Área provisória criada por conta das obras do monotrilho é criticada por ciclistas da zona sul da Capital
Orley Gonçalves/Arquivo Pessoal
Por: Cleberson Santos
Notícia
Publicado em 14.09.2020 | 21:56 | Alterado em 27.02.2024 | 16:57
A ciclovia da Marginal Pinheiros já é uma velha conhecida dos paulistanos. No entanto, o período de pandemia de Covid-19 ampliou as diferenças em trechos da via, sobretudo para quem vem de bairros da zona sul da capital.
Enquanto a região entre Villa Lobos e Vila Olímpia foram reformadas, um trecho criado do outro lado do rio entre as pontes Cidade Jardim e do Socorro, segue abandonado.
É o que relatam ciclistas que circulam pelo local e utilizam a via como meio de chegar ao trabalho. Diferentemente do lado da CPTM, a chamada margem oeste não tem portões nem horário restrito de funcionamento, e a sinalização não segue os padrões do Conselho Nacional de Trânsito.
“O lado é largado, perigoso, escuro, tem muitos assaltos. Falta tapar buracos, restringir a circulação de carros que não estão a serviço. Infelizmente, muita gente frequenta e não sabe o perigo que é”, conta o porteiro Orley Gonçalves, 43, morador do Jardim Ângela, na zona sul. Ele trabalha na Vila Olímpia e usa diariamente a via.
O trecho é importante para moradores das periferias na zona sul de São Paulo que acessam a via para chegar à zona oeste. Orley faz parte de um grupo no WhatsApp chamado “Pelotão dos Trabalhadores”, que desde 2017 une pequenos grupos de ciclistas para pedalar juntos pela margem oeste e tentar evitar os assaltos. De acordo com Orley, o grupo conta hoje com 73 participantes.
“Geralmente, vamos entre três e sete pessoas. Marco o horário pelo WhatsApp e os espero na Ponte Cidade Jardim por alguns minutos para sair juntos”, completa o ciclista.
FAIXA PROVISÓRIA HÁ ANOS
A faixa exclusiva para uso de bicicletas entre o Rio Pinheiros e os trilhos da linha 9-esmeralda da CPTM existe há mais de 10 anos. Porém, tem mudado por causa de obras na região.
Quem frequenta a ciclovia hoje sabe que ela é praticamente “três em uma”. Inicialmente, ela partiria da zona sul até a zona oeste. Porém, desde a obra da linha 17-Ouro do Metrô, um trecho desse trajeto foi interditado.
Logo, são três partes, uma que vai da Avenida Miguel Yunes (entre as estações Autódromo e Jurubatuba) até a Ponte João Dias, na zona sul da capital.
A partir daí, a faixa é interditada por conta das obras de construção do monotrilho, podendo ser utilizada novamente entre as estações Vila Olímpia e Villa Lobos-Jaguaré, na zona oeste.
Uma outra via foi criada para quem utilizava o trecho interditado. Desde 2013, o Metrô forneceu uma opção aos ciclistas que precisam fazer este trecho e criou uma ciclovia nas margens do outro lado do Rio Pinheiros.
Desde então, é possível entrar na margem oeste pela Ponte do Socorro. Outra opção é usar a ciclovia da CPTM até a Ponte João Dias, subir uma escada que dá acesso à ponte e atravessá-la para entrar no trecho que vai até a Ponte Cidade Jardim.
Mas esta ciclovia, que deveria ser provisória, em nada se assemelha com a “irmã” do lado da CPTM.
De acordo com Paulo Alves, 35, do coletivo Bike Zona Sul, a margem oeste não possui nenhuma estrutura de apoio, além de dever em questões como segurança, zeladoria e limpeza.
“Apesar da sua importância, potencial de extensão, conexão com outras ciclovias e até mesmo de transformação em um grande parque linear, atualmente a ciclovia da margem oeste é uma estrutura abandonada pelo poder público”, aponta Paulo, que atua há sete anos na luta pró-mobilidade.
Na ausência de ação do Metrô, são os próprios ciclistas que prestam auxílio uns aos outros. Anderson Sampaio, 44, faz parte do QG das Capivaras, um grupo que montou uma bicicletaria debaixo da Ponte Cidade Jardim em 2018.
O espaço, feito de móveis descartados e palhas de coqueiros, oferecia pequenas manutenções e descanso aos ciclistas, mas tiveram de deixar o local, após pedido da proprietária dos terrenos nas margens do rio.
Desde então, o movimento se estruturou como ONG e trabalha no apoio a trabalhadores que dependem da bicicleta como meio de transporte ou sustento.
“Uso a ciclovia já há cinco anos, tanto para ir ao trabalho quanto para lazer ou viagens. Mesmo não estando com o QG lá na Cidade Jardim, sempre ajudo quem passa por ali. Várias peças que eram do QG estão na minha casa”, diz.
“Outro dia passei por um rapaz com pneu furado, ajudei o cara. Muita gente me procura para doação de peças também”, ressalta. Ele mora na região do Rio Bonito e trabalha como motorista na Avenida João Dias.
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REFORMAS APENAS DE UM LADO
Durante a quarentena, a ciclovia da Marginal Pinheiros ficou fechada por 140 dias, sendo reaberta em 3 de agosto. A Farah Service, empresa responsável pela gestão e manutenção dos 21,5 km da via, realizou uma série de reformas no trecho original da faixa.
Os banheiros e pontos de apoio foram reformados, houve correção do asfalto em oito pontos de erosão, retirada de algumas lombadas e reformulação da entrada na Avenida Miguel Yunes. Sobre a margem oeste, a empresa não tem responsabilidade.
“A gente entende que ali é uma extensão da ciclovia e queremos que, pelo menos, aconteça uma outra licitação para alguém participar e pegar o lado de lá”, afirmou à Agência Mural, Michel Farah, CEO e fundador da Farah Service, empresa que cuida da ciclovia da CPTM.
“A gente falou com o governador e eles enviaram uma viatura que ficou uns dias lá para coibir os furtos”, explica Michel.
Sobre a outra margem, o empresário afirma que os próximos passos são a reforma da passarela que dá acesso ao Parque Villa Lobos e a colocação de postes de iluminação, o que permitiria a extensão do horário de funcionamento da faixa – atualmente fica aberta entre 5h30 e 18h30.
Questionado a respeito das questões que envolvem o trecho oeste da ciclovia, o Metrô afirma que “realiza reparos corretivos no asfalto e que, assim como as demais ciclovias da cidade de São Paulo, ela está em área aberta e de livre circulação, compartilhando a iluminação da própria via onde se encontra”.
De acordo com Paulo Alves, a iluminação da calçada da Marginal Pinheiros é “nula” dentro da ciclovia: “o único trecho mais ou menos iluminado é quando passa por baixo das pontes”.
Sobre a duração do bloqueio da ciclovia entre as estações Granja Julieta e Vila Olímpia, o Metrô afirma que “o bloqueio será desativado assim que concluídas as obras da Linha 17, cujo cronograma depende das obras de acabamento das estações e via, que estão sob-júdice”.
A previsão original era de que estes trechos ficariam interditados entre 2013 e 2015. O Monotrilho que ligará a Estação Morumbi ao Aeroporto de Congonhas era uma das obras presentes no projeto da cidade para a Copa do Mundo de 2014.
Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.
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