Por: Redação
Notícia
Publicado em 21.03.2019 | 15:53 | Alterado em 10.02.2023 | 18:51
Por três anos, Tereza*, 63, ouviu os gritos ecoados da casa ao lado. Eram as agressões sofridas por sua vizinha, uma idosa de 80 anos, no Parque Edu Chaves, na zona norte de São Paulo. O agressor: o próprio filho da senhora, alcoólatra, de 60 anos.
“A gente sempre chamava a polícia, mas ele nunca era levado”, conta Tereza. O chamado era feito para uma delegacia convencional. Até conversar com a reportagem, a dona de casa desconhecia as delegacias especializadas de proteção ao idoso.
A capital paulista conta com oito Delegacias de Proteção ao Idoso de São Paulo. Elas são direcionadas à proteção de pessoas com idade a partir dos 60 anos e responsáveis por realizar pedidos de medidas protetivas em casos de violência doméstica e violação de direitos, previstas no Estatuto do Idoso.
A unidade mais próxima de Tereza e de sua vizinha fica a mais de 7 km, no Carandiru, também na zona norte.
Ao contrário de Tereza, a esteticista Patrícia*, 39, moradora do bairro vizinho, Tucuruvi, já havia acionado uma unidade policial quando precisou denunciar um caso envolvendo a avó. “Foi em 2018. Tive que dar queixa dos meus tios e minha mãe porque minha avó estava largada. Ninguém sabe que fui eu que fiz a denúncia”, revela.
“Me disseram que quem deveria denunciar era minha própria avó, não eu. Como eu já tinha lido o estatuto do idoso, eu inclusive lia os artigos para eles, sabia que tinha que ficar lá mesmo, até conseguir dar a queixa.”
“Minha avó estava sofrendo abandono e seria incapaz de denunciar um filho”, completa ela, que demorou cinco horas para ser atendida por um delegado, que direcionou o caso para a assistência social na própria delegacia.
“Conversei com uma assistente social super atenciosa. Ela me disse que a situação era caso para um boletim de ocorrência mesmo. Voltei com o delegado, e meu tio foi finalmente intimado 30 dias depois”.
Patrícia conta ter ficado com medo de ser identificada. “O delegado não falou que fui eu, isso foi um alívio. Por isso meu tio acha que foi alguma vizinha, justamente porque a vizinhança ameaçava de fazer a denúncia”, explica.
Porém, após a chegada da intimação, a esteticista conta que as agressões se acentuaram. “Comecei a filmar, daí ele veio para me bater. Na hora, fingi estar ligando para a polícia. Ele ficou com medo e foi embora. Nunca mais voltou. Agora estou morando com ela”.
O delegado Adilson Jorge Donofrio, chefe da 7ª Delegacia de Polícia de Proteção ao Idoso, esclarece que, se as vítimas sofrerem roubo, elas também podem registrar queixas em uma delegacia normal.
“Aqui, como é a especialidade, ela atende o estatuto do idoso, uma lei especial, a nº 10.741 de outubro de 2003”, explica ele, que trabalha há quatro anos em Itaquera, na zona leste de São Paulo.
Donofrio revela que a maioria das vítimas relata sofrer agressão dentro da própria casa. “Às vezes acontece algo com idosos na rua, mas é muito raro. Estelionato é um dos crimes que também cometem com pessoas de mais idade. Mas a maioria das ocorrências que recebemos, infelizmente, vem dos próprios familiares. Por isso temos que pensar em como o brasileiro está envelhecendo.”
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), do último censo demográfico de 2010, vivem em São Paulo mais de 1 milhão de pessoas com mais de 60 anos na cidade de São Paulo.
Ainda segundo o delegado Donofrio, o atendimento nessas unidades é individualizado e os funcionários alocados passam por uma seleção. “Eles recebem instrução para auxiliar da melhor forma cada denúncia. Às vezes o idoso tem surdez, não enxerga bem ou é cadeirante, então esses funcionários precisam ser mais cuidadosos e pacientes. Em uma delegacia comum o atendimento é igual a todos”.
“A delegacia do idoso não é muito divulgada, mas esse serviço começou a ser procurado e isso também representa o envelhecimento da sociedade”, comenta.
Além das oito delegacias de polícia de proteção ao idoso (confira os endereços no mapa acima), as vítimas podem denunciar também pelo Disque 100, que funciona 24 horas por dia, incluindo sábados e domingos. Lá, as denúncias são recebidas, analisadas e encaminhadas.
O serviço atende ainda queixas de violações de direitos relacionadas a grupos ou temas como: pessoas idosas, crianças e adolescentes, e população LGBT+.
Para mais informações, acesse: https://www.mdh.gov.br/disque100.
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