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Qual a relação entre saúde mental e pobreza?

Magno Borges/ Agência Mural

Por: Jacqueline Maria da Silva

A conjuntura sócio econômica do país pode afetar a saúde mental ou agravar problemas das pessoas mais pobres. Isso porque essa população, que compõe grande parte dos moradores das periferias, vivencia situações de desigualdades e falta de acesso à direitos básicos, como educação, segurança, e até alimentação. É o que defende o psicólogo Luiz Henrique Santana, 25 de Itaquera, zona leste de São Paulo.

“O indivíduo vive ‘como dá’ e vai deixando de lado sua autonomia e suas vontades”, diz, lembrando que um cenário de privações acaba interferindo em como a pessoa se enxerga no mundo e nas perspectivas futuras que ela constrói para a vida.

É comum a sensação de não ser contemplado por “conquistas” ou de não acessar direito, como emprego ou moradia. Segundo Santana, isso acaba gerando um processo de culpabilização ou percepção de não merecimento, a famosa Síndrome do Impostor, que pode caminhar para um processo de adoecimento psicológico.

O acesso à saúde pública é outro ponto de atenção. As Unidades Básicas de Saúde(UBSs) e os Centro de Apoio Psicossocial (CAPs) oferecem acolhimento e grupos terapêuticos, mas devido a demanda, não suportam o atendimento individual prolongado, necessário para muitas pessoas.

Onde buscar atendimento?

Na UBS do seu bairro: é possível marcar uma consulta com o médico generalista para que ele descarte outros problemas de saúde. Se necessário, ele encaminhará o paciente para um especialista em saúde mental, como psicólogo ou psiquiatra da UBS.

No CAPS da sua região: esse serviço é público, gratuito e para todos os que necessitem. É possível acessá-lo caso perceba sintomas que têm relação com quadros psíquicos.

Nas clínicas escolas: em geral, as universidades com curso de psicologia oferecem atendimento psicológico gratuito ou com baixo custo.

Evidências da relação entre vulnerabilidade e saúde mental

1

Um estudo publicado em 2021, em uma revista científica europeia, mostrou que que crianças em situação de pobreza têm maior propensão de desenvolver transtornos mentais na vida adulta pela exposição a fatores estressantes. A pesquisa foi feita com crianças brasileiras em idade escolar, que foram acompanhadas por sete anos pelos pesquisadores.

2

A pesquisa “Associação entre pobreza e transtornos mentais no brasil: revisão integrativa entre os anos 2011-2022“, levantou diversos estudos que revelaram a relação entre a baixa renda e desenvovimento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e até ideação suícida, sobretudo em pessoas do sexo feminino, afrodescendentes e indígenas.

3

O último Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostra que questões estruturais e sociais impactam tanto quanto as orgânicas no surgimento de doenças mentais. Ao passo que uma boa estrutura social, como acesso a serviços, justiça social, igualdade de gênero, segurança econômica, boa nutrição, rede de apoio e até espaço verde são fatores de proteção.

Esta reportagem foi produzida com apoio daReport For The World

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