122 km do rio estão poluídos; desde 1992, já foram gastos US$ 2,8 bilhões para ampliação e melhorias do sistema de esgotamento sanitário de SP
Por: Redação
Publicado em 11.01.2019 | 13:58 | Alterado em 11.01.2019 | 13:58
Cartão-postal da cidade, mas sem vida, o trecho do rio Tietê que corta a capital paulista sempre foi visto com águas poluídas, escuras e cheiro ruim. Esse é o cenário de, pelo menos, 70 anos.
O rio atravessa a região metropolitana de São Paulo e segue para o interior do Estado, desaguando posteriormente no rio Paraná, num percurso de quase 1.100 km.
É difícil de acreditar, mas, na década de 1940, ele era navegável e muitos o chamavam de “praia dos paulistanos”. Resolver o problema da despoluição do rio faz parte da promessa de diversos governos que já passaram por São Paulo e é quase uma obrigação falar dele em campanhas eleitorais.
CAMPANHA E INVESTIMENTOS
Em 1992, depois de um abaixo-assinado envolvendo mais de um milhão de pessoas, por meio de uma campanha feita pela ONG SOS Mata Atlântica e pela Rádio Eldorado, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) passou a investir no Projeto Tietê.
O projeto investe em infraestrutura para ampliar a coleta e tratamento de esgotos na região metropolitana de São Paulo. Também é o maior programa de saneamento do país.
Gustavo Veronesi, coordenador técnico do Observando os Rios, da Fundação SOS Mata Atlântica, afirma que a proposta previa realizar obras e encanamento para levar para grandes estações de tratamentos de esgoto.
“Mas a dinâmica da cidade é muito complexa e talvez, hoje, priorizar sistemas locais seja uma alternativa para algumas regiões. Acredito que, para acelerar esse processo, temos que pensar em alternativas que não é o modelo atual”, diz.
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Em nota, a Sabesp informa que já foram investidos US$ 2,8 bilhões para ampliação e melhorias do sistema de esgotamento sanitário da Grande São Paulo — que, segundo a pasta, contribui diretamente para a revitalização progressiva do rio Tietê e seus afluentes.
AÇÃO
Nos últimos 26 anos de investimentos, as intervenções ocorreram em 30 municípios. Neste período, foram construídas três das cinco grandes estações de tratamento de esgotos da região metropolitana de São Paulo. Segundo a Sabesp, a coleta de esgoto pulou de 70% para 87% e o tratamento de esgoto foi de 24% para 70%.
Ainda foram instalados aproximadamente 4.400 km de coletores-tronco, interceptores e redes coletoras de esgoto (tubulações enterradas com a função de coletar o esgoto gerado e transportá-lo até as estações de tratamento), o equivalente a distância de São Paulo a Bogotá, na Colômbia.
Veronesi acredita que os paulistanos podem contribuir, de forma simples, para resolver o problema.
“A população pode ajudar evitando jogar lixo em lugares incorretos, principalmente entulho, porque existem os pontos viciados e isso quem faz são as pessoas. Essas mesmo podem cobrar as obras de saneamento. A sociedade precisa entender que saneamento significa saúde”, explica.
“Nós temos grupos de voluntários que, uma vez por mês, vão para um ponto específico e analisam não só a qualidade da água do rio Tietê, mas também seus afluentes. A gente precisa entender esse conceito da bacia hidrográfica: não precisamos limpar o Tietê, basta não sujá-lo e isso significa não sujar também os outros rios, cada um deles é muito importante”
Gustavo Veronesi, coordenador técnico
De acordo com a Sabesp, outro resultado importante foi o aumento do volume de esgoto tratado, que saltou de 4 mil litros por segundo para os atuais 18,3 mil litros por segundo, o que equivale ao esgoto gerado por aproximadamente 10 milhões de pessoas – contingente semelhante ao da população da Suécia.
CONTAMINAÇÃO
O último levantamento da SOS Mata Atlântica, feito em setembro, mês em que se celebra o dia do rio Tietê (22/9), aponta que o trecho de 122 km mais contaminado representa 11% da extensão do rio. Ou seja, ainda está 51 km maior que a marca histórica de 71 km, alcançada em 2014.
A pior qualidade do rio, onde ele pode ser considerado morto, fica entre os municípios de Itaquaquecetuba e Cabreúva, com água em condições péssima e ruim.
As análises foram feitas pelo projeto Observando os Rios, em 83 corpos d’água de 32 municípios das bacias hidrográficas do Alto e Médio Tietê e Piracicaba, Capivari e Jundiaí.
FUTURO E EXPECTATIVA
O que se pode esperar dessas obras e o que está em andamento, é o interceptor de esgotos ITi-7, com 7,5 km de extensão sob a marginal Tietê. O projeto contempla ainda a instalação de coletores-tronco na região do Vale do Anhangabaú e do interceptor Tamanduateí (ITa.1-J).
Quando pronto, o sistema transportará mais esgotos para a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) Barueri, beneficiando bairros das regiões central e sul da capital paulista.
De acordo com a SOS Mata Atlântica, das oito toneladas de esgotos que deixaram de ser lançadas diariamente, sem tratamento nos rios afluentes do Tietê, houve a redução de 8 km de rio morto, que recuperou condições de qualidade da água em relação ao ciclo anterior (de setembro de 2016 a agosto de 2017).
Isso por conta da ampliação da ETE Barueri, que passou a tratar 12 m³/s de esgotos, o que corresponde ao volume gerado por 5,8 milhões de pessoas. Segundo a ONG, até 2017, a estação tratava 9 m³/s de esgoto.
O aumento na remoção de esgoto bruto que deixou de ser lançado no rio trouxe melhoria à qualidade da água no trecho entre Itu e Laranjal Paulista, elevando a média do Índice de Qualidade da Água (IQA) para regular.
Visando as eleições de 2018, a SOS Mata Atlântica lançou um conjunto de metas para os próximos governantes: o aprimoramento da norma que trata do enquadramento dos corpos d‘água, excluindo os rios de classe 4 da legislação brasileira.
Na prática, essa classe permite a existência de rios mortos, pois admite a existência de rios sem limites de diluição de poluentes.
Com isso, os indicadores reunidos nos estudos feitos anualmente poderão se traduzir em metas progressivas de qualidade da água nos rios e mananciais das bacias hidrográficas, em especial no rio Tietê e em seus principais afluentes.
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