Moradores da região do Campo Limpo e Capão Redondo relatam que as torneiras secam a maior parte do tempo durante o fim de semana e precisam improvisar
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Por: Kalyne Rannieri | Cleberson Santos
Notícia
Publicado em 19.09.2022 | 8:33 | Alterado em 22.09.2022 | 12:40
Há quase 40 anos, a aposentada Maria José, 64, e os vizinhos lidavam com a falta de água no Jardim Mitsutani, na zona sul de São Paulo. Na época em que ela passou a morar na região, era comum ficar até uma semana sem água e só houve melhora durante o começo dos anos 1990.
“Eu e os vizinhos íamos aqui onde hoje é a escola Francisco de Paula para encher os baldes quando faltava água”, conta. “Começamos a fazer reuniões com responsáveis da prefeitura para debater as melhorias do bairro”, conta.
Mais de 30 anos depois, a situação melhorou, mas as torneiras ainda secam a maior parte do tempo durante o fim de semana no bairro. “Às vezes para no sábado de dia e volta à noite e se repete assim no domingo”, explica. “As famílias grandes aqui do bairro sentem quando dá essa pausa”, completa a moradora.
O Jardim Mitsutani é um bairro localizado entre os distritos do Capão Redondo e do Campo Limpo. A falta de água é um problema que se repete no bairro e em regiões vizinhas e vai além do horário previsto pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) para interrupção.
“Para não ficar totalmente sem água nós temos que diminuir o consumo quando chega na quinta ou sexta-feira pra caixa durar no fim de semana”, diz Silvana Andrade, 37, coordenadora de uma escola particular de educação infantil e moradora do Jardim Eledy.
A comerciante Izete Monteiro, 52, que mora e tem uma casa de ração no Mitsutani há 15 anos, vive somente com o marido e mesmo com pouca gente em casa ela ainda fica em estado de alerta.
“Até evito lavar roupas no fim de semana, porque a água sempre acaba e é assim desde que eu vim morar aqui. Somos forçados a economizar em casa para não ficar na mão em situações como essa”, conta a comerciante.
A cerca de 4 km dali, no Jardim Maracá, o educador Nilton Ferreira, 59, registra diariamente registra em vídeo a torneira quase seca. “Todos os dias, por volta das 17h, 18h, há o corte de fornecimento de água apenas na minha rua, que tem mais ou menos 100 metros.”
“Uma vez cheguei a ficar quatro dias sem água e precisei buscar na igreja aqui do lado de casa, numa rua paralela à minha, porque estava numa situação terrível”
Nilton Ferreira, 59, educador
Nilton, que está afastado do trabalho por consequência do tratamento contra um câncer, precisou investir em compra de galões de água e em tambores de captação de chuva para tentar contornar a questão do corte.
Segundo o morador, desde fevereiro deste ano ele faz reclamações à Sabesp a respeito da situação. Ele já entrou em contato com a ouvidoria da empresa e com um processo junto ao Juizado Especial Cível para tentar resolver a questão do corte de água que, segundo ele, sempre se estende até a manhã do dia seguinte.
Sobre a interrupção no fornecimento de água, a Sabesp afirma que o abastecimento segue normal e todos os moradores são notificados via mensagem de texto no celular quando vai ter alguma interferência. “Quando há intervenções que afetam o fornecimento de água, é feito o envio de SMS para comunicar o cliente”, diz a assessoria de imprensa da companhia.
No entanto, moradores dizem que as mensagens chegam apenas em pausas mais longas. “Eu não recebo mensagens da Sabesp informando que a água vai acabar, eu simplesmente abro a torneira e ela está seca. Só recebi mensagem uma vez quando ficou quatro dias sem água porque teve manutenção geral aqui na Sul”, diz o O designer Jorge José, 20.
A Sabesp também se posicionou a respeito da situação relatada por Nilton Ferreira, do Jardim Maracá. Na quinta-feira (25/8), dois funcionários da companhia visitaram a residência do educador para avaliar a situação. A empresa afirma que a região “tem abastecimento normal, inclusive com monitoramento remoto para controle do fornecimento de água instalado próximo ao imóvel”.
“O morador e alguns vizinhos relataram à equipe problemas pontuais de falta de água causados por manutenções emergenciais e/ou preventivas no sistema de abastecimento”, informou a Sabesp em nota enviada à reportagem da Agência Mural.
Nos dia 25 de agosto, técnicos da Sabesp estiveram na casa. “Eles olharam o hidrômetro, fizeram anotações. Informaram que sobre o abuso de faturamento nada podiam fazer, quanto a falta de água, confirmaram que todos os dias às 21h há redução da pressão em toda a cidade”, afirma Nilton.
Segundo o morador, os profissionais deram uma mesma justificativa que também já foi feita pela Sabesp em conversas anteriores, que a casa dele era “prejudicada” na distribuição de água por estar em um ponto alto do bairro. Indiretamente, disseram que ele não deveria morar ali. “Me aconselharam quando for alugar uma casa, para fazer em ruas baixas.”
Jornalista, artista, fundadora da Revista Noisy Culture e correspondente do Campo Limpo desde 2022. Apaixonada pela cultura, tem a mente criativa e questionadora. Música é o que dá todo o movimento da vida. É leonina e santista.
Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias, uma organização sem fins lucrativos, tem como missão reduzir as lacunas de informação sobre as periferias da Grande São Paulo. Portanto queremos que nossas reportagens alcancem outras e novas audiências.
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