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Cadê a ciclovia? Maioria das cidades não tem vias para bicicletas na Grande SP

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Por: Paulo Talarico | Betiane Batista | Humberto do Lago Müller | Rômulo Cabrera

Notícia

Publicado em 13.09.2018 | 10:54 | Alterado em 04.03.2020 | 12:01

Tempo de leitura: 6 min(s)

O auxiliar de expedição Guilherme Souza de Jesus, 19, pedala há sete anos, em Cotia, na Grande São Paulo, inclusive para ir trabalhar.  A opção pela bicicleta veio pelo preço das passagens na cidade: R$ 4,35. Todos os dias, ele faz o trajeto de nove quilômetros do Jardim Lava-pés das Graças até a Rodovia Raposo Tavares, onde trabalha.

Nesse roteiro já viveu problemas. “Não me sinto seguro em pedalar pela minha cidade”. Em 2016, ele foi atropelado. “O condutor partiu sem prestar socorro e a sorte foi que eu não tive fraturas e ferimentos graves”. Um amigo dele foi atingido por um ônibus no bairro Morro Grande.

Há uma ciclofaixa na cidade, mas para os domingos. Além disso, ela está com a sinalização apagada e os carros estacionam no local. “Nos vemos obrigados a andar na via comum”, ressalta.

O cenário de Cotia é o mesmo de boa parte da Grande São Paulo, onde a ideia de incentivar o uso de bicicletas como um meio alternativo de transporte engatinha. Segundo dados divulgados pelo IBGE em julho, das 38 cidades vizinhas da capital, 24 não contam com nenhuma ciclovia. Praticamente o mesmo número não possui um bicicletário.

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Mapa da Grande São Paulo e as cidades que possuem ou não ciclovia (Arte: Magno Borges/Agência Mural)

A prefeitura cotiana informou que, em junho deste ano, a Câmara aprovou o Projeto de Lei Complementar que dispõe sobre o Plano Municipal de Mobilidade Urbana. No documento está prevista a implantação de ciclofaixas no município. Os locais serão alvo de estudos.  

CONGESTIONAMENTO

Uma outra questão que faz o trajeto valer a pena é o congestionamento. Ir de bicicleta tem sido mais rápido do que o ônibus em alguns trechos do município que é cortado pela Rodovia Raposo Tavares. “Utilizo a bicicleta há mais de um ano, desde que me mudei para Cotia, pois o sistema de transporte público aqui é precário”, diz Samuel Rusche, 34, auxiliar de classe e morador do Jardim Adelina.

A bicicleta é o meio de transporte mais rápido em deslocamentos “porta-a-porta”. É o que constatou a Abraciclo (Associação Brasileira dos fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Bicicletas e similares), em estudo feito em parceria com a consultoria Rosenberg Associados, em 2015, sobre o uso de bicicletas no Brasil.

Conforme o documento, para distâncias de até cinco quilômetros, as viagens por bicicleta “são três a quatro vezes mais velozes do que a caminhada e, algumas vezes, mais rápidas que automóveis, dependendo das condições de congestionamento”.

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Ciclofaixa com sinalização apagada liga Prefeitura de Cotia a hospital (Halitane Rocha/Agência Mural)

Segundo o IBGE, possuem ciclovias atualmente as cidades de Arujá, Caieiras, Embu-Guaçu, Franco da Rocha, Guarulhos, Mauá, Mogi das Cruzes, Osasco, Poá, Rio Grande da Serra, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, São Paulo e Taboão da Serra. Porém, mesmo onde constam faixas, a situação não é confortável para quem aposta em usar as magrelas.

VÍTIMAS DE ACIDENTES ENVOLVENDO BICICLETAS

259 mortes foram registradas na Grande São Paulo entre julho de 2016 e julho de 2018, segundo o Infosiga.

A capital lidera com 103 óbitos, seguida de Mogi das Cruzes (19), Guarulhos (17) e Suzano (13).

34 municípios tiveram vítimas fatais por conta do acidente com ciclistas.

Dos acidentes com vítimas fatais, 246 envolveram homens e 12 mulheres.

Quase 30% das mortes são de jovens com menos de 24 anos

MAIS DE 4 MIL CADASTROS

Mesmo em cidades em que consta a existência de ciclovias oficialmente, é difícil encontrá-las. William Marques da Silva, 34, é pizzaiolo em uma lanchonete no centro de Franco da Rocha, na região noroeste da Grande São Paulo, e pedala quase 6 quilômetros para chegar ao trabalho. 

Morador do Parque Vitória, Silva utiliza a bicicleta para ir do bairro onde mora até o centro todos os dias. Mas precisa se equilibrar entre os carros. “Com ciclovia, seria mais rápido e seguro”, diz. 

Assim como William, outras centenas de pessoas utilizam a bicicleta como meio de transporte no município. O professor Douglas Scott, 43, mora na Vila Vera Cruz, praticamente a 1 quilômetro da escola onde trabalha, mas evita fazer o trajeto de bicicleta para o trabalho pela falta de ciclovias. “Seria ótimo poder ir todos os dias de bicicleta para o trabalho, mas como trabalho à noite, não vou sempre porque não há segurança”, afirma.

O único bicicletário da cidade, localizado na estação de trem da CPTM, recebe um fluxo aproximadamente de 250 pessoas por dia. O local, contudo, tem apenas 180 vagas. São 4 mil cadastros no bicicletário de Franco.

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Ciclistas andam no acostamento perto dos carros em Franco da Rocha (Betiane Silva/Agência Mural)

Vizinha de Franco da Rocha, Mairiporã não possuía nenhum quilômetro de ciclovia até 2016 e ainda não consta na lista de cidades com vias exclusivas, segundo o IBGE. A primeira obra do tipo ficou incompleta. O que existe hoje são cerca de 1.5 quilômetro acompanhando a margem do Rio Juquery, no centro da cidade.

A ciclovia faz parte do Parque Linear, obra prevista após a renovação do contrato de concessão do abastecimento de água, assinado em 2015 entre a Sabesp e a prefeitura de Mairiporã.

Válido por 30 anos, ele previa também a construção por parte da Sabesp de outros 25 quilômetros de ciclovia, além de áreas de lazer e contemplação. Passados quase 2 anos da inauguração da primeira parte nenhuma outra obra do tipo saiu do papel.

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Parque Linear tem ciclovia incompleta em Mairiporã (Humberto Muller/Agência Mural)

As cidades que mais contam com acidentes, depois de São Paulo, são Mogi das Cruzes e Guarulhos. A quarta colocada é Suzano, onde mora a autônoma Letícia Evangelista, 28. Desde novembro do ano passado, ela faz entregas de marmitas, bolos e lanches com a bicicleta pela região central da cidade, além de bairros periféricos como Cidade Edson, Jardim Nazaré e Jardim Suzanópolis.

Letícia pedala 20 quilômetros, em média, em jornadas diárias de até 15 horas de trabalho. “Se eu não ficar rica depois disso, não sei mais o que o fazer”, brinca. Nos mais de oito meses trabalhando e se deslocando de bicicleta pela cidade, a autônoma é categórica: alguns motoristas não respeitam os ciclistas.

“Na volta [de uma entrega], próximo à Estação [Suzano], um veículo vermelho, desses jeeps modernos, ultrapassou o carro que me deu passagem. O jeep chegou a esbarrar na minha perna. Na sequência, outro carro, seguindo o primeiro, quase bate de frente comigo”, conta.

O artigo 201 do Código de Trânsito Brasileiro define que o motorista deve guardar uma distância mínima de 1,5 metro do ciclista. No artigo 29, estipula que “os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados [bicicletas, por exemplo] e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”.

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PREFEITURAS DIZEM TER AÇÕES

As prefeituras da Grande São Paulo foram consultadas sobre a situação das ciclovias e apenas três enviaram respostas. Em geral, as gestões afirmaram ter ações, em especial, quanto ao uso da bicicleta como meio de lazer. 

Sobre Mairiporã e o Parque Linear, a Sabesp afirmou que a execução da obra e a manutenção do Parque Linear são de responsabilidade da prefeitura da cidade. “A Sabesp fez a cessão da área à prefeitura e repassou recursos financeiros para a criação do parque pela administração municipal”. A prefeitura mairiporanense não respondeu. 

Segundo a prefeitura de Itapevi, na região oeste, há algumas vias para utilização de bicicletas em espaços públicos como uma área de lazer no bairro Vila Nova Itapevi, com duas pistas compartilhadas para ciclismo e caminhada. Citou também uma ciclofaixa no parque Suburbano de 1,7 quilômetro. A administração afirma ainda que está em fase de implementação ciclofaixas no Corredor Oeste Metropolitano e na Avenida Rubens Caramez.

A gestão diz que pretende garantir a segurança dos ciclistas com o apoio de equipe da GCM (Guarda Civil Municipal) que fará parte do programa Bike Patrulha, policiamento preventivo que se inicia em setembro deste ano” e ações de sinalização ‘siga e pare’.

“O uso de bicicleta ė comum em nossa comunidade e proporcionar conforto e segurança faz parte das ações planejadas pela administração pública. A administração reforça que está empenhada em projetos e iniciativas que visam ampliar a oferta por áreas para quem deseja andar de bicicleta na cidade”, afirma.

Em Ribeirão Pires, a prefeitura afirmou ter uma ciclofaixa de 2,5 quilômetros de extensão que funciona aos domingos e feriados. “A ciclofaixa conta com sinalização vertical e horizontal. Agentes de trânsito fazem rondas e a fiscalização na área para garantir a segurança dos usuários”.

Betiane Silva, Halitane Rocha, Humberto Muller, Paulo Talarico, Rômulo Cabrera são correspondentes de Franco da Rocha, Cotia, Mairiporã, Osasco e Suzano

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Paulo Talarico

Diretor de Treinamento e Dados e cofundador, faz parte da Agência Mural desde 2011. É também formado em História pela USP, tem pós-graduação em jornalismo esportivo e curso técnico em locução para rádio e TV.

Betiane Batista

Jornalista e professora, correspondente de Franco da Rocha desde 2018. Ama culinária, livros, música e assuntos ligados ao meio ambiente. É geminiana e gosta de praticar de esportes.

Humberto do Lago Müller

Apaixonado por animais, desenho, fotografia, natureza. Praticante de turismo sem roteiros, conhecedor de escadões e mirantes. É logo ali! Correspondente de Mairiporã desde 2013.

Rômulo Cabrera

Formado em Jornalismo. Operário do texto, apresento o podcast Próxima Parada da Agência Mural. Dou uma de videomaker às vezes. Futuro ex de alguém. Sommelier de tubaína. Correspondente de Suzano desde 2018.

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