Uma “queda de braço” entre militantes do meio ambiente e defensores da moradia tem adiando ainda mais uma solução.
Por: Redação
Publicado em 22.08.2017 | 14:00 | Alterado em 22.08.2017 | 14:00
A Brasilândia, um dos distritos mais populosos da capital paulista, espera há quase 20 anos para que uma área verde da região seja transformada em parque. Uma “queda de braço” entre militantes do meio ambiente e defensores da moradia tem adiando ainda mais uma solução, pois parte do local é ocupada por cerca de 1.500 famílias que aguardam resposta da Sehab (Secretaria de Habitação) sobre a realocação delas para conjuntos habitacionais.
A área verde situada na zona norte da capital, é uma das reservas minoritárias da Mata Atlântica e totaliza 529.000 m². Se for implementado, o parque cobrirá os bairros do Jardim Damasceno, Jardim Brasília, Carumbé e Vila Brasilândia.
Dentre os vários coletivos, um dos mais ativos em defesa da pauta é o Movimento Ousadia Popular, organização que nasceu no ano 2000 com o intuito de lutar por diversas questões voltadas ao meio ambiente: limpeza e conservação das cachoeiras e matas da Serra da Cantareira; cultivo de hortas comunitárias; além da criação do Parque da Brasilândia.
Entre os seus ativistas mais atuantes está o mineiro Quintino Viana, 72, morador da Vila Brasilândia há 47 anos. “É necessário cuidar dessa área por diversas razões. Uma delas é a preservação de 21 minas de água que desaguam em córregos grandes, como o do Onça, o do Bananal e o do Canivete. Estamos sempre fazendo pesquisas sobre as nascentes, verificamos quais ainda não estão contaminadas e onde elas começam a ficar sujas”, explica.
Os poucos espaços de lazer para os jovens da região são outro incentivo para a criação do parque, segundo Viana. “Esperamos mudanças e que o poder público leve a demanda para frente. Isso não pode ficar parado, pois a Brasilândia não tem muitas opções de lazer. Os jovens precisam do contato com o meio ambiente”, enfatiza o morador.
O sociólogo e morador da Vila Brasilândia, Daniel Mariano, 32, após acompanhar de perto e por tantos anos a luta da comunidade pela preservação da área verde, resolveu produzir um documentário que narra a busca por esse ideal, mas não sabe quando finalizará o projeto.
“Eu tenho mais dúvidas do que certezas. Nosso documentário levanta diversos questionamentos. Estou procurando dados por meio da Lei de Acesso de Informação junto à prefeitura, pois ainda falta conteúdo”, conta Mariano.
Segundo o sociólogo, é necessário que haja no documentário um registro cronológico para denunciar a espera da comunidade por um parque, que é inclusive um projeto de lei na Câmara Municipal. O autor dele é o vereador Cláudio Fonseca (PPS). Ainda não há previsão de quando o PL vai ser votado.
Segundo a Prefeitura Regional da Freguesia do Ó/ Brasilândia, as negociações estão paralisadas, considerando que ainda há um diálogo sobre a instalação do parque. O maior impasse seria a verba para a sua implantação e para a realocação das famílias que vivem na área.
Esperança
A permacultora, Ana Suely, 51, que atua também na luta em prol das áreas verdes do distrito da Brasilândia, diz ter conhecido a reivindicação quando esteve no gabinete do então vereador, hoje deputado, Paulo Teixeira (PT).
Na ocasião, Ana não largou mais a causa e assim surgiu a ideia de propor um projeto de lei. Ela conta que foram consultadas lideranças da região, que também assinaram a justificativa do projeto. Este, esteve no Plano Diretor do governo Marta Suplicy, então do PT, e foi ratificada na gestão petista de Fernando Haddad.
“Após tantos anos de reivindicações, não é fácil manter o ânimo”, desabafa Ana. “A luta é para que a gente possa deixar um legado para as futuras gerações, mas está difícil manter as esperanças”.
Fotos: Ronaldo Lages
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