A região sul da cidade de São Paulo tem a pior nota quando o assunto é o tratamento dos policiais aos jovens. De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) em parceria com a Rede Nossa São Paulo, a zona sul paulistana foi avaliada com nota 3,1, em uma escala que vai de 1 a 10. A pesquisa entrevistou 1001 pessoas entre os dias 8 de dezembro de 2016 e 4 de janeiro de 2017.
Por: Redação
Publicado em 16.02.2017 | 14:25 | Alterado em 16.02.2017 | 14:25
A região sul da cidade de São Paulo tem a pior nota quando o assunto é o tratamento dos policiais aos jovens. De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) em parceria com a Rede Nossa São Paulo, a zona sul paulistana foi avaliada com nota 3,1, em uma escala que vai de 1 a 10. A pesquisa entrevistou 1001 pessoas entre os dias 8 de dezembro de 2016 e 4 de janeiro de 2017.
A situação é ainda pior quando se trata da área sul 2, que abrange distritos do extremo sul da capital, recebendo nota 2,8. É a única região com nota abaixo de 3 entre todas as avaliadas (centro, oeste, norte 1 e 2, leste 1 e 2 e sul 1 e 2). A região com a nota mais alta é a leste 1, avaliada em 4,2.
Entender o motivo da nota baixa atribuída pelos moradores da periferia da zona sul não é difícil. Os casos de agressões por parte de policiais fazem parte da rotina dos moradores dos distritos mais afastados do centro. A reportagem conversou com um rapaz de 19 anos, que preferiu não se identificar, e ele afirma ter sido agredido por policiais militares no dia 25 de janeiro deste ano, no bairro Chácara Cocaia, distrito do Grajaú. Ele conta que estava voltando para a casa, depois que os próprios PMs acabaram com a festa de aniversário ao qual ele participava.
Conforme relata o jovem, os policiais sequer dialogaram com ele e seu amigo, de 20 anos, que estavam em uma moto. “Eles me pegaram e já mandaram pôr a mão para trás, e o outro veio me batendo”, conta. O motivo da abordagem, segundo o outro garoto, é que ambos estavam sem capacete. No entanto, não houve diálogo entre a polícia e os jovens.
“O policial mandou eu colocar a mão para trás. Quando eu fui colocar, ele veio com um cassetete e bateu no meu peito perto do pescoço. Eu caí e levei mais duas [cassetadas] na cabeça (sic)”, contou o dono da moto. Além de dizer que é o proprietário do veículo, o rapaz informou aos policiais que tem habilitação para dirigi-lo. Contudo, isso não foi o suficiente para impedir as agressões.
Sem informações de como denunciar os abusos dos policiais, os adolescentes vítimas de agressões e abusos de autoridade ficam, muitas vezes, com medo de ir até uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência. O rapaz agredido no Grajaú conta que não registrou o B.O. porque está nas rua todos os dias e teme que o policial que o agrediu saiba sua placa. “Vai que eles, não satisfeitos, vêm e fazem coisa pior”.
Como não há denúncias formais por parte das vítimas da violência policial, os órgãos responsáveis pelas investigações de abuso de autoridade dizem que não conseguem chegar aos policiais que fogem das normas de conduta.
No caso do jovem que diz ter sido agredido no Grajaú, a assessoria de imprensa da SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) afirma que a Polícia Militar não encontrou registros de atendimento da ocorrência no local, data e horário informados à reportagem pelos dois jovens. A pasta ainda ressaltou que qualquer queixa sobre a atuação de policiais pode ser formalizada na Corregedoria da PM.
A mesma recomendação é dada por parte da Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, que é um órgão autônomo e independente composto por representantes da sociedade civil, e tem como principal função representar a população paulista em atos irregulares praticados pelas polícias Civil e Militar.
O ouvidor da polícia do Estado de São Paulo, Julio Cesar Fernandes Neves, ressalta que é necessário registrar a ocorrência, seja em um DP (Distrito da Polícia Civil), ou até mesmo na Ouvidoria da Polícia, para que o caso seja investigado.
O ouvidor afirma também que “é difícil, mas é possível” chegar aos autores de abordagens irregulares feitas por policiais apenas com as informações como data, local e horário da ocorrência, mesmo sem registrar B.O.
Foto: André Gustavo Stumpf/ Flickr
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