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Motoboys nas periferias de SP relatam cuidados para se proteger da Covid-19

Moradores que trabalham com delivery nas periferias redobram cuidados para proteger família e falam sobre os dias de trabalho com a pandemia

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Arquivo Pessoal

Por: Giacomo Vicenzo

Notícia

Publicado em 08.06.2020 | 18:11 | Alterado em 27.02.2024 | 16:22

RESUMO

Moradores que trabalham com delivery nas periferias redobram cuidados para proteger família e falam sobre os dias de trabalho com a pandemia

Tempo de leitura: 3 min(s)

Desde o início da pandemia de Covid-19, Márcio Reis, 43, circula pelas ruas de Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, com receio da contaminação pelo vírus. “Sempre que estou saindo de casa minha mãe me diz para ficar”, lembra ele.

Reis trabalha entregando almoço durante o dia para um restaurante e à noite lanches de uma hamburgueria. O medo se acentua quando tem que fazer entregas em uma UBS (Unidade de Saúde Básica) ou no hospital do bairro.

“Quando eu entro lá [UBS] eu não encosto em nada. Tem o álcool em gel lá deles que eu passo e passo até com medo só de colocar a mão onde aperta, dá medo”, lembra. “Outro dia tive que fazer uma entrega no Hospital Cidade Tiradentes e entreguei o lanche para a médica, eu nunca tive tanto medo”.

Márcio, que também é historiador, mora com a mãe, a tia, que tem mais de 60 anos, e com o filho adolescente. O maior receio de ser contagiado está em levar o vírus para casa e acabar infectando a família. 

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Márcio Reis é motoboy em Cidade Tiradentes @Arquivo Pessoal

Desde o início, ele segue as dicas do amigo Glauber dos Santos, 38, técnico de farmácia em uma UBS também na região da zona leste de São Paulo.

“Expliquei como procedo ao chegar em casa, limpo a sola do calçado no pano de chão na área externa, entro coloco o calçado na cesta definida pra isso”, explica Santos. 

O técnico em farmácia também tem o hábito de limpar as chaves com álcool em gel e deixar em um recipiente, além de deixar as roupas que estava usando em uma sacola. Ele também evita o contato físico antes do banho.

Doutora em enfermagem pela USP (Universidade de São Paulo), Maria da Silva lembra que os motoboys e entregadores no geral estão expostos ao vírus e os os produtos recomendados para desinfecção são água sanitária ou álcool 70%. 

“Esses profissionais mantém contato direto com pessoas e superfícies potencialmente contaminadas, dessa forma devem aderir às medidas preventivas cuidadosamente”, explica Maria. 

Ela também alerta sobre a higienização de material e equipamentos como bolsas e maletas, antes e depois do turno de trabalho, incluindo motocicleta, capacete, chaves e celulares.  

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Givanil conta rotina durante trabalho na zona leste @Arquivo Pessoal

RISCO E RENDA 

Para Givanil Silva, 29, que também trabalha como motoboy para complementar a renda em uma das pizzarias da região, a preocupação também é grande, mesmo fora da idade ou do grupo de risco.

“O momento de chegar em casa é muito tenso para mim. Até por que não sou imune à essa doença. Evito o contato imediato com minha esposa e meu filho, e vou direto tomar banho”, exclama ele.

De quinta-feira a domingo, Silva trabalha na área de manutenção em um estacionamento na área central da cidade. Para fugir do transporte público lotado ele também usa a moto para se locomover até o local.

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O cuidado maior na hora de falar e entregar os pedidos aos clientes também fazem parte da rotina. “Fico sempre a uma distância considerável do cliente para minha própria segurança e dele também. Sempre ando com meu próprio álcool em gel no bolso”, comenta.

Desde o início da pandemia, tanto Givanil, como todos da família, estão tomando cuidado e saindo apenas em caso de extrema necessidade. “Não me preocupo apenas comigo e sim com minha família também, então não posso esquecer pelo que estamos passando neste momento. Só Deus para nós guardar”, lamenta ele.

MEDO DE CONTAMINAÇÃO

Com fortes dores de cabeça o entregador Márcio Reis precisou ir a um pronto-socorro do bairro. Apesar da preocupação e o medo de ter sido contaminado pelo vírus o problema foi em decorrência de pressão alta, que fez com que ele ficasse afastado uma semana do trabalho.

Quem também passou pelo susto foi o farmacêutico Glauber dos Santos, que apesar do cuidado com a prevenção passou por cinco dias de internação e mais nove de isolamento domiciliar. 

“Tudo começou de uma forma muito incomum, tenho cálculo renal e comecei a ter cólica renal, depois veio cansaço, fraqueza. Depois estava com dor no peito e conjuntivite no olho esquerdo”, lembra.

Apesar de ter procurado uma unidade de saúde, Santos foi medicado e voltou para casa sem ser testado. O sintomas pioraram dias depois e ele precisou ser internado. O teste para Covid-19 deu negativo, mas a profissional de saúde o alertou que pode ter sido um falso negativo. “A médica não descartou ter sido Covid-19 na alta da internação”, comentou ele.

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Giacomo Vicenzo

Jornalista. Acredita no jornalismo como ferramenta de transformação social. Iniciou sua carreira profissional no Datafolha, já publicou no UOL TAB e Revista Galileu. Gosta de contar e ouvir boas histórias. Adora seus gatos de estimação e não consegue viver sem senso de humor. Correspondente da Cidade Tiradentes desde 2018.

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