Sessões na Spcine são nova opção de lazer aos moradores do bairro. O distrito não tinha nenhuma sala de cinema até 2013
Por: Redação
Publicado em 05.04.2017 | 14:53 | Alterado em 05.04.2017 | 14:53
É domingo, 18h30 na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. A avenida estava praticamente deserta, já que não passava nenhum pedestre. De repente chegam três crianças até a sala de espera da Spcine, localizada dentro do centro cultural do bairro José Aroldo Filho.
Júnior, 14, Agatha de Souza, 10, e Gabrielle Santos, 12, foram assistir ao filme “Minha Mãe é uma Peça 2”.
“Eu tava aqui na biblioteca e o pessoal comentou que o cinema estava aberto. Aí eu vim aqui ver, peguei o ingresso e assisti Moana”. Foi assim que Júnior entrou pela primeira vez ali, a sala de exibição mais próxima de onde mora.
Desde março de 2016, mais de 380 mil pessoas estiveram presentes nas sessões do Circuito Spcine, segundo levantamento da própria empresa. A sala da Cidade Tiradentes, pensada para aproximar as pessoas mais pobres do cinema, foi a 20ª a ser inaugurada, o que ocorreu em dezembro do ano passado.
De acordo com dados do Observatório Cidadão, o distrito de Cidade Tiradentes está zerado em número de cinemas desde 2013. Outro estudo realizado em 2016 pela consultoria JLeiva apontou que, em média, 10% dos paulistanos nunca haviam ido a uma sala de cinema, sendo que o percentual aumentava para 30% nas classes D e E.
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“A vida é difícil, pois lá não tem água, nem luz e nem asfalto. Não sobe perua quando está chovendo, a gente ‘mela’ o pé todo e tem que limpar”. É assim que o menino, estudante do nono ano do Ensino Fundamental, define o lugar onde mora.
Ele e as duas meninas que o acompanhavam residem perto do centro cultural, na ocupação Esperança Vermelha, onde vivem outras 3.500 famílias.
CINEMA GRATUITO PARA TODOS
Conforme o horário da sessão se aproximava, a pequena sala de recepção e entrega de ingressos foi enchendo. O público era variado. Havia desde crianças sozinhas, até famílias inteiras, ansiosas pelo filme que atraiu grande público nas salas em que ficou em cartaz por toda a cidade.
O trio começou a mexer na mochila que trouxeram para verificar o que eles ainda tinham pra comer. Agatha, que estava ali pela segunda vez, era uma das mais preocupadas com a comida. “Ontem, a mulher do meu lado tava com um saco de pipoca. Aí hoje a gente também trouxe”, comentou.
“Eu pedi dinheiro pra minha mãe. A gente fez pipoca, compramos o refri e trouxemos pra cá”, completou Gabrielle.
“Se você vai num shopping, o ingresso é caríssimo, mas aqui é de graça e ainda passam lançamentos. É tudo o que ela gosta”, disparou Ana Helena, 67, a avô que chegou com a neta de 6 anos para retirar os ingressos alguns minutos antes da sessão começar.
Às 19h30 um funcionário abre a porta e recolhe as entradas. Eufóricas, as crianças vão atrás do melhor lugar dentre os 130 disponíveis. O barulho e a euforia só diminuem quando as luzes se apagam e surgem na telona os vídeos institucionais. O filme começa e outro barulho vindo da plateia se inicia. Mas, dessa vez são das sacolas de lanche que as crianças levaram para a sessão.
Após 1h30, todos se levantam e as luzes se acendem devagar. “Que legal. Tomara que minha mãe deixe eu voltar aqui amanhã”, diz uma das crianças ao amigo sentado ao lado.
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