Por: Redação
Publicado em 23.01.2017 | 14:16 | Alterado em 23.01.2017 | 14:16
Aos 43 anos, Carlos Antonio de Souza conhece o Itaim Paulista, no extremo leste da capital, como a palma da mão. Mais conhecido como Zumba, ele nasceu e cresceu no distrito homônimo, o mais populoso de toda a “ZL”, com mais de 240 mil habitantes.
“Sempre morei no Itaim Paulista. Acompanhei um pouco do desenvolvimento dos bairros, que eram bem pobrezinhos. Pouco saneamento básico, segurança nenhuma”, descreve o produtor cultural autônomo.
Erguida nas curvas do Rio Tietê, nos últimos anos, a região vem sendo palco para constantes alagamentos, sobretudo no verão, com ruas de bairros, como o Jardim Pantanal, que ficaram alagadas por até 15 dias. A cada nova estação, os olhos continuam sendo atraídos para o Itaim Paulista, que também é composto pelo distrito da Vila Curuçá, com 150 mil habitantes.
De acordo com dados mais recentes do Observatório Cidadão, a região acumula uma série de “zeros”. Números de 2015 apontam que moradores não têm à disposição nenhum museu e salas de shows e concertos. Já teatro, a pesquisa contabiliza uma unidade. A casa de cultura é um dos poucos equipamentos culturais.
“O Itaim [Paulista] é um lugar de muita cultura, mas falta apoio governamental. Há anos a casa de cultura estava abandona. A divulgação dos shows ou oficinas não eram feitos. Sem informação, as pessoas não vão, não têm interesse. Agora melhorou com a chegada de um novo dirigente”, afirma Zumba, que atua na área cultural há 20 anos.
A Casa de Cultura do Itaim Paulista é a primeira do tipo na capital paulista, aberta em 1985. Mais de três décadas depois, a unidade, que era chamada de Centro Cultural Itaim Paulista, mudou de endereço há pouco menos de um mês. Migrou da avenida Barão de Alagoas, 340, para a rua Monte Camberela, 490, de acordo o Diário Oficial, publicado no dia 8 de dezembro de 2016. O aluguel da unidade será R$ 21 mil.
Segundo Zumba, “falta um pouco de educação cultural, primeiramente, no bairro, para que os órgãos funcionem direito. Para ele, muitas vezes, os projetos realizados nas ruas têm mais adesão do que os das casas e fábricas de cultura. “É preciso uma agenda ou calendário de eventos para que as pessoas estejam mais informadas e participem”, aconselha.
Inspirado pela mãe, que fazia festas folclóricas no bairro, Zumba se dedica ao que chama de cultura de “resistência”, produzindo festas e ações nas ruas, como campeonatos de skates, oficinas e música. “No momento, desenvolvo um trampo no Parque Central do Itaim. Ocupamos e limpamos um prédio abandonado que estava cheio de usuários de drogas. Lá, estamos desenvolvendo trabalho de cultura periférica. É uma espécie de ‘centrinho cultural (sic)”, afirma.
O Itaim da zona leste possui um grande número de estabelecimentos comerciais, como supermercados, shoppings, agências bancárias. Entre eles, o Hospital Geral de Itaim Paulista e o Shopping Itaim Paulista. Neste ano, será inaugurada uma unidade do Senac.
Em relação a transporte público, a região conta com a Estação Itaim Paulista e a Estação Jardim Romano da linha 12 da CPTM, além de uma série de linhas de ônibus municipais e interurbanos. Por lá, a avenida Marechal Tito é considerada a principal via de acesso do distrito.
No século 19, a instalação da Ferrovia Estrada do Norte, antiga Central do Brasil, deu origem às primeiras casas às margens dos trilhos. Em 1957, o Itaim Paulista a sua primeira paróquia, a de João Batista.
Com o desenvolvimento econômico, veio também a emancipação política. Em 1980, a região ganhou o status de distrito, se desvencilhando de São Miguel Paulista, prefeitura regional vizinha, também no extremo leste.
“Com o aumento da população veio o desenvolvimento, mas também os problemas. Lixo, barulho, um pouco de tudo. Coisas boas e ruins, misturadas. A gente vai aprendendo a conviver dia a dia com isso”, lamenta Zumba.
Segundo o Observatório Cidadão, a expectativa de vida na região caiu de 60,64 para 60, de 2014 para 2015. Outra queda aconteceu na quantidade de equipamentos esportivos, que despencando de 27 espaços para somente 11, no mesmo período.
Outro dado alarmante é o número de gravidez na adolescência. É uma das quatro piores taxas em toda a cidade, atrás de Perus, Guaianases, Parelheiros e Cidade Tiradentes. Confira aqui.
Foto: Wikipédia
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