Léu Britto/ Agência Mural
Por: Jacqueline Maria da Silva
Notícia
Publicado em 12.10.2023 | 11:01 | Alterado em 16.10.2023 | 18:31
Neste 12 de outubro, Dia das Crianças e Dia Nacional da Leitura, a Agência Mural pergunta: em um mundo super tecnológico, como chamar a atenção dos meninos e meninas para o bom e velho livro? São muitas possibilidades, algumas delas mais certeiras, como apostar em publicações sobre interesses das crianças ou preferir as que tenham ilustrações.
Quem garante pode até ser suspeita para falar, mas tem muita experiência no assunto. É a artista Flávia Borges, 26, de Itaquera, na zona leste de São Paulo.
“A ilustração traz personalidade e tenta traduzir a história de uma forma viva, com um propósito e uma mensagem. Acho que isso fortalece a narrativa dos livros”
Flávia Borges
Ela fala com propriedade, pois desenha desde criança. Em 2017, transformou o hobbie em profissão e passou a trabalhar com ilustrações e quadrinhos publicitários para público feminino, negro e LGBTQIA+, “temas que me atravessam”, segundo a artista.
Seus desenhos chamaram atenção de autores de livros infanto-juvenis, que passaram a convidá-la para compor trabalhos em conjunto. “O pessoal procura meu traço e pede para adaptar para seus projetos. Eu ando produzindo artes sobre temas relacionados a feminismo e empoderamento negro”.
Esta força das ilustrações pode ser uma aliada para resolver um problema que vem chamando a atenção de cuidadores, professores e especialistas. As crianças e os adolescentes de São Paulo são os que menos leem quando comparados a outras faixas etárias. Apenas 24% de quem tem entre 5 e 17 anos são leitores, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, lançada em 2020. Entre os adultos, esse percentual chega a 60%.
O objetivo de Flávia é contribuir com livros que abordem temas sociais e relevantes, mas com teor lúdico e com leveza. A escolha por temas feministas, anti racistas, anti homofobia e anti transfóbicos veio naturalmente, pelas suas vivências.
“Geralmente eu lido com esse temas, mas não tive muito contato com eles quando era criança. Então, tento transmitir de uma forma mais ‘fofa’ questões que fazem as crianças e os adultos refletirem, afinal eles também podem aproveitar de alguma forma a narrativa”.
O trabalho mais recente da artista foi a ilustração do Manual de Penteado para Crianças Negras, publicado pela Companhia das Letrinhas, que conta a história do cabelo crespo e do cabelo cacheado e dá dicas para as crianças de como deixá-los ainda mais bonitos.
Em Histórias para Inspirar Futuras Cientistas, ilustrado por Flávia e escrito por duas profissionais da FioCruz, a artista usa o traço para retratar a trajetória de 13 mulheres pesquisadoras importantes na saúde.
Já no livro Janta da Anta, as gravuras ajudam a contar de forma lúdica a história de espécies de animais brasileiros ameaçados de extinção.
E se engana quem acha que o trabalho de Flávia termina nas ilustrações. A artista também é escritora e publicou um livro coletivo, por meio de campanha da Catarse, chamado Quando Descobri que Era Menina. Nele, Flávia e outras autoras contribuem com ilustrações e narrativas sobre as primeiras percepções das diferenças de gêneros.
“Cada uma ilustrou o momento em que se deu conta de que não podia fazer coisas que os meninos faziam”, detalha.
Mas essa não foi sua primeira publicação: em 2019, lançou seu primeiro quadrinho independente, o Maré Alta, na feira nerd Comic-Con (CCXP) de 2018. O livro retrata sentimentos, sobretudo ansiedade, a partir do relacionamento de duas meninas.
O instagram oficial de Flávia reúne diversas ilustrações da artista, desde fanarts, zines e frases motivadoras, até mensagens de autocuidado. “Eu acho importante abordar temas sociais com as infâncias, de uma forma acessível, para que as crianças participem dos debates”.
Jornalista formada pela Uninove. Capricorniana raiz. Poetisa. Ama natureza e as pessoas. Adora passear. Quer mudar o mundo e tornar o planeta um lugar melhor por meio da comunicação. Correspondente de Cidade Ademar desde 2021. Em agosto de 2023, passou a fazer parte da Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project.
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