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Opinião: plano de flexibilização da quarentena em SP ignora proximidade das cidades

Governo do Estado parece brincar de colorir o mapa e se esquecer da proximidade das cidades da Grande São Paulo

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Andressa Menezes/Arquivo Pessoal

Por: Ana Beatriz Felicio

Opinião

Publicado em 29.06.2020 | 19:25 | Alterado em 29.06.2020 | 19:33

RESUMO

Governo do Estado parece brincar de colorir o mapa e se esquecer da proximidade das cidades da Grande São Paulo

Tempo de leitura: 3 min(s)

Desde março, um casal que administra um restaurante em Carapicuíba adaptou o modelo de atendimento para delivery, por causa da quarentena em prevenção ao coronavírus.

Apesar de seguir as regras, nas últimas semanas, quase diariamente aparece alguém dizendo que quer almoçar dentro do estabelecimento. Pedem para baixar “só uma mesinha” porque comer no local é mais agradável do que levar a marmita para casa.

Esse tipo de pedido tem sido cada vez mais comum em boa parte da Grande São Paulo desde o início da reabertura da economia, mesmo com o município, em tese, fora da possibilidade de reabertura. 

Na última sexta-feira (26), o governador João Doria (PSDB) anunciou que a capital paulista e mais 14 cidades da Grande São Paulo passariam para fase amarela de flexibilização na retomada da economia, o que autoriza estabelecimentos como bares, restaurantes e salões de beleza a reabrirem a partir do dia 6 de julho, próxima segunda-feira. 

Medida curiosa já que São Paulo segue registrando novos casos da doença, com 275.145 casos confirmados na segunda-feira (29) e com alta no número de mortes. 

Curioso também ver que apesar de próximas da capital, 24 municípios ficaram de fora, caso das cidades da região oeste, como Osasco, Barueri, Jandira, Itapevi e Carapicuíba, que seguem na fase laranja, com mais restrições.

Mais curioso ainda porque os estabelecimentos das categorias liberadas já andam funcionando por aqui há algum tempo.

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Em qualquer ida ao mercado, mesmo com noites mais frias, é  possível ver bares cheios de pessoas sorridentes em tabacarias lotadas. Jovens jogando papo e fumaça para o ar, sem nem ao menos se esconder. 

A percepção de normalidade não é apenas minha, aqui em Carapicuíba, mas também de amigos e colegas das cidades vizinhas. 

Não muito longe dali no polo industrial da região, Alphaville, que fica em Barueri, tudo também parece ter voltado a funcionar se considerarmos o trânsito relatado por trabalhadoras que vão e voltam de transporte público todos os dias.

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Rua Antonio Agu, principal via comercial de Osasco, movimentada após flexibilização @Andressa Menezes/Arquivo Pessoal

CRITÉRIOS IGNORAM PROXIMIDADE

Dentro do Plano São Paulo, a estratégia do governo do estado para reabertura gradual da economia, existem alguns critérios para uma região mudar de nível (ou cor) nas etapas de relaxamento do isolamento. 

As regras são: “média da taxa de ocupação de leitos de UTI exclusivas para pacientes com coronavírus, número de novas internações no mesmo período e o número de óbitos”.

Porém, o governo parece esquecer que as cidades vizinhas são influenciadas por tudo que acontece em São Paulo. Parte importante da economia da capital é movimentada por moradores que saem desses municípios em busca de renda ou para se divertir em São Paulo em algum parque ou shopping. 

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Moradores que se deslocam diariamente até São Paulo, em jornadas de várias horas no transporte público, estão vendo bares, restaurantes e salões de beleza perto de casa fechados, mas na rua de onde trabalham tudo pode ficar liberado. Faz sentido da ponte pra lá ser uma regra e aqui outra?

E se esses estabelecimentos locais seguem fechados por motivo de segurança, faz sentido não haver fiscalização? Faz sentido penalizar a dona do salão de cabeleireiro na minha rua na Cohab que está trabalhando porque sem isso não conseguiria comprar comida, sendo que na cidade do lado pode fazer isso? 

Sinto o discurso culpabilizando os trabalhadores e as pessoas mais pobres, quando quem deveria nortear o debate é o estado, que falha em apontar diretrizes claras que nos deixem seguros. As linhas estão muito tênues, como são as divisões das cidades aqui da região. 

Os mesmos donos de restaurante que conversei também me contaram que um dos seus mais antigos clientes morreu de Covid-19 na última semana. “Ele pedia a feijoada todo sábado. Era um cliente muito gente boa, tinha uma família bonita, era um homem forte. Isso nos chateou muito. A esposa dele que nos contou”. 

Enquanto o Estado colore o mapa em tons diferentes a sensação por aqui é de que estão brincando mesmo é com as nossas vidas.

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Ana Beatriz Felicio

Jornalista, curiosa, já foi apresentadora do Próxima Parada. Gosta de conhecer pessoas novas e descobrir o que as motiva a acordar todos os dias. Correspondente de Carapicuíba desde 2018.

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