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Agência de Jornalismo das periferias

André Santos/Agência Mural

Por: André Santos

Notícia - Reportagem: André Santos

Publicado em 05.07.2021 | 21:54 | Alterado em 30.11.2021 | 15:46

Tempo de leitura: 3 min(s)

Moradores do Jardim Fontalis, na zona norte de São Paulo, no Jaçanã/Tremembé, encontraram uma maneira criativa de manter as praças da região livres para a circulação de pessoas: cultivar plantas e promover ações sociais para que os moradores passem a ocupar o local nos fins de semana.

Ao longo de todo mês de junho, o grupo pintou bancos e mesas de concreto, providenciou cortes de cabelo gratuitos, além da distribuição de 50 kits com balas e doces para as crianças.

Com a adesão de mais pessoas, os moradores já pleiteiam o espaço para futuras ações culturais, afirma o segurança patrimonial Diego Oliveira de Toledo, 32. “Nosso objetivo é impedir a ocupação da praça por veículos que estacionam sobre a grama e o passeio”, afirma.

A praça fica ao longo da Rua Barão Carlos de Sousa Anhumas. É um canteiro que se estende por mais de 200 metros, utilizado para exercícios, caminhadas matinais e noturnas durante a semana.

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Carro estacionado sobre a praça @André Santos/Agência Mural

O receio dos moradores começou com a chegada de um novo empreendimento no bairro. Quando começaram as obras do condomínio Portal da Cantareira, no início de 2020, já durante a pandemia. A construção fica na mesma avenida.

“Várias vezes já presenciei veículos transitando na calçada da praça, já discuti com muitos proprietários”, afirma Diego.

“Os funcionários da Tenda (Construtora Tenda S.A., proprietária da obra) sem respeito algum estacionam os carros na nossa praça, que é o único espaço de lazer que nós temos”, lamenta o cientista social Alain Gerino, 35.

A chegada do condomínio trouxe outros problemas, afirmam os moradores. Além dos carros estacionados na praça, houve a derrubada dos grandes eucaliptos que havia na região, a obra deixa poeira e lama, e o barulho de máquinas pesadas e caminhões ao longo dos dias mudaram a rotina.

Outra preocupação é o impacto na região. Segundo o site da empresa, todos os apartamentos foram vendidos e há apenas quatro vagas de estacionamento. “Serão 300 famílias a mais aqui, se metade tiver carro serão 150 sem garagem para estacionar. Vão estacionar onde? Na praça?”, questiona Alain.

Procurada, a Tenda afirma que “o condomínio está em conformidade com a legislação vigente e prevista no decreto nº 59.885 de 4 de novembro de 2020”.

O decreto estabelece que as vagas de automóvel, motos e bicicletas são facultativas em EIHS (Empreendimento de Habitação de Interesse Social). A Tenda afirma também que “não há exigência de contrapartidas para este padrão de empreendimento dado o atendimento social que se propõem”.

A empresa afirma que os apartamentos são para quem tenha renda entre 0 e 6 salários mínimos. “A companhia acredita que sua atuação tem importante função social, uma vez que trabalha exclusivamente no segmento de habitação popular”, afirma.

A Secretária Municipal de Urbanismo e Licenciamento – Parcelamento do Solo e Habitação de Interesse Social confirmou que o projeto foi aprovado e não há contrapartidas previstas.

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Diego cuidando do abaixo-assinado @André Santos/Agência Mural

ILUMINAÇÃO E CULTURA

Para além do receio de perder a praça, os moradores querem aproveitar a mobilização para garantir um espaço cultural no bairro.

“Nosso bairro se ressente da falta de atividades como leitura, música, saraus e atividades esportivas”, afirma Diego.

Oliveira conta que pediram a concessão de uso para a subprefeitura, mas o pedido foi negado. “Fomos informados que não seria possível, mas, que poderíamos entrar com o pedido para sermos mantenedores do espaço, o que já somos, na verdade”, completa.

Os organizadores também colhiam assinaturas para um abaixo-assinado visando a obtenção de iluminação pública para um trecho da Rua Barão Carlos de Sousa Anhumas, um problema antigo da região.

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Distribuição de doces e organização da fila @André Santos/Agência Mural

Na ação dos moradores, mais de 20 cortes de cabelos e barbas foram feitos gratuitamente. “É importantíssimo ajudar o próximo, gostei muito da iniciativa, e não há lugar melhor para fazer isso do que no próprio bairro onde cresci”, afirma o barbeiro Victor Hugo Coelho de Brito, 23, nascido no Jardim Fontalis.

O grupo de moradores custeia a ação por meio de arrecadação entre os amigos. “A ideia é montar uma associação de moradores e com isso uma Casa de Cultura no nosso bairro, então, não temos a intenção de cessar as atividades”, pontua Diego.

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André Santos

Jornalista, entusiasta do carnaval, do futebol de várzea, de bares e cultivador assíduo da sua baianidade nagô! Correspondente do Jardim Fontalis desde 2017.

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