Rodrigo-Nagafuti/Secom Poá
Por: Egberto Santana
Notícia
Publicado em 17.09.2024 | 10:42 | Alterado em 18.09.2024 | 11:28
A cidade de Poá, localizada na Grande São Paulo, é o terceiro menor município do Alto Tietê, com cerca de 17 km², e possui 103.765 moradores, segundo dados do IBGE de 2022. É atualmente administrada por Marcia Teixeira Bin de Sousa (União Brasil), que se elegeu em 2020 com 37.85% dos votos pelo PSDB e com o nome na urna de Marcia Bin esposa do Testinha, ex-prefeito da cidade.
Posteriormente, os dois se divorciaram e a gestora abriu mão da disputa deste ano. Em publicação no Facebook e Instagram, Marcia Bin anunciou que não irá concorrer à reeleição em 2024, em um texto que destaca as ações realizadas durante o mandato na cidade.
Ela deixará o cargo com um legado marcado por reformas em vias do município, construção de um viaduto no centro da cidade, perda do título de Estância Hidromineral e embates com o setor cultural.
Apesar de não informar quem vai apoiar, Márcia Bin liberou a equipe para apoiar os principais nomes de Flávia Verdugo (PL) e Diogo Pernoca (Podemos).
Além da saída da atual prefeita da disputa, a perda do status de cidade turística tem sido um dos temas que tem sido mais discutido na cidade. Desde setembro de 2021, Poá não é mais uma Estância Hidromineral. A publicação do projeto de lei n° 582/2021 do Diário Oficial rebaixou a cidade ao termo de Interesse Turístico.
O título, que acompanhava o nome da cidade desde 1986, certificava o cargo de Estância Turística para a cidade, dado pelo governo estadual, a regiões com infraestrutura e serviços que promovam a atividade turística. São separados entre: hidromineral, balneária, turística e climática.
Essa classificação garante o repasse de dinheiro da gestão estadual para incentivar atividades turísticas.
O motivo da perda foram irregularidades na prestação de contas dos recursos entre os anos de 2011 e 2019, dados pelo Dadetur (Departamento de Apoio ao Desenvolvimento dos Municípios Turísticos), que também concebe e controla o título.
As irregularidades diziam respeito às seguintes obras: construção de um balneário, de revitalização das avenidas Nossa Senhora de Lourdes e Deputado Castro de Carvalho e a manutenção da Praça dos Eventos.
À época, a prefeita realizou uma audiência pública para discutir o tema e declarou que as irregularidades foram cometidas no período de 2015 a 2020, na gestão Gian Lopes (PR). Os prefeitos das outras gestões alegaram também que os repasses haviam sido feitos corretamente.
Candidatos de Poá: Cidade tem seis candidatos, veja quem são @Rodrigo-Nagafuti/Secom Poá
Carlos Setsuo (PSDB)
Diogo Pernoca (Podemos)
Flavia Verdugo (PL)
Geraldinho do Sindicato (PSB)
Professor Franklin (PSOL)
Saulo Souza (PP)
A gestão tentou uma liminar para manter o título, mas foi revogada e o rebaixamento ocorreu oficialmente em 19 de maio de 2022.
Segundo a prefeitura, em nota publicada no site oficial, são mais de R$ 10 milhões ao ano que se perde com essa atualização do título. Ainda, informa que buscará recuperar o título de Estância, por meio de ações voltadas ao fomento do turismo regional, como a finalização do Balneário De Poá.
“Funciona como futebol, temos a série B e a séria A, município de interesse turístico e estâncias, que recebem uma verba do Estado. Todo ano, alguns são rebaixados e outros sobem. Perdemos o título porque não preencheram os documentos. E ninguém está respondendo por isso”, comenta Gisele Magalhães, 41, professora e representante do Fórum de Cultura Permanente de Poá.
Entre os espaços que poderiam ser usados para fomentar a estância, estão: Fonte Áurea, Fonte Primavera, as nascentes e o Balneário, que, parado há mais de 15 anos, se encontra, de acordo com a prefeitura, na fase 3 de finalização do projeto, com 75% dos serviços concluídos, com informações de novembro de 2021.
Porém, em reportagem do site G1 de setembro de 2023, moradores já reclamam sobre o serviço que está parado há mais de 15 anos. Antes, era voltado para atender diversas pessoas da região, com até banho de ducha de água mineral.
Um dos espaços mais populares de Poá é a Praça dos Eventos, palco onde são realizadas diversas festividades ao longo do ano, mas que também é alvo de críticas pela população por não trazer artistas do próprio município para apresentar no local.
“Não abriu portas para nenhum tipo de apresentação, feira, evento ou atividade voltada para o Hip Hop, Funk ou ao samba de roda”, comenta o estudante de história Matheus Emiliano Dos Santos, 24, que também é escritor, mestre de cerimônia e coordenador do núcleo 11 de agosto da UNEafro Brasil em Poá*
O núcleo é movimento social que nasce como um cursinho e hoje realiza diversas ações culturais na cidade, como Batalha de Rima, Cineclube e festas para a juventude da cidade.
O Skate Park Poá e a praça de esportes localizada na Avenida Padre Anchieta são dois outros locais mencionados por Matheus, representante da Uneafro, como abandonados pela gestão. Esse primeiro é a principal quadra de skate da cidade, mas sofre com casos de vandalismo, como roubo de pedaços de metal a poucos metros de uma delegacia.
Gisele e Matheus recordam de um recente caso que simboliza a falta de espaços para lazer e o destino trágico dessa situação: a morte de uma criança de 14 anos após cair de uma obra abandonada, o Centro Educacional Poaense, paralisado desde maio de 2020, enquanto empinava pipa, no bairro Jardim Santa Luiza.
‘Sem fiscalização, manutenção e atenção do poder público esses espaços se tornam inseguros para toda a população e apontam para uma tragédia anunciada’
Matheus, ativista pela cultura em Poá
Ambos atuam como ativistas pela cultura no bairro. Gisele representa o Fórum Permanente de Cultura, responsável pela mobilização do setor cultural da cidade e pela ativação de políticas culturais no território.
Surgiu em 2002, em um período em que a cidade estava há mais de 5 anos sem um Conselho atuante. Mesmo com a existência do Conselho de Cultura, Gisele continua a atuar no Fórum e exercer pressões para as mudanças na gestão cultural da cidade.
A produtora artística, que começou a lutar pela cultura na cidade para que não fosse mais preciso ir para o centro de São Paulo acessar esse direito, critica a falta de investimento em pessoal técnico capacitado para gerir a pasta da Cultura, de mapeamento cultural e de reconhecimento dos artistas da cidade.
“Quando você tem entidades nas periferias fazendo coisas, a prefeitura não divulga quem faz, e acaba limitando para aquele bairro”, critica ela.
Além da pressão popular, a Lei Aldir Blanc, criada durante a pandemia para a auxiliar o setor cultural, também foi responsável pelo impulsionamento do Conselho Municipal de Cultura. Gisele, junto de mais cinco artistas locais, foi a responsável pela formulação dos editais.
Questões referentes às ações culturais, de esporte e lazer para os jovens periféricos são pontuadas por Matheus. “É dever da prefeitura criar projetos realmente pensados para esse fim e que abarque os jovens de todos os bairros”, opina o articulador cultural, que desenvolve mensalmente uma Batalha de Rima em frente à Câmara dos Vereadores de Poá, sem nenhum apoio da gestão.
‘A cena desses estilos [de hip-hop] é muito forte por aqui, está extremamente presente entre os jovens das periferias, mas o preconceito ainda é muito grande por parte da gestão e isso só afasta as pessoas’
Matheus, estudante de história
Dos seis candidatos à prefeitura de Poá, quatro mencionam a perda do título da estância da cidade no plano de governo. Carlos Setsuo (PSDB) e Flavia Verdugo (PL) não citam a estância nos planos de governos apresentados.
Diogo Pernoca (Podemos) menciona no plano de governo a Estância em relação ao turismo, com a proposta de readequar o município para que volte com o título.
O plano não detalha as ações específicas para alcançar esse objetivo, mas sugere a retomada de eventos importantes como a Expoá – Festa das Orquídeas e a Passos da Paixão, além da implantação de um programa de turismo de um dia, “onde os turistas vêm e circulam de forma rápida nos pontos turísticos em de Poá.”
No documento, Pernoca também questiona o que o eleitor quer da cidade, se deseja ser uma “cidadezinha típica do interior paulista” ou “uma continuação das regiões periféricas dos nossos vizinhos, um ‘puxadinho’ com problemas estruturais graves” e, em seguida, lista críticas ao município, como a perda do título de estância turística.
No plano de governo de Geraldinho do Sindicato (PSB) há uma menção a intenção de promover ações que venham recuperar o título de Estância Hidromineral, entre as medidas do tópico do turismo. Apesar de não detalhar quais seriam, menciona na mesma página a conclusão da obra do Balneário e a promoção de pontos turísticos aos visitantes.
Já o Professor Franklin (PSOL) dedica um trecho com o título “POÁ ESTÂNCIA SEMPRE”, para criticar a perda do título, “o descaso das últimas gestões” e dizer que a “prefeitura será responsável por conceder a infraestrutura necessária para acesso aos recursos turísticos”, “para receber investimentos da iniciativa privada” e resgatar o título.
Saulo Souza (PP) pretende criar e aprimorar ações para retomada do título de Estância Turística para nosso município, mas não detalha quais obras seriam para esse fim.
Em nota enviada à Agência Mural a respeito das metas concluídas nos últimos quatro anos, a gestão da prefeitura destacou a superação da crise econômica, o enfrentamento da pandemia de Covid-19 e a realização de obras e serviços de infraestrutura.
Entre outros tópicos, há também a construção de um viaduto na região central da cidade, a construção da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) no bairro Calmon Viana, a GCM (Guarda Civil Municipal), a Base Comunitária da GCM no Jardim Nova Poá e ações na área da saúde como cursos de capacitação, o Outubro Rosa, a Campanha Dona Chica, entre outras ações, na Secretaria da Mulher.
Sobre a Praça dos Eventos, o documento menciona a demolição do prédio do antigo Fórum de Poá, localizado em frente ao local, que havia sido interditado em 2009 por riscos de desabamento, e, desde então, ficou abandonado.
A resposta também cita o evento que “entrou para a história de Poá”, no dia 16 de março de 2024, “data em que a prefeita Marcia Bin entregou para a população poaense o novo viaduto Prefeito Eduardo Carlos Felippe”, localizada no centro da cidade, recebendo motoristas que vêm de vêm de Suzano, Calmon Viana e demais bairros, sentido Centro, Itaquá, SP-66 e Rodovia Ayrton Senna.
*resposta em nome do coletivo
Jornalista, também é crítico de cinema e redator. Sempre ouvindo ou assistindo alguma coisa, do novo ao velho, do longa-metragem ao reels do Instagram ou Tik Tok. Correspondente de Poá desde 2021.
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