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Poeta da periferia lança videoclipe sobre Cidade Linda

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Por Lívia Lima | 27.04.2017

Publicado em 27.04.2017 | 15:14 | Alterado em 11.06.2018 | 11:47

Tempo de leitura: 3 min(s)

“Essa cidade é uma droga. Quanto mais conheço, mais quero ir embora. É tóxica, bruta, machuca. Dá tristeza, stress, depressão. É o mal do século”

O poeta e educador Victor Rodrigues, 27 anos, é morador do bairro A.E .Carvalho, na zona leste de São Paulo, participa do movimento de literatura periférica e circula pelos saraus em toda a cidade. Com dois livros publicados, sendo um deles em três volumes, o autor lançou recentemente um vídeo com um de seus textos, inspirado no projeto Cidade Linda da Prefeitura de São Paulo.

O poeta Victor Rodrigues, morador da ZL, que tem dois livros publicados — Divulgação

“Victor Rodrigues e Cidade Linda” é a mais recente produção do poeta. No videoclipe, produzido por Vras77 e Anna Bitelli, e trilha sonora de Alexandre Moraes, o artista expõe sua relação com a cidade onde cresceu e construiu sua poesia. O texto original foi publicado em 2014 no seu livro “Aprender Menino”, último volume dos três do processo de aprendizagem iniciado em 2012 com o projeto “Praga de Poeta”.

Confira abaixo o depoimento do escritor Victor Rodrigues sobre sua relação com a cidade e o videoclipe:

“Há muitos anos, principalmente depois que comecei a circular fazendo poesia, tenho pensado a respeito de morar em São Paulo. Nasci e cresci na periferia da cidade, na ZL, e até meus 20 anos conhecia muito pouco da metrópole. Por muito tempo da minha vida me limitava ao ‘meu lugar’. Trabalhando por aqui, no máximo indo ao shopping de finais de semana. Fui aprender a andar na Paulista aos 20. Pisei pela primeira vez na Vila Madalena aos 22. Isso falando de centro, de lugar ‘cult’. Nessas andanças, me reconheci em outros lugares também. Na sujeira da República, das galerias. Nos botecos do Bixiga, no Glicério. Peguei na zona Sul todos os ônibus e trens que ouvia nas músicas do Racionais. Conheci Pirituba. Cachoeirinha. Brasilândia. A própria ZL como um todo.

Essa cidade é uma droga. Quanto mais conheço, mais quero ir embora. É tóxica, bruta, machuca. Dá tristeza, stress, depressão. É o mal do século. Mas quanto mais conheço, mais sou ela e mais quero ser. Os encontros. Os riscos. Não tenho orgulho nenhum de morar aqui. Não mesmo. Queria ter nascido no mato. Mas já nasci preso. E é como dizem, demora pra perceber e querer sair.

Ultimamente o orgulho de morar aqui está cada vez menor. A cidade se tornou uma ironia. O prefeito é um imbecil. Tão irônico quanto, mas uma ironia que não dá poesia, só desgosto. E a cidade está indo nessa onda. ‘Linda’. E quando falo cidade, falo pessoas. Parece que todo mundo vai explodir. Quer explodir. As próprias casas. Cheias de cercas. Tá todo mundo armado pra atirar no pé, primeiro de quem tá do lado, depois no próprio. Achando que tá sendo ‘de bem’. Eu realmente odeio esse lugar.

É bem provável que num futuro próximo seja proibido andar a pé se não for pra trabalhar. Aquela lei da vadiagem, sabe? Ouvi uma notícia hoje de um programa do ‘Bar Legal’, mais uma babaquice do nosso prefeito decorativo. De fechar tudo 23h pro cidadão de bem dormir. Querem esconder tudo que for possível, pra filmar pra propaganda só o que for limpinho pro gringo comprar. Vão fantasiar as pombas de tucanos. Só vai poder arte que passe na televisão. De tapinha nas costas e vida bonita. Aproveitei enquanto ainda posso pra fazer esse vídeo.

Esse texto escrevi há alguns anos, depois de algumas boas horas cruzando a cidade e parando pra tomar uma sozinho no centro. Senti vontade de levar além. Já disse, odeio esse lugar. Mas foi esse lugar que me construiu. Foi com essas pessoas que atiram umas nas outras que convivi a vida inteira. Infelizmente eu sou isso também. Ando tentando mirar melhor, mas tem espelho e câmera em todo lugar. O poema é um respiro olhando pra isso. Vou chorar a cidade até a última garoa. Mas não vou chorar quieto. Pelo menos enquanto achar que ela ainda existe”.

Confira o clipe abaixo:

Lívia Lima, moradora de Artur Alvim, é editora da Agência Mural de Jornalismo das Periferias

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