Nas periferias, zona leste se destaca com maior aprovação entre moradores que se dizem incluídos nessas regiões; zona norte tem mais descontentes
Léu Britto/Agência Mural
Por: Lucas Veloso | Eduardo Silva | Pietra Alcântara
Notícia
Publicado em 22.01.2020 | 15:01 | Alterado em 23.01.2020 | 14:25
Nas periferias, zona leste se destaca com maior aprovação entre moradores que se dizem incluídos nessas regiões; zona norte tem mais descontentes
Tempo de leitura: 4 min(s)Para a aposentada Anadir Souza, 69, Guaianases é o melhor lugar para se morar em São Paulo. Amante dos bailes da saudade e adepta da ginástica, ela conta que consegue fazer o que gosta perto da casa onde mora há 40 anos. “Não trocaria de bairro”, resume.
Do outro lado da cidade, na zona norte, o operador de máquinas Gerlando Silva Alves, 29, tem opinião distinta sobre a Vila Medeiros, mas porque nasceu e foi criado na área rural. “Eu não gosto da vida urbana. O espaço rural me agrada mais, por causa do ar melhor e dos animais, que poderia ser meu trabalho”.
Os exemplos estão de acordo com os resultados da pesquisa “Viver em São Paulo – Qualidade de Vida”, realizada pelo Ibope a pedido da Rede Nossa São Paulo.
De acordo com os dados, 50% dos moradores da região leste gostam dos bairros onde vivem. O centro ocupa a primeira posição, com 54% dos habitantes satisfeitos.
Por sua vez, a zona norte concentra os mais “desgostosos”, com índice de 28% de rejeição, o maior na comparação da cidade. Apesar disso, o número dos que gostam de viver do lado de lá do Rio Tietê também é maior, 41% aprovam a região.
Também ali, os paulistanos se disseram menos incluídos. Três em cada dez entrevistados responderam não se sentirem componentes na comunidade ou no bairro onde moram.
COMO OS PAULISTANOS AVALIARAM OS BAIRROS ONDE MORAM
Cidade inteira: 46% deu notas de 9 a 10; 29% notas de 6 a 8; 24% de 5 para baixo
Zona leste: 50% deu notas de 9 a 10; 26% notas de 6 a 8; 24% de 5 para baixo
Zona oeste: 47% deu notas de 9 a 10; 32% notas de 6 a 8; 21% de 5 para baixo
Zona sul: 43% deu notas de 9 a 10; 32% notas de 6 a 8; 24% de 5 para baixo
Zona norte: 41% deu notas de 9 a 10; 31% notas de 6 a 8; 28% de 5 para baixo
Centro: 54% deu notas de 9 a 10; 27% notas de 6 a 8; 20% de 5 para baixo
Fonte: Ibope
O levantamento, divulgado nesta quarta-feira (22), mostra a percepção dos paulistanos em relação à qualidade de vida na capital paulista e a confiança que depositam nas instituições, como subprefeituras e Câmara Municipal.
De maneira geral, o estudo indica que os paulistanos com idades entre 35 e 44 anos e os que têm o ensino médio são os que menos aprovam os bairros onde moram. Por outro lado, as pessoas acima dos 45 anos, menos escolarizados e pertencentes às classes D e E são os que mais gostam dos lugares onde vivem.
Para Anadir, Guaianases ainda não oferece atividades para os mais jovens. Ela diz que os parques públicos da região deveriam oferecer atividades para ocupar crianças e adolescentes, como cursos e oficinas. “A gente vê que precisa e não tem muito o que fazer nesses lugares”, avalia.
Na zona leste, a aposentada Alaíde Marchetiii, 80, elogia São Miguel Paulista, pois é ali que ‘dança um forró lascado’, depois que ficou viúva. Por outro lado, critica a ausência de médicos na região. “Não tem médico suficiente para atender os idosos, os que mais precisam. Isso é um problema daqui”, reivindica.
Se tivesse que dar uma nota ao bairro em que mora, Cleber Vinicius, 20, daria 8 ao Jardim Pantanal, no distrito de São Miguel Paulista, na zona leste. Segundo o jovem, apesar da falta de acessos à saúde e educação na região, são os afetos que fazem o bairro melhor.
“Aqui na periferia tem mais união e amizade. As pessoas se ajudam e trabalham juntas”, defende Cleber Vinicius, 20, de São Miguel Paulista.
A manicure Teresa Helena, 28, mora na Brasilândia, zona norte. Uma das reclamações sobre o bairro é a questão do transporte público. Ela mora na região, mas costuma utilizar ônibus para atender as clientes de bairros próximos. “Depois de perder horários e serviços por conta da demora dos ônibus, eu comecei a agendar minutos a mais com as pessoas. Eu chamo isso de ‘minutos do atraso’”, relata.
Em janeiro de 2018, o 32xSP, site produzido pela Agência Mural em parceria com a Rede Nossa São Paulo, mostrou que os corredores de ônibus da zona norte são os mais lentos de SP.
Os registros, entre 2016 a maio de 2017, indicaram que o trecho entre as avenidas Gustavo Adolfo e Guapira ocupava a primeira posição. Em 2016, a velocidade média para os coletivos que passavam por lá era de 8,5 km/h. A Guapira também apareceu na oitava posição na área próxima da Praça Arquiteto Flávio Império.
Ainda na zona norte, a desigualdade/ injustiça social surgiu como um dos aspectos negativos da região, com 13% das menções, atrás da violência (28%) e criminalidade (20%).
Mas há otimismo de parte dos moradores, que ressaltam características como a proximidade da Serra da Cantareira e o ‘ar puro’. É o que afirma o autônomo Márcio de Carvalho, 45, morador da Vila Medeiros, que se diz amante da região. Ele também cita a ‘infraestrutura muito boa’ como ponto positivo. “Eu nasci e cresci aqui. Casei e decidi continuar por aqui”.
Editor-assistente da Agência Mural. Fã de cultura pop, música, gatos e filmes de terror. Correspondente de São Miguel Paulista desde 2017.
Jornalista, social media. Formada em Jornalismo e pós graduada em Styling e Direção de Arte. Amante de brechós e moda 0800. Gosta de gravar stories loucos e assistir vídeos no YouTube. Correspondente da Vila Medeiros desde 2019.
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