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Funcionários do Hospital de São Mateus, na zona leste de SP, questionam salários e municipalização

Profissionais da saúde apontam receio de que população fique sem atendimentos caso mude administração e citam que não há reajuste desde 2011

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Matheus Oliveira/Agência Mural

Por: Matheus Oliveira

Notícia

Publicado em 04.06.2020 | 18:26 | Alterado em 04.06.2020 | 18:26

RESUMO

Profissionais da saúde apontam receio de que população fique sem atendimentos caso mude administração e citam que não há reajuste desde 2011

Tempo de leitura: 4 min(s)

“Agora na Covid-19 vamos bater palma para enfermagem? Adianta de quê?” questiona Sandra Silveira, 53, técnica em enfermagem do HGSM (Hospital Geral de São Mateus), na zona leste de São Paulo. 

“Meu salário continua lá em baixo e eu estou sendo despejada que nem indigente do hospital que trabalho”, ressalta. Sandra e outras funcionárias temem ser remanejadas do local por conta da proposta de municipalização da unidade. 

Além da turbulência causada pelo novo coronavírus, os funcionários do local têm convivido com o receio de transferir a administração do governo estadual para a prefeitura de São Paulo. A medida faria da unidade um hospital direcionado para tratar apenas da pandemia de Covid-19.

A ideia foi divulgada em 22 de maio pelo secretário municipal da saúde de São Paulo, Edson Aparecido, em entrevista à Rádio Bandeirantes. A ideia é atender a demanda de um hospital de campanha na zona leste da capital

As funcionárias foram informadas da proposta em 27 de maio. Desde então, relatam o medo do que será feito com outros atendimentos. “Além da Covid-19 nós também trabalhamos com outras patologias. As pessoas não morrem só de Covid-19” enfatiza Sandra.

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Hospital Geral de São Mateus foi inaugurado em 1991 e tem 14 leitos de UTI para pacientes de Covid-19 @Matheus Oliveira/Agência Mural

“Se for realmente de campanha eles vão contratar funcionários temporários. E acabou o contrato todo mundo é mandado embora e isso aqui vira um hospital fantasma”, afirma a supervisora de enfermagem Carine Perico, 31.

Ela cita que a unidade recebe pacientes que fazem hemodiálise, recuperação de queimaduras, captação de órgãos, atendimento de pacientes com IAM (Infarto Agudo do Miocárdio) e AVC (Acidente Vascular Cerebral). A preocupação das funcionárias é que a população fique desassistida. 

Inaugurado em 1991, o Hospital Geral de São Mateus atende majoritariamente os distritos de São Mateus, São Rafael, Iguatemi, onde vivem mais de 425 mil pessoas, além de bairros de cidades do Grande ABC.

Na visão de Carine a troca de gestão pode levar os moradores da região a perderem a relação que tem com o hospital. “A população participa de muita coisa, como voluntariado, hospital amigo do idoso, por exemplo. Até as coisas se ajustarem vai ter um delay muito grande”.

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Para garantir que o governo estadual continue a administrar o hospital, os funcionários se movimentaram nos últimos dias. Fizeram uma petição on-line manifestações na frente da unidade.

“Com segurança, porque a gente não quer expor ninguém a risco, mas a gente vai lutar até o último momento para garantir que pelo menos o nosso local de trabalho fique aqui”, pondera Carine.

A supervisora afirma que a municipalização apenas esconde um dos principais problemas da região, que é a falta de mais um hospital. “Temos que lutar sim para a construção de um outro hospital na região do Iguatemi, do São Rafael”, diz.

CORONAVÍRUS

O primeiro caso do novo coronavírus na cidade de São Paulo foi notificado no dia 26 de fevereiro. Já a preparação para receber os pacientes com Covid-19 no HGSM começou em 16 de março, nove dias antes do governo paulista decretar a quarentena no estado. De imediato as cirurgias eletivas foram canceladas e as consultas realizadas pelo ambulatório remarcadas. 

Em seguida, setores hospitalares foram reorganizados para a criação de uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e uma enfermagem, chamada internamente de ‘gripário’, dedicados apenas aos pacientes contagiados pelo coronavírus. 

Por fim, os funcionários foram remanejados. São 14 leitos de UTI dedicados aos pacientes de Covid-19.

No dia 11 de março foi diagnosticado o primeiro caso de Covid-19 no hospital geral de São Mateus. “Nesse momento gerou uma preocupação para toda a equipe, mas depois a gente foi se organizando”, relata Sandra que conta como é o protocolo do HGSM.

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Supervisora de enfermagem. Carine tem medo que a população fique desasistida com a municipalização @Matheus Oliveira/Agência Mural

Até o fechamento desta matéria o hospital de São Mateus recebeu aproximadamente 440 pacientes com Covid-19 destes 27 morreram. 

Entre eles estão funcionários do hospital. Ao todo foram 150 confirmações por infecção pelo novo coronavírus, 20 foram internados e dois médicos morreram.

“Chegamos ao fundo do poço. Eles estavam aqui na porta, eles eram do pronto socorro, estavam ali cara a cara com o problema”, afirma a supervisora de enfermagem Carine.

A maioria dos funcionários infectados se recuperaram. “Os colegas estão voltando muito motivados e querem encarar com o pensamento de ‘eu sei o que as pessoas fizeram por mim, agora eu quero fazer por eles também’”.

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Funcionários do HGSM no atendimento a pacientes de Covid-19 @Arquivo Pessoal

SALÁRIO 

Além da turbulência causada pela Covid-19, os funcionários do HGSM convivem com um problema antigo. Desde 2011 os trabalhadores da saúde do estado de São Paulo não tem reajuste em seus salários. 

Segundo a Lei Complementar 1.157/2011 um auxiliar de enfermagem, por exemplo, tem como piso salarial R$ 333,56 por 30 horas trabalhadas –  com bonificações, são entre R$ 1.481,50 e R$ 1.763,00. 

Sandra já teve de trabalhar em três hospitais ao mesmo tempo para complementar a renda da família. “Eu trabalhava no Heliópolis, no Centro Hospitalar do Município, em Santo André, e aqui. Meu marido estava desempregado eu com três filhas, fazia 36 horas direto”.

Questionada, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) afirma estar em estudo o uso do Hospital Geral de São Mateus pela prefeitura da capital. 

Sobre os funcionários, a SES afirma que “não haverá prejuízos a pacientes, usuários ou aos profissionais, que seguem com todas as garantias legais, trabalhistas e com seus empregos assegurados”.

Já o piso salarial em questão, a SES se limitou a informar que segue a legislação e “o salário pago aos enfermeiros que trabalham nos hospitais e serviços de saúde de administração direta do governo do Estado de São Paulo é de R$ 3,3 mil”. 

No entanto, este valor corresponde ao piso salarial somado às bonificações. Caso um funcionário seja afastado ou se aposente o pagamento não levará as gratificações.

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Matheus Oliveira

Jornalista, educomunicador e correspondente de São Mateus desde 2017. Amante de histórias e de gente. Olhar sempre voltado para o horizonte, afinal, o sol nasce à leste.

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