Zeca Ferreira/Agência Mural
Por: Zeca Ferreira
Notícia
Publicado em 11.03.2022 | 12:28 | Alterado em 27.02.2024 | 16:57
Após 60 dias operando sob supervisão da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), a Via Mobilidade, consórcio formado pelos grupos CCR e Ruas, completou um mês de administração efetiva das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda no dia 27 de fevereiro.
A concessionária é a primeira empresa privada a gerenciar linhas de trens metropolitanos em São Paulo, sendo que a permissão tem prazo de 30 anos. O início da concessão privada à frente das vias, no entanto, está sendo marcado por falhas na operação, transtorno aos passageiros e um acidente fatal.
Na madrugada da última quinta-feira (10), um funcionário da Via Mobilidade morreu em um acidente na estação de Pinheiros durante manutenção de rotina da linha 9-Esmeralda, que circula entre as estações Grajaú, na zona sul da capital, e Osasco, na Grande São Paulo.
No mesmo dia, por volta das 6h, um trem da linha 8-Diamante colidiu contra a barreira de proteção da estação Júlio Prestes, na região central da cidade. O condutor e um passageiro receberam atendimento no local e foram encaminhados a um hospital para avaliação médica.
Para José Claudinei Messias, presidente do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana, a rapidez no processo de concessão e o pouco tempo de treinamento dos funcionários da Via Mobilidade são aspectos importantes para explicar o grande volume de falhas e acidentes.
“É necessária muita especialização para o trabalho nas ferrovias. Não se forma um profissional em poucos meses”, afirma Messias.
“Foi preciso ter um grave acidente e uma vítima fatal para deixar claro o quanto têm sofrido os profissionais contratados para operar e realizar a manutenção dessas linhas.”
José Claudinei Messias, presidente do Sindicato dos Ferroviários da Sorocabana
No início deste mês, outras duas grandes falhas ocorreram na linha Esmeralda. Na sexta-feira passada (4), os trens pararam de funcionar devido a um problema no sistema de alimentação elétrica. Dois dias antes, na quarta-feira (2), a paralisação aconteceu por conta de um princípio de incêndio em cabos externos entre as estações Santo Amaro e Granja Julieta.
O sistema Paese (Plano de Apoio entre Empresas em Situação de Emergência) precisou ser acionado em ambos os casos. Com isso, os passageiros foram transferidos para ônibus lotados para completar a viagem.
Ainda no dia 2, os trens da linha Diamante circulavam com velocidade reduzida e maior tempo de espera entre as estações Jandira e Barueri. O problema na operação ocorreu por causa de complicações na rede aérea, sistema responsável pela transmissão de energia elétrica para a movimentação dos trens.
Desde o início da concessão para a iniciativa privada, houve 24 falhas nas linhas 8 e 9, de acordo com um levantamento feito pela TV Globo. Para efeito de comparação, foram registradas 15 ocorrências em 2021.
Entre as sete vias de trens metropolitanos, as linhas 8 e 9 são responsáveis por 35% da demanda – transportando cerca de 1,1 milhão de passageiros por dia útil, segundo o último relatório administrativo da CPTM anterior à pandemia de Covid-19.
Moradora da Vila Natal, na zona sul de São Paulo, a empregada doméstica Ana Claudia Alves, 50, costumava utilizar a linha Esmeralda todos os dias úteis para chegar ao trabalho em Moema, na zona centro-sul da cidade.
Ela conta, no entanto, que trocou o transporte sobre trilhos por dois ônibus devido às constantes falhas na operação e a percepção de que houve uma diminuição na frequência dos trens.
“O trem costumava ser mais rápido. Sempre cheio [no horário de pico], porém, pelo menos, era rápido. De um tempo para cá, comecei a perceber um aumento no tempo de espera”, diz.
Já a farmacêutica Andressa Limo Moisés, 26, reclama que, além do aumento no tempo de espera, os trens da linha Diamante, com destino a Itapevi, constantemente seguem viagem somente até a estação Barueri.
Para completar o destino, que inclui mais seis estações, os passageiros precisam trocar de plataforma e esperar outro trem, conforme explica a moradora do Jardim Planalto, em Carapicuíba, na região oeste da Grande São Paulo.
“Todo esse processo [de trocar de trem em Barueri] demora uns 10 minutos. Na semana passada aconteceu duas vezes, mas está assim desde o começo do ano. Parece pouco, mas esse tempo é o que faz o trabalhador se atrasar”, relata Andressa.
Outra queixa frequente dos usuários, principalmente na linha 8-Diamante, é que os trens foram substituídos por modelos mais antigos, sem passagem entre os vagões, o que diminui a área útil dos veículos e atrapalha a distribuição dos passageiros.
De acordo com a CPTM, os trens que circulavam nesta linha foram transferidos para a linha 11-Coral, já que a concessão para a administração privada não inclui os veículos.
A Via Mobilidade, por sua vez, afirmou que adquiriu 36 novos trens e que o primeiro deles “será entregue no segundo ano de concessão, seguindo um cronograma definido no contrato”.
Sobre as constantes falhas na operação, a concessionária respondeu à Agência Mural que “nos próximos meses, as principais mudanças, capazes de conferir mais estabilidade às linhas, já poderão ser sentidas” e que está apurando as causas da recente colisão da linha 8-Diamante.
Por fim, complementou afirmando que a segurança dos passageiros é um compromisso da empresa e que lamenta da morte do colaborador ocorrida nesta semana.
Estudante de jornalismo na Universidade de São Paulo. Filho de migrantes nordestinos, acredita que a informação tem o poder de transformar realidades. Correspondente de Carapicuíba desde 2021.
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