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Agência de Jornalismo das periferias

Magno Borges/ Agência Mural

Por: Jacqueline Maria da Silva

Notícia

Publicado em 22.09.2023 | 13:38 | Alterado em 19.12.2023 | 10:20

Tempo de leitura: 3 min(s)

Foi em fevereiro de 2016. Rayane Rayane Martins, hoje com 24 anos, ligou seu computador com uma intenção: encontrar locais que atendiam pessoas com sofrimento psíquico.

Mas a situação não era a mesma da abertura desta reportagem. A moradora do bairro Noronha, no Grajaú, zona sul de São Paulo, buscava uma oportunidade de voluntariado que fizesse sentido na jornada, iniciada naquele mês, quando ela iniciou o tão sonhado curso de psicologia.

“Eu estava muito eufórica e queria porque queria entrar na área. O melhor jeito de fazer isso seria com voluntariado e encontrei o CVV [Centro de Valorização da Vida]”, conta.

Diferente do que pensava, seu primeiro trabalho não seria o atendimento. Antes, era preciso fazer um curso teórico preparatório, semanal, por seis meses. Estava lançado o desafio.

Ela aceitou. E para a surpresa da jovem, não se tratava apenas de uma formação, mas sim de um espaço de acolhida, para cuidar de quem cuida. “Lá a gente também amenizava o nosso sofrimento”.

A identificação com a teoria humanista, abordagem usada pela instituição, garantiu a permanência da jovem, ansiosa por ouvir pessoas. “É uma teoria que fala sobre deixar a pessoa ser quem ela é. Se na sua consciência você acha que é Buda, embora não seja, eu vou recebê-lo como se você fosse”, explica.

E foi a partir dessa abordagem tão sensível e individual que ela deu suporte a diversos casos, de diferentes gravidades.

“Você realmente não me conhece, mas saiba que você não está sozinho. Eu estou com você neste momento”, repetiu a reportagem, ilustrando como realizou um dos casos mais marcantes de sua vida: o atendimento de um jovem em risco de morte.

“E depois disso, ele chorou no telefone. Eu falei ‘se você puder, vai agora para um hospital buscar ajuda. Chame alguém’. Ele disse que faria isso e desligou. Ele acreditou em mim e eu acreditei nele”, descreve, lembrando que mesmo a distância é possível oferecer colo e consolo.

Magno Borges/ Agência Mural

Saber o desfecho da história não é uma possibilidade, mas fazer o melhor no momento crucial sim. Rayane conta que pela primeira vez sentiu que tinha ajudado alguém de verdade, e que a partir desse momento teve a certeza de que queria realmente trabalhar com saúde mental.

E ela dá uma dica para quem quer seguir o mesmo caminho: não julgar e ter cautela, em especial em temas ligados à religião, para não trazer culpa a quem precisa de escuta.

Histórias cruzadas

Um dia, o telefone tocou. Rayane atendeu. Era uma mulher dizendo que se sentia perseguida. Ela conduziu o caso, mas a situação aguçou traumas antigos nela. “A história dessa mulher bateu em mim e descobri que eu tinha coisas que precisava resolver comigo”.

Foi aí que ela decidiu dar um tempo, se resguardar e interromper o voluntariado exatamente um ano depois do início, em fevereiro de 2017.

O leitor desavisado pode até pensar que o período de atendimento foi breve. Engana-se.

“Eu sempre tive dificuldade de manter contato com as pessoas, não sabia fazer amizade. É um caso de autismo leve, que só diagnostiquei por conta do voluntariado”, diz.

“Esse trabalho mudou minha relação com as pessoas. Consegui criar relações íntimas e estabelecer contatos rápidos do dia a dia, como por exemplo, na fila de uma padaria. Eu ajudei, mas também fui ajudada pelo CVV”.

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Esta reportagem foi produzida com apoio da Report For The World

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Jacqueline Maria da Silva

Jornalista formada pela Uninove. Capricorniana raiz. Poetisa. Ama natureza e as pessoas. Adora passear. Quer mudar o mundo e tornar o planeta um lugar melhor por meio da comunicação. Correspondente de Cidade Ademar desde 2021. Em agosto de 2023, passou a fazer parte da Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project.

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