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‘A feira é uma resposta à tentativa de dificultar o acesso ao livro’, diz criadora da Felizs

Feira Literária da Zona Sul chega a sexta edição nesta sexta-feira (4), com adaptações online e participação de ativistas, escritores e indígenas brasileiros

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Divulgação

Por: Lucas Veloso

Notícia

Publicado em 04.09.2020 | 10:51 | Alterado em 05.09.2020 | 15:31

Tempo de leitura: 4 min(s)

Se fosse uma criança, a Felizs (Feira Literária da Zona Sul) estaria na chamada primeira infância, com seis anos, aprendendo as primeira palavras enquanto tenta executar outras tarefas. Mas com essa idade, o evento da zona sul de São Paulo se consolidou e hoje representa um dos mais significativos marcos da literatura na periferia paulistana. 

Nos últimos meses, a ideia era que a Felizs fosse presencial, como nos últimos anos, mas a pandemia impediu os planos. O evento se adaptou e a partir desta sexta-feira (4) até 27 de setembro haverá uma programação virtual com 54 atividades com escritores das periferias e de outros países. 

O tema da sexta edição é “O que te alimenta?”. Em meio à pandemia e a falta de comida, a ideia é abordar as diversas formas de ‘alimento’ do corpo e da alma e alternativas de bem viver – com qualidade. 

O objetivo é abordar os saberes tradicionais que alimentaram os primeiros habitantes de territórios como periferias e favelas. Mostrar também a abundância de ancestralidade e recursos científicos e sociais que precisam ser compartilhados com as novas gerações. 

“Num momento tão crítico como esse que estamos vivendo na história do Brasil, manter a Felizs na ativa é uma resposta à tentativa de dificultar o acesso ao livro, como a promessa de taxação por parte do governo e também ao fomento de projetos culturais que afetam principalmente as ações culturais criadas, organizadas e consumidas por moradores das periferias”, ”, destaca a psicóloga e criadora da feira Diane Padial.

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Diane Padial é uma das criadoras da Feira Literária da Zona Sul @Divulgação

A produtora cultural Suzi Soares, 54, enfatiza que o desejo da organização era outro, mas a pandemia exigiu que pensassem em alternativas para o formato. “Não teremos o encerramento na Praça do Campo Limpo, que era nossa grande apoteose, marcada pelos encontros, pelos abraços, pela festa em si e isso faz com mude totalmente a maior característica da Felizs”. 

Um dos desafios do evento é o funcionamento da internet, que na periferia chega mais lenta. “É um grande temor, porque esta instabilidade, que pode acontecer com a internet de qualquer convidado, pode ser um grande fiasco, mas apesar disso, vamos correr riscos assim como todos que têm realizado eventos online têm corrido. Faz parte também”, aponta Suzi.

As mesas serão apresentadas nas páginas da Felizs no Youtube e no Facebook. A programação está no site da feira.

No evento anual na praça do Campo Limpo, zona sul da capital, um espaço era dedicado aos livros, com dezenas de autores e suas obras. Na versão online, a equipe da feira criou um formulário em que autores e editoras podem preencher com informações sobre os livros. 

Os materiais serão divulgados nas páginas da feira ao longo do mês de setembro. “Desta forma tentamos compensar a ausência física do livro, que é o elemento principal da Felizs”, acrescenta Suzi. “As pessoas poderão ter acesso a estes livros e autores e poderão adquirir através de suas páginas”. 

‘DESIGUALDADES EM DEBATE’

Na programação, alguns nomes famosos da literatura participam dos debates, entre eles o líder indígena e ambientalista Ailton Krenak, escritor considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro. De Portugal, participa o professor escritor Boaventura de Sousa Santos. 

A agricultora e liderança indígena da Aldeia Kalipety Jera Guarani, a também escritora Maria Vilani e o padre Júlio Lancellotti são outros nomes confirmados nesta edição. 

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Padre Julio Lancelotti é um dos participantes @Léu Britto/Agência Mural

“A nossa programação está repleta de convidados que trarão importantes contribuições sobre o cenário das desigualdades sociais que afetam os moradores das periferias. Todos eles compreendem a literatura como um instrumento pedagógico que nos alimenta de conhecimento e possibilita compreender outras realidades”, diz Diane Padial, 

O show de abertura desta edição será realizado nesta sexta-feira (4) e fica por conta da banda Veja Luz, um grupo de artistas enraizados no movimento cultural de Taboão da Serra e do Campo Limpo.

Em 5 de setembro, segundo dia da programação, o Sarau do Binho mantém a tradição de realizar a abertura com uma série de intervenções poéticas dos artistas que compõem o coletivo. 

“O calor humano do sarau é algo marcante e quem já veio nos assistir e interagir no Espaço Clariô de teatro conhece essa energia. No ambiente virtual, vamos tentar passar esse espírito para não perder a nossa essência de transmitir boas energias por meio da arte”, destaca Robson Padial, 56, o Binho.

MULHERES HOMENAGEADAS

Neste ano, a homenageada é a professora Ute Craemer, fundadora da Associação Monte Azul e difusora da antroposofia (‘ciência espiritual’ que se coloca como um caminho em busca da verdade para cobrir as lacunas da fé e da ciência) no Brasil. Desde 1975, Ute se dedica a promover projetos e espaços de fortalecimento social, educacional e cultural para moradores do Jardim Monte Azul, na zona sul.

A feira também lembra da atriz, articuladora e produtora cultural Maria das Dores Rodrigues Nascimento, mais conhecida por Dora Nascimento ou Dorinha, que integrava a equipe de profissionais do evento literário.

A ex-coordenadora da Casa de Cultura do Campo Limpo, equipamento público de cultura localizado na zona sul de São Paulo, morreu em 22 de agosto deste ano, em decorrência de um câncer no pâncreas. Na Felizs, Dorinha atuava como produtora cultural. 

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Lucas Veloso

Jornalista, cofundador e correspondente de Guaianases desde 2014.

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