Estudantes criaram campanha nas redes sociais e têm questionado qualidade do ensino a distância; instituições alegam que custos permanecem
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Por: Katia Flora
Notícia
Publicado em 21.05.2020 | 18:50 | Alterado em 21.05.2020 | 22:57
Estudantes criaram campanha nas redes sociais e têm questionado qualidade do ensino a distância; instituições alegam que custos permanecem
Tempo de leitura: 4 min(s)Estudantes das universidades particulares de São Paulo têm cobrado a redução no preço das mensalidades, por conta da suspensão das aulas presenciais durante a pandemia.
Por causa do novo coronavírus, o ensino foi migrado para o sistema EAD (Ensino à Distância), mas alunos reclamam da qualidade desse método e das dificuldades financeiras. Os valores não foram alterados, e alguns acadêmicos temem não conseguir pagar a mensalidade.
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A primeira mobilização foi feita por alunos da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Eles criaram uma página no Instagram e começaram a postar fotos de familiares, amigos e estudantes com a mensagem #reduz.
A campanha viralizou, e universitários de diferentes instituições aderiram, como da PUC (Pontifícia Universidade Católica), Unip (Universidade Paulista), São Judas Tadeu, Belas Artes, Uninove, Anhembi Morumbi, Cásper Líbero, Cruzeiro do Sul entre outras.
Viviane Cervati, 36, cursa o segundo semestre de direito no Mackenzie. O valor da mensalidade é R$ 2.386 no período matutino. Casada, ela tem um filho com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e tem ajuda dos pais, a irmã e o marido para pagar a faculdade.
Ela mora em Cidade Dutra, no extremo sul de São Paulo, em dois cômodos, nos fundos da casa da mãe. Com a pandemia do novo coronavírus, tem costurado máscaras para vender e complementar a renda da família. O marido teve redução de salário com a quarentena.
“Faço uma “vaquinha” entre meus familiares. Uma força tarefa para bancar minha mensalidade”, diz.
Viviane comenta que tem todos os pré-requisitos para ter uma bolsa de estudos, só não conseguiu porque tem uma graduação anterior em comunicação social. “Preciso fazer de tudo para continuar minha faculdade, sou muito boa no meio jurídico e sei que terei um futuro brilhante com boa dedicação”, afirma.
Situação parecida vive Pedro Henrique Aguiar, 18, acadêmico do Centro Universitário Belas Artes. Ele cursa o primeiro semestre de publicidade e propaganda, no período noturno, possui uma bolsa parcial, que deixa o valor da mensalidade em R$ 1.338 por mês.
Pedro trabalha como assistente de vendas em uma loja de roupas, mas desde a quarentena teve o salário reduzido. Ele vive na Vila Formosa, na zona leste de São Paulo, com a mãe, que é costureira autônoma – ela também perdeu renda, pois as encomendas pararam após o início da pandemia.
“As coisas têm ficado cada vez mais difíceis nesse momento, perdi a única ajuda que tinha para o pagamento das mensalidades e tive que também arcar com os custos necessários em casa”, lamenta.
O jovem diz que tentou contato com a Instituição para explicar o caso e se se era possível desconto ou redução da cobrança de juros, por não conseguir quitar nos dias corretos.
“Diversas vezes liguei e mandei email, sem retorno, depois que foi criado o movimento #Reduz Belas Artes, entendi que seria a última chance de conseguir apoio e não ter que trancar o curso”, comenta.
Com a mobilização na rede social, Pedro recebeu mensagem via Instagram para encaminhar um email para o setor financeiro. Agora, ele aguarda resposta.
AÇÃO COLETIVA
“A luta pela redução das mensalidades é coletiva e não individual”, diz Stéphanie Gonçalves Pedroso Ribeiro, 20, presidente do Centro Acadêmico 22 de Agosto e aluna do quinto semestre de direito na PUC (Pontifícia Universidade Católica).
Segundo ela, muitos universitários relataram que foram demitidos dos estágios e não conseguem pagar os estudos. A entidade que representa os acadêmicos no campus exige políticas de permanência na faculdade e bolsa de estudos para se manter na graduação.
Foram enviados três ofícios para a PUC. “Vamos continuar em defesa para que nenhum estudante seja prejudicado, enquanto Centro Acadêmico”, ressalta.
A UEE (União Estadual de Estudantes) de São Paulo ingressou junto ao TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) com ação em que pede a diminuição em 33% das mensalidades durante a quarentena e enquanto não houver aulas presenciais.
“Muitos estudantes são dos extremos da cidade, o que dificulta o deslocamento para estudar, foi uma pressão para a suspensão das aulas”, afirma Caio Yuji, 22, presidente da UEE. “Sem contar a queda na qualidade de ensino, não existe uma plataforma regular, uma estrutura, e o conteúdo não é igual ao presencial”, explica.
UNIVERSIDADES DIZEM MANTER GASTOS
O TJSP afirmou em nota que não há audiências futuras vinculadas a ação coletiva.
A Universidade Presbiteriana Mackenzie, diz que “não existe a possibilidade genérica de haver redução nos pagamentos das mensalidades”.
A universidade afirma que está honrando com todos os contratos com seus professores, colaboradores e fornecedores. “Estamos sob regime de excepcionalidade e, embora assim, mantendo todo o conteúdo programado para o ensino”.
O Centro Universitário Belas Artes afirma que vem seguindo rigorosamente as orientações atualizadas das autoridades competentes, dentre estas a Organização Mundial de Saúde. Informa que “as atividades acadêmicas presenciais permanecem suspensas, mas estão em andamento virtualmente”.
Por conta de toda transformação digital pela qual passamos e a manutenção da experiência presencial no modelo virtual, além da entrega integral do programa educacional desse primeiro semestre,não adotamos ainda nenhuma política de descontos.
A PUC foi procurada pela Agência Mural para esclarecer a situação dos universitários, mas não retornou.
Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.
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