Pesquisa da Rede Nossa SP mostra preocupação dos paulistanos com a cidade; 61% cita falta de cumprimento do isolamento social
Por: Lucas Veloso | Ana Beatriz Felicio
Notícia
Publicado em 08.05.2020 | 8:52 | Alterado em 11.05.2020 | 13:44
Pesquisa da Rede Nossa SP mostra preocupação dos paulistanos com a cidade; 61% cita falta de cumprimento do isolamento social
Tempo de leitura: 4 min(s)Gilmar Antonio de Sousa, 56, mora há mais de 40 anos no Capão Redondo, zona sul de São Paulo. Baseado em sua história na região, ele está preocupado com a situação do avanço do novo coronavírus nas periferias, sobretudo no Jardim Valquíria, onde atua como líder comunitário.
Para ele, falta ‘mais empenho do poder público para intensificar informações’ nas comunidades mais pobres da capital. Caso essas ações não se concretizem, sua previsão é a de que ‘o mundo irá assistir a maior carnificina dentro das comunidades’.
Como o líder comunitário, 81% dos paulistanos acreditam que os moradores das periferias de São Paulo vão sofrer mais por causa da pandemia do coronavírus do que os moradores das outras regiões.
O dado está na pesquisa Viver em São Paulo – Especial Pandemia, divulgada nesta terça-feira (5) pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope Inteligência. O levantamento mostra a percepção dos paulistanos sobre os impactos da Covid-19 na cidade e as medidas adotadas por agentes do poder público para conter o avanço da doença.
“Os governos federal e estadual estão mais preocupados em medir forças entre eles do que cuidar do povo das periferias”, critica Gilmar.
Na zona leste da cidade, o geógrafo e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ricardo Barbosa da Silva também vêm acompanhando como o coronavírus está chegando nas periferias da capital e fazendo mapas com os dados públicos divulgados.
“Eu percebi que tinha muita gente na rua e comecei, por conta própria, a buscar informações e dados que pudessem conscientizar a população da importância de ficar em casa”, conta.
Ele observa que nas periferias já estão morrendo mais pessoas do que no centro. “Por mais que não seja onde as pessoas mais se contaminem, são nas periferias onde mais morrem”.
Os dados reforçam que os casos confirmados de coronavírus avançam nas periferias da cidade de São Paulo e seguem uma curva de crescimento. Em matéria de 23 de abril, um levantamento feito pela Agência Mural mostrou que a letalidade da Covid-19 em periferias de SP era cinco vezes maior que a média do país.
Dentro da cidade, a própria prefeitura admitiu que há regiões da cidade onde a doença tem sido dez vezes mais perigosa do que em bairros com mais estrutura.
De acordo com o professor, esse processo acontece devido a desigualdade presente nesses locais e as insuficiências de infraestrutura e serviços públicos, como na própria saúde.
“Há um problema muito sério envolvendo hospitais e de leitos hospitalares nas áreas periféricas. A gente também tem que levar em consideração que há uma diferença nessas condições, que são condições mais precárias e muitas vezes os trabalhadores da saúde não contam com os equipamentos necessários para se proteger e cuidar da população”.
OUTROS DADOS
No estudo, a Rede Nossa São Paulo contou com o suporte do Ibope Inteligência, responsável pelas entrevistas online. O levantamento ouviu 800 pessoas com idades a partir de 16 anos durante a quarentena na capital paulista, entre os dias 17 e 26 de abril, das classes A, B e C. A pesquisa tem margem de erro de três pontos percentuais.
Em relação às vantagens que a cidade de São Paulo dispõe para o enfrentamento da pandemia, a ‘ampla rede pública de saúde’ e os ‘melhores profissionais da área’ são os principais pontos citados pelos entrevistados, ambos com 31%.
Como aspecto negativo, 61% disseram que a principal desvantagem é que muitas pessoas não cumprem o isolamento. A principal preocupação citada sobre a Covid-19 é sobre o impacto na saúde de familiares.
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No Jardim Guarujá, na zona sul da cidade, a estudante de enfermagem Luanna Freire, 21, vêm acompanhando muitos vizinhos do bairro não respeitarem a recomendação de permanecer em casa. “Têm alguns que deram festas nessa quarentena, nos feriados estão fazendo churrasco. Estão agindo como se a vida estivesse normal, como se não tivesse nada acontecendo”, lamenta.
Para ela, o maior problema nisso é que o seu bairro não possui o mesmo suporte que os mais centrais. “Estamos entre dois hospitais que já estão em colapso, que é o hospital do Campo Limpo e do M’boi Mirim. Isso não vai passar pra gente tão cedo”.
Entre os entrevistados, 69% concordam (totalmente ou em parte) que, se não fosse o SUS (Sistema Único de Saúde), as consequências do coronavírus seriam piores.
Para a Coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães, esse momento de crise está fazendo com que as pessoas reconheçam a importância desses sistemas universais, como o de saúde.
“É um ganho de consciência neste momento, para as pessoas verem como o SUS é importante e poderem pensar em como apoiar politicamente esse sistema, porque o orçamento dele vinha sendo reduzido e agora está se mostrando como o grande salvador de vidas”.
Jornalista, curiosa, já foi apresentadora do Próxima Parada. Gosta de conhecer pessoas novas e descobrir o que as motiva a acordar todos os dias. Correspondente de Carapicuíba desde 2018.
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