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Morador de São Miguel cria Carnaval de rua para homenagear antiga associação do bairro

Por: Danielle Lobato

“Ó abre alas, que o povo da Vila Nair quer passar”, manda a letra Anselmo Srraf, 56. Morador do território na zona leste de São Paulo desde que nasceu, o produtor cultural é criador do Carnaval de Rua Matinê da Olaria, que homenageou a antiga Associação Atlético Olaria, fundada em 1955 e extinta em 2018. 

“A sociedade promoveu muitos carnavais para o território. O objetivo de prestar a homenagem veio acompanhado de resgatar a memória afetiva, trazer alegria e o sentimento de pertencimento dos moradores com a região”, diz Anselmo.

Dentre as memórias, ele lembra que a mãe participava dos atos carnavalescos oportunizados pela entidade. “Enquanto eu estava na barriga da minha mãe, ela se alegrava no Carnaval”, lembra o produtor cultural.

Anselmo Srraf, criador do Carnaval de Rua Matinê da Olaria, curte o bloco ao lado de sua esposa Marleide @Danielle Lobato / Agência Mural

A Associação Atlética Olaria foi fundada em 24 de dezembro de 1955 pelos primeiros moradores da Vila Nair e jogadores de futebol, residentes do lado debaixo da linha do trem. Com o passar do tempo, a gestão acabou acumulando dívidas com impostos e outros participantes faleceram.

O antigo prédio da associação passou a ser propriedade do Estado de São Paulo. Atualmente, o espaço é uma creche estruturada e reformada, sem nenhuma lembrança do antigo prédio.

A costureira Sueli Nair, 64, filha do Otávio Camargo, antigo diretor da Associação Atlético Olaria, recebeu a homenagem com alegria. “Meu pai fazia muitas ações em épocas festivas, como doação de brinquedos, alimentos e roupas. Minha mãe Amélia também o ajudava nessas atividades”, conta Nair.

A concentração do bloco no último domingo (19) foi em frente à residência do Anselmo com um repertório de marchinhas antigas direto de uma caixa de som e batucada. Uma decoração carnavalesca com mesas e cadeiras estava à disposição dos moradores, mesclando cores, texturas, glitters e lantejoulas. Também teve brincadeiras com brindes para os participantes.

Moradores aproveitam o Carnaval de Rua Matinê da Olaria @Arquivo / Divulgação

Para suprir os gastos com os adornos, foram feitas duas rifas com 200 números – vendidos a R$ 5,00 cada – com peças diversas, doadas por comerciantes locais, tais como: roupas, tênis, utensílios de casa, decoração e higiene.

De acordo com o calendário oficial da Subprefeitura de São Miguel Paulista, o distrito que abriga a Vila Nair recebeu sete blocos oficiais e itinerantes, mas nenhum com verba pública no bairro.

“Neste período de chuvas a região sofre com alagamentos e enchentes. Trazer um pouco de alegria é importante e faz a diferença. No próximo Carnaval espero conseguir um apoio com edital”, diz Anselmo.

O evento na Vila Nair foi divulgado com postagens nas redes sociais e até criou-se um grupo no WhatsApp com 200 moradores com o convite e detalhes do Carnaval de Rua. “Inseri os vizinhos no grupo e deixei aberto para que eles colocassem amigos e familiares. Afinal o Carnaval é de todos da Vila Nair”, ressalta.

Espaço gelateca fica disponível 24h para empréstimos de livros @Danielle Lobato / Agência Mural

A realização faz parte do projeto Do Lado Debaixo da Linha do Trem, coordenado por Anselmo, desde 2022, com o objetivo de estimular o protagonismo local e fortalecer o território.

O início de tudo veio com a gelateca – geladeira que dispõe de livros para empréstimos gratuitos 24 horas. O equipamento fica em frente à residência do Anselmo e é abastecido por doações de moradores, sendo um ponto de leitura local.

Com o sucesso da iniciativa, o produtor cultural expandiu o projeto com ações temáticas em datas comemorativas. “Fizemos um presépio no Natal de 2022. Agora é o Carnaval, mas quero fazer nas próximas épocas festivas, como a Páscoa ea Festa Junina”, disse Anselmo.

Sobre os desafios de promover atividades no território, Anselmo aponta a dificuldade de fazer com que os moradores participem mais das ações. “Moro aqui há 56 anos. Já vi o quanto o bairro desenvolveu, mas ainda precisamos de mais investimento público e participação de todos”, alega o produtor cultural.

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