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Agência de Jornalismo das periferias

Por: Danielle Lobato

Notícia

Publicado em 19.07.2022 | 12:05 | Alterado em 25.07.2022 | 16:54

Tempo de leitura: 3 min(s)
Esta reportagem foi produzida com o apoio do Instituto Unibanco IU

Ao chegar na sala de aula da escola estadual Manoel de Nóbrega, localizada em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, a estudante Luísa, 14, deixa a imaginação fluir. É ali no meio dos quadrinhos, miniaturas de personagens, mangás e outros elementos da cultura pop que ela aprende sobre arte, vestuário e moda.

“Gosto bastante porque fujo um pouco da realidade e muitas pessoas conseguem se distrair dos problemas. Além disso, consigo ampliar o meu mundo, principalmente, na parte da criação”, conta Luísa, que aspira ser designer de moda.

A atividade faz parte do “Eu no mundo do Cosplay”, uma disciplina eletiva que reúne cerca de 30 alunos por turma, entre 13 e 15 anos.

Na aula, eles participam de oficinas de artes em que desenvolvem esculturas dos mangás, animes e personagens de histórias em quadrinhos.

Também fazem apresentações com fantasias inspiradas nesses desenhos e refletem sobre o mercado de trabalho dos cosplayers e como a cultura pop é um reflexo do comportamento humano, além de desmistificar preconceitos.

Atividades envolvem produção de esculturas de personagens @Arquivo Pessoal

A ideia de usar os elementos da cultura dos mangás na sala de aula surgiu após o interesse dos alunos em ter na escola um espaço para a criação e de conexão com os personagens favoritos.

Luísa, por exemplo, tem como personagem preferido a protagonista Emma, de “The Promised Neverland”, obra de origem japonesa que conta a história de dezenas de crianças que vivem no orfanato Gracefield, um local todo arborizado onde uma mulher chamada de “Mamãe” é a responsável.

A trama ganha um lado sinistro quando Emma descobre que tudo é uma farsa e as crianças não são, de fato, adotadas. “Me identifico com a personagem, pois ela é alegre e bem ligada à família”, diz Luísa.

Na hora da elaboração das atividades, as professoras Joyce Stancine, 26, e Daniela Ferretti, 47, contam que apresentaram a ideia à gestão da escola e não tiveram nenhuma resistência. Elas receberam apoio da coordenadora e do diretor, que é artista plástico.

A possibilidade de criar esse tipo de aula surgiu por conta do projeto Inova Educação, do Governo do Estado, que prevê investir em tecnologia e matérias eletivas com foco em projetos de vida dos alunos a partir dos anos finais do ensino fundamental ao ensino médio.

Na escola Manoel de Nóbrega, foram feitas pesquisas com os alunos sobre os temas que eles tinham interesse. As respostas estavam relacionadas diretamente a séries, filmes e jogos. Para unir todos esses interesses e terem o engajamento dos alunos no projeto, ambas resolveram adentrar ao universo geek e cosplayer.

Alunas fantasiadas em uma das atividades da eletiva @Arquivo Pessoal

Para as educadoras é importante desmistificar a ideia de que o cosplay é apenas se vestir de um personagem.

“Hoje o cosplay é visto como uma profissão, um ramo que movimenta milhões [de reais] anualmente. E, para esta profissão, é necessário amplo conhecimento em diversas áreas, como moda e artes cênicas”, afirma Joyce.

Ela também cita que o trabalho ajuda na interação entre os alunos, “além de ser uma boa maneira de os mais tímidos tornarem-se mais sociáveis, extrovertidos e confiantes em si mesmos”.

Sobre os benefícios já adquiridos, a eletiva propicia o desenvolvimento de competências socioemocionais, como iniciativa social, tolerância ao estresse, curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico.

Games

Quem descobriu esse mundo pela primeira vez foi Vinicius Henrique, 14. O estudante conta que o personagem favorito é o Minato Namikaze, pai de Naruto, outro anime japonês. “Gosto da criatividade que a aula possibilita”, aponta o aluno que também vê esse aprendizado conectado com o desejo de trabalhar com jogos.

“Meu projeto de vida que é ser game designer ou streamer gamer, ou seja, desenvolvedor de jogos. E muitos dos personagens são cosplayers”, completa.

Na visão da desenvolvedora de jogos Raquel Silva, 20, correlacionar o mundo virtual do real na sala de aula ajuda a estreitar caminhos e mostrar um mundo de possibilidades.

“O mundo mudou e com ele novas profissões surgem. No caso dos alunos, é importante destacar que eles percebem como a eletiva pode aproximar dos seus anseios profissionais”

Raquel Silva, desenvolvedora de jogos

Ela explica que fazer cosplay, ao contrário de apenas se fantasiar, necessita de muita pesquisa, planejamento e amor pelo personagem ou obra. O cosplayer não só se veste, mas também procura conhecer bem o personagem no qual está vestido para interpretá-lo com maestria nos eventos de cultura pop.

Para mostrar isso na prática aos alunos, as professoras promoveram uma visita em uma fábrica de moda, localizada em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. “Eles aprenderam sobre o universo da confecção a fim de realizar a criação dos moldes de seus cosplayers, que foram apresentados em um evento aberto à comunidade local”, finaliza Joyce.

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Danielle Lobato

Jornalista, sagitariana com ascendente em lanches. Mãe de pet, viajante e apaixonada pela vida. Correspondente de Itaim Paulista desde 2016.

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ERRAMOS

19.07.2022O nome da escola é Manoel de Nóbrega e não Manoel da Chagas, como publicado inicialmente. O nome da professora também foi corrigido para Daniela Ferretti, em vez de Daniela Camargo.

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