Debate sobre pobreza menstrual impulsiona iniciativa de distribuição de absorventes no Jardim Jaqueline, zona oeste de São Paulo
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Por: Redação
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Publicado em 29.06.2021 | 17:16 | Alterado em 30.06.2021 | 8:46
Na casa de Vanda Cristina Ferreira, 36, a menstruação sempre foi um tabu. “Minha mãe não era muito de conversar, eu já converso mais com a minha filha, mas minha mãe já era mais fechada. Eu só soube da menstruação quando veio, né. Aí foi caindo a ficha”.
Moradora do Jardim Jaqueline, na periferia da zona oeste de São Paulo, ela está desempregada e acabou de ter outra filha. Recentemente, dependeu de doações de cestas de alimentos de um grupo da Paróquia São Matheus.
O grupo, contudo, também tem ajudado nessa questão de saúde e doado absorventes. Daniella Horácio, de 34 anos, moradora do Jardim Jaqueline, no distrito do Butantã, desenvolveu em conjunto com outras pessoas uma ação da pastoral social da Paróquia São Matheus.
“Não imaginava que tinha gente que usava miolo de pão ou jornal porque não tinha condições de comprar absorventes”, afirma Daniella.
Essa história foi contada pelo Próxima Parada, o podcast que te acompanha seja no busão ou no metrô lotado e te atualiza sobre o que acontece nas quebradas. Ouça o episódio na íntegra:
A pobreza menstrual entrou em pauta nas últimas semanas, por conta do do Dia Internacional da Dignidade Menstrual em 28 de maio, cresceram as notícias e discussões sobre a pobreza menstrual.
A data, que foi criada pela OMS (Organização Mundial da Saúde), é um alerta sobre a falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimento para que as pessoas que menstruam tenham plena capacidade de cuidar da própria menstruação.
Segundo a ginecologista e obstetra Larissa Cassiano, o que intensifica essa tabu ao redor do tema é o fato de também não haver iniciativas de distribuição pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
“Os absorventes são vistos como itens de higiene pessoal e eles são taxados com valores mais altos, então se a gente colocar isso como um item de higiene básico e não como um acessório, a gente conseguiria diminuir os impostos. Esse item deveria ser distribuído nos postos de saúde, deveria estar nesse nível”, completa ela.
Essas dificuldades afetam também, quem está no ensino escolar. Não ter condições estruturais para cuidar da própria menstruação é um fator que acaba impactando vários âmbitos da vida de quem menstrua.
Um relatório divulgado em maio deste ano pelo UNICEF, em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas, mostrou que quase 200 mil estudantes não usufruem de condições mínimas para cuidar da própria menstruação na escola.
Recentemente, o governo do estado divulgou o programa “Dignidade Íntima”. O projeto promete destinar R$ 30 milhões para a compra de produtos de higiene menstrual para as escolas da rede estadual.
Mas, embora seja uma iniciativa importante, para a ginecologista Larissa Cassiano, esse é apenas um começo do que deve ser feito diante de um problema como a pobreza menstrual. “Não é a resolução do problema, até porque se formos pensar isso vai favorecer as pessoas que estão em idade escolar e que não é a maior parte da população que menstrua.”, explica a ginecologista.
PRÓXIMA PARADA
Parceria entre a Agência Mural e o Spotify, o Próxima Parada conta com a colaboração de jornalistas vindos dos bairros periféricos da Grande São Paulo. Para ouvir o episódio, basta clicar no link do programa e se cadastrar gratuitamente no aplicativo.
De segunda a sexta-feira, sempre no final da tarde, Ana Beatriz Felicio e Rômulo Cabrera contam histórias, analisam fatos e apontam possíveis soluções para as demandas das quebradas. A produção é de Gabriela Carvalho, com edição de som de Pammela Gentil e coordenação de Vagner de Alencar.
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