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Por: Evelyn Fagundes

Notícia

Publicado em 12.05.2023 | 10:47 | Alterado em 19.05.2023 | 14:59

Tempo de leitura: 4 min(s)

Conhecida como “Viela do 15”, a Viela do Machado era utilizada como ponto de descarte irregular de lixo na região do Pimentas, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Incomodados com a situação, moradores se uniram para realizar a limpeza do local. No entanto, “ainda estava faltando alguma coisa”, conta o líder comunitário Lucas Felipe, 26.

Para ele e para os residentes, o que faltava era ocupar de forma mais significativa a via, e fazer dela um lugar para o bem-estar da comunidade. Foi assim que surgiu o Cine na Viela.

A ideia foi criar um ambiente de cinema para jovens e crianças do bairro Tupinambá. A proposta foi abraçada pela comunidade que tirou o plano do papel. “Sem a parceria dos moradores o evento não estaria acontecendo”, diz Graziele da Silva, 27, uma das organizadoras.

Lucas Felipe é um dos organizadores. Evento conta com refrigerantes e pipocas @Léu Britto/Agência Mural

Lucas Felipe, por exemplo, emprestou o projetor, telão e notebook. Taty, vizinha de Lucas, trouxe uma caixa de som. Outro morador cedeu para o evento uma pipoqueira. Cadeiras foram emprestadas pela associação de moradores da região. Copos e refrigerantes foram doados por outros residentes e, por vezes, até pelos comerciantes locais.

“A gente foi comprar copos na adega e o comerciante negou nosso pagamento. Ele disse ‘não, isso é na minha conta. É para ajudar o projeto, é para dar para as crianças’”, relembra Graziele.

Tirar do celular

Danilo José, 37, é morador da região e se considera um “faz tudo” do projeto. “Limpeza, montagem, máquina de pipoca. O que precisar eu estou disponível”, conta. Apesar de todo o trabalho para construir o evento, para ele, a sensação que fica ao ver as crianças assistindo é de gratificação.

“Para a comunidade, culturalmente, é bom porque muitas crianças não têm TV. Tem criança que está na rua e podia estar fazendo outra coisa”, diz Danilo. O envolvimento dele com o projeto vai além da ajuda, pois ele também leva a filha, Bruna Gabrielly, 8, para assistir as produções.

“Ela gosta demais e fica sempre perguntando quando vai ter de novo”, diz Danilo, que ressalta que é um jeito de tirar as crianças do celular, fora a integração com os vizinhos. “Você vê pessoas que você nunca cumprimentou ou não conversa ali, ajudando junto contigo no evento”, completa Graziele.

Crianças são o principal público do Cine na Viela @Léu Britto/Agência Mural

A opção de lazer tem ajudado os pais que tem dificuldade para levar os filhos para parques mais distantes e para as crianças que não viram ainda uma sala de cinema grande. O Pimentas é a região mais populosa de Guarulhos com mais de 156 mil habitantes. Por lá há poucos espaços de cultura, como os presentes em um CEU (Centro de Educação Unificado).

A maior parte do público tem entre três e sete anos, mas também adolescentes, adultos e idosos são frequentadores. São 100 cadeiras para o público. “É uma opção de lazer para a criançada, mas até para nós mesmos que somos adultos a gente se diverte”, brinca Karine Valeria, 28, que cresceu no bairro.

Ela também ajuda na organização do projeto e, assim como Danilo, leva a filha.

“A gente não teve nada disso na nossa infância, então, o que temos agora na comunidade eu estou tentando aproveitar o máximo para que minha filha participe”

Karine Valeria, moradora do Pimentas

A filha de Valeria, Maria Helena, 7, diz que adora participar. “Amei o Cine, conheci várias crianças novas. O que mais gostei do evento foi o filme, mas também gosto porque tem pipoca, refri e amigos”, diz Maria Helena, 7.

Até o momento, foram realizadas na viela 4 sessões de cinema. De todos os filmes, o preferido de Maria foi “Encanto”, animação da Disney sobre a magia de uma família colombiana, protagonizado pela menina Mirabel, que está em busca de saber quais são seus poderes. “Tem muita música, muito desenho é muito legal pra mim”, descreve a criança.

De acordo com Lucas, a ideia do projeto é transmitir produções cinematográficas com protagonistas negros para que, ao assistirem, as crianças e jovens possam também se enxergar como protagonistas.

Colaboração

O Cine é realizado próximo de um bar que promove festas de quinta-feira até o domingo com som alto. Isso foi motivo de preocupação para os organizadores, pois o som poderia atrapalhar o evento, que ocorre aos fins de semana.

No entanto, durante o projeto, houve cooperação por parte do comércio. “A galera respeitou, ninguém ligou paredão e a gente não teve que pedir ‘pô, tem como você dar uma baixadinha porque tá rolando atividade ali com as crianças’. A gente não teve esse problema”, menciona Lucas.

Espaço foi revitalizado pelos moradores @Léu Britto/Agência Mural

O projeto também trabalha simples noções educativas para as crianças, com “combinados” para preservar a limpeza do ambiente.

“Nós falamos: ‘vocês vão receber um copo com refrigerante, não joguem esse copo fora. Quem jogar o copo fora não vai ganhar mais refrigerante. Lixo é no lixo, não pode jogar lixo no chão e não é só aqui no cinema, mas em todo outro lugar’”, explica Lucas,

Expansão do Cine

O evento, que geralmente é realizado em um fim de semana por mês, já chamou a atenção de outras pessoas fora da região do Tupinambá.

Evento reúne cerca de 100 pessoas na viela @Léu Britto/Agência Mural

Evento reúne cerca de 100 pessoas na viela @Léu Britto/Agência Mural

Evento reúne cerca de 100 pessoas na viela @Léu Britto/Agência Mural

Léu Britto/Agência Mural

O foco é se manter no mesmo lugar que o projeto se iniciou, no entanto, eles enxergam necessidade em expandir, alcançando outras crianças em condição de vulnerabilidade e que não têm fácil acesso a filmes.“Vamos levar pelo menos um dia para outros lugares”, planeja Lucas.

Nesta sexta-feira (13), véspera do Dia das Mães, a sessão será realizada na Viela do 15. Em 27 de maio, o plano é transmitir um filme na Rua Santiago, número 350, no Sítio São Francisco. Nos dias 10 e 11 de junho, o Cine na Viela retoma para a Viela do 15.

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Evelyn Fagundes

Jornalista em formação pela PUC-SP, instituição onde desenvolve sua pesquisa sobre as obras do Racionais MC's. Mãe de pet e planta, canceriana e apaixonada por música. Correspondente de Guarulhos, na Grande São Paulo, desde 2022.

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