenção de talude, “que visam garantir a estabilidade e segurança em áreas que apresentavam instabilidade”.

As intervenções foram executadas na avenida Inajar de Souza, altura do nº 6000, e nas margens do córrego Tabatinguera, localizado na Rua Augusto Franco de Souza.

Informou também que na zona norte estão sendo construídos quatro novos reservatórios na bacia do Ribeirão Perus, localizados nas ruas Ernesto Bottoni (Areião), Cleonice Kammer Di Sandro (R1A) e no Rodoanel Mario Covas (R2 e R3). Juntos eles poderão armazenar até 791 mil m³ de água.

A gestão municipal cita também que foi entregue um reservatório do córrego Paciência e três novos reservatórios na bacia do córrego Tremembé.

Em relação à zeladoria, foi informado que a SMSUB (Secretaria Municipal das Subprefeituras), por meio da Subprefeitura Casa Verde/Cachoeirinha, realiza diariamente ações para minimizar os impactos das chuvas, principalmente, nas áreas mais críticas.

Ainda de acordo com a Prefeitura, no ano de 2022, na região da Casa Verde/Cachoeirinha, foram reformados 389 poços de visita e bocas de lobo, foram retiradas cerca de 153,45 toneladas de detritos nos córregos, podadas 2.954 árvores e realizados 2.518.940,00 m² em corte de mato e grama.

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Ira Romão

Jornalista, fotojornalista e apresentadora de podcast. Atuou em comunicação corporativa. Já participou de diferentes projetos como repórter, fotógrafa, verificadora de notícias falsas e enganosas. Foi uma das apresentadoras do ‘Em Quarentena” e da série sobre mobilidade nas periferias. Ama ouvir histórias, dançar, karaokê e poledance. Correspondente de Perus desde 2018.

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