Produções contam histórias de mulheres de diferentes lugares de São Paulo
Por: Redação
Notícia
Publicado em 08.03.2023 | 19:42 | Alterado em 09.03.2023 | 14:06
Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a Agência Mural de Jornalismo das Periferias publica uma série de perfis de mulheres protagonistas em diferentes áreas de atuação.
As produções da série são assinadas pelas jornalistas Gabriela Silva de Carvalho, Jéssica Bernardo, Kaliny Santos e Tamiris Gomes.
Até o momento, já foram publicados os perfis da psicóloga Déia Freitas, criadora do podcast “Não Inviabilize”. Moradora de Santo André, na Grande São Paulo, Déia compartilhou na entrevista um pouco sobre trajetória pessoal e profissional, carreira e discussões levantadas a partir das histórias que conta em seu podcast. Mayara Torres, advogada e líder comunitária da Favela da Borracha, zona sul de São Paulo, que faz parte do grupo que denunciou a prefeitura da cidade por não criar plano de ação para áreas de risco. E de Dona Dita, responsável pela criação dos figurinos da bateria da escola de samba Acadêmicos do Rochdale que relembra a vivência no carnaval de Osasco de 1978.
Além da série, conversamos com três correspondentes locais da Agência Mural, para trazer reflexões sobre os desafios de serem mulheres que atuam com jornalismo local independente.
Halitane Rocha, correspondente de Cotia, na Grande São Paulo, desde 2018 na Agência Mural, comenta que ser uma jornalista da periferia se relaciona diversas vezes em contar sobre os próprios desafios.
“Nós estamos diariamente duelando contra uma sociedade que odeia mulheres, especialmente se forem negras e periféricas. Ora pelas nossas perspectivas, ora nas de outras mulheres que passam por situações parecidas. Quando decidimos, por exemplo, escrever sobre nossa dor, é preciso estar preparada para lidar com o emocional da exposição. Mas quando falamos de outra mulher, é uma tensão ainda maior, pois exige ainda mais responsabilidade”, explica.
Para Kátia Flora, correspondente de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, desde 2014, também conta que ser mulher, negra e jornalista na periferia é viver no desafio todos os dias.
“Precisamos ser reconhecidas pelos nossos talentos e não por estereótipo. Infelizmente, a mulher sofre com abusos, falta de respeito, trabalha mais e ganha menos que o homem. Além disso, tem a rotina diária de cuidar da casa e estudar para conseguir melhores empregos”.
Já a correspondente de Guarulhos, na Grande São Paulo, desde 2022, Evelyn Fagundes,complementa que fazer jornalismo local sendo mulher é sempre ter que consultar se alguém próximo, amigo ou familiar, estará disponível para te acompanhar ou ir até o espaço em que a pauta será realizada.
“O jornalismo local é o corre: vai atrás, conversa com todos, escuta as fontes atentamente, vivencia na epiderme os problemas do território e, nesse processo, é comum se deparar com pessoas que não compreendem a profissão e te desrespeitam ou te desqualificam por ser mulher ou por ser de um veículo independente. Nós, mulheres, já carregamos toda a bagagem que é sair na rua e ser assediada desde muito nova. Então, sair para o trabalho é toda vez carregar essa bagagem, torcendo para não ser vítima de violência. Convivemos com esse medo, mas seguimos em frente, trabalhando e denunciando” .
Ela conta ainda que como jornalista e mulher, já lhe foi sugerido que não confrontasse autoridades políticas. “Uma vez que, de acordo com a preocupação dessa pessoa que me fez a sugestão, a autoridade poderia me menosprezar por ser de um veículo independente e por ser mulher. Só essa reflexão que foi me sugerida por uma pessoa já indica o quanto a cultura machista está enraizada em todos os espaços. Isso adoece e prejudica mulheres todos os dias”.
A correspondente de Cotia reforça que: “estamos sempre vencendo essas batalhas, de um jeito e de outro. Que seja conquistar a vaga de uma creche, se realocar no mercado de trabalho, conquistar a liberdade de viajar sozinha, morar sozinha, são diversas barreiras que, aos poucos, ficam para trás. E eu fico muito feliz em ver as mulheres da Mural ampliando pautas que nos direcione a falar dos desafios, mas que também falem das conquistas ou dicas para essas conquistas. Pois somos múltiplas, e apenas o jornalismo feito por mulheres como nós podem nos contemplar”, diz Halitane.
Evelyn enfatiza que não se pode mais fazer com que mulheres não se sintam ouvidas ou necessárias. “A luta não acabou. Hoje tratamos de um dia político e precisamos continuar falando sobre a importância de protagonizar mulheres. Temos que investir cada vez mais em espaços abertos, ouvindo cada vez mais as histórias de mulheres e que sejam contadas por elas mesmas, sem intermédio masculino”, declara.
Com uma rede de 75 profissionais, cerca de 54,6% da nossa equipe é formada por mulheres que atuam em diferentes frentes. São diretoras, programadoras, repórteres, fotojornalistas, editoras, assistentes, analistas. Dessas profissionais, 58,53% se autodeclaram como pretas ou pardas e possuem idades entre 21 e 52 anos.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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