Na zona sul, famílias em áreas de risco esperam ser contempladas com apartamentos do Residencial Espanha, entregues pela Prefeitura de São Paulo
Por: Redação
Publicado em 09.01.2019 | 13:26 | Alterado em 09.01.2019 | 13:26
No Jardim Apurá, zona sul de São Paulo, 570 famílias que vivem em áreas de risco às margens da represa Billings reivindicam os apartamentos do Residencial Espanha, no Parque dos Búfalos.
Em outubro de 2018, a subprefeitura de Cidade Ademar entregou 580 moradias. Ao todo, serão entregues 3.860 unidades habitacionais, divididas em 193 prédios. A previsão da população a ser reassentada no empreendimento é de aproximadamente 13 mil pessoas.
A aposentada Maurina Rosa de Jesus Santos, 63, não foi uma das moradoras beneficiadas com um apartamento no local. Há dez anos ela reside no Jardim Pilão, onde seu quintal é a Billings. Por lá, ela vive numa casa com três cômodos e sofre com o mau cheiro do rio.
“Sinto dores de cabeça. Esses dias eu estava com começo de pneumonia por causa da friagem. Tenho problemas de audição e a situação piorou depois que vim morar aqui. Tomo 16 remédios por dia”
Maurina Rosa de Jesus Santos, aposentada
A casa de Maurina têm infiltrações nas parede e umidade. Quando chove, escorre muita água, formando rachaduras. Ela teme que a residência possa cair. “Meu sonho é sair daqui, ter uma casa e condições dignas de moradia”, conta.
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Em julho deste ano, a prefeitura notificou os domicílios com um selo de cadastramento de habitação e estudo fundiário. Desde então, moradores aguardam o reassentamento.
Além do empreendimento Residencial Espanha, munícipes reclamam da falta de infraestrutura na região, como creches, escolas, postos de saúde e transporte público.
PROBLEMAS DE SAÚDE AGRAVADOS
O Jardim Apurá possui apenas uma Unidade Básica de Saúde (UBS). O espaço fica em uma casa com cômodos divididos em várias salas de atendimento — mas que não comportam o número de pacientes. São 13.800 moradores do bairro cadastrados.
Moradora do Jardim Pilão, a diarista Zélia Maria Cardoso, 62, têm uma filha especial. Para conseguir uma consulta de rotina para a filha, ou para ela, que tem osteoporose, Zélia demora meses. Geralmente, mãe e filha vão para o hospital da Pedreira, em Santo Amaro, a 13 km de distância de sua casa.
“Tenho dores nas pernas por causa da osteoporose. Onde eu moro tem escadas, então preciso passar com um ortopedista. Minha filha tem 33 anos e não posso deixá-la sozinha. Às vezes, ela não consegue comer por causa do cheiro ruim da Billings e fica doente. É uma correria”
Zélia Maria Cardoso, diarista
Desempregado e pai de duas filhas, Thiago Sousa Silva, 33, também reclama do cheiro insuportável da represa. Ele mora há 23 anos na região, em dois cômodos construídos na parte superior da casa da irmã.
“No verão é mais complicado; o forte odor incomoda. Sempre que passo de carro perto dos prédios, minhas filhas perguntam quando elas vão morar lá. Eu respondo que ‘em breve’”, enfatiza.
Silva paga o transporte escolar para levar as crianças até o Centro Educacional Infantil (CEI) Pedreira, pois o bairro onde mora ainda não têm creche. Ele gasta, em média, R$ 300 por mês com o transporte.
ÁREA VERDE X MORADIA
Dados do Mapa da Desigualdade 2018, divulgados pela Rede Nossa São Paulo no fim de novembro, revelam que o distrito de Cidade Ademar tem o pior índice de área verde por habitante na capital.
Considerada a maior área verde da subprefeitura de Cidade Ademar, o Parque dos Búfalos é alvo de debate na região. População e movimentos sociais lutam para manter a área preservada do parque e as nascentes da represa.
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O conselheiro gestor de mananciais Wesley Silvestre, 31, diz que, em 2011, começou o embate pela preservação do Parque dos Búfalos. Seria o segundo maior parque de São Paulo dentro da periferia. A prefeitura, entretanto, tinha o projeto de construção das unidades habitacionais no local.
“É um adensamento populacional que não tem infraestrutura. Falta escola, creche, hospital e transporte público. As pessoas que moram no bairro não estão sendo contempladas com os apartamentos”, destaca.
Silvestre alega que a prefeitura prometeu ampliar o número de funcionários na UBS Jardim Apurá — o que ainda não ocorreu. Em caso de emergência, os munícipes são atendidos no Centro de Especialidades Municipal Quarteirão da Saúde, em Diadema, na Grande São Paulo.
“A prefeitura prometeu oito equipamentos públicos que até agora não foram construídos. Sabemos que a Cidade Tiradentes [na zona leste] levou dez anos para ter uma escola; não queremos esperar esse tempo”, diz.
Entre os equipamentos prometidos, estão um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), um Centro de Educação Infantil (CEI), uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI), uma Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) e um Posto da Guarda Civil Municipal (GCM).
PROMESSAS DA PREFEITURA
Em nota, a Prefeitura de São Paulo informa que o Empreendimento Residencial Espanha foi construído para atender famílias removidas de frente de obras públicas financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2.
Também serão atendidos moradores retirados de áreas de extremo risco e de recuperação ambiental, localizadas na Área de Proteção e Recuperação de Mananciais da Bacia Hidrográfica do Reservatório Billings (APRM-B).
“Diversas famílias que residem às margens do Reservatório Billings, em assentamentos precários, em situação de risco geológico ou hidrológico, terão atendimento habitacional definitivo no Residencial Espanha. Entre elas, as comunidades: Fumaça, Neblina, Leblon, Marginal Dois (Fundão), Dois, Paulistas (Pilão), na Cidade Ademar, e Cantinho do Céu e Pabreu, essas duas últimas na Capela do Socorro”
Prefeitura de São Paulo, em nota
As comunidades que não ficam às margens da Billings, mas que estão em importantes afluentes do Reservatório, também serão realocadas no Residencial Espanha. São elas, as comunidades Guaicuri, Santa Amélia e Apurá.
Segundo a Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB), as famílias no perímetro de ação serão reassentadas no primeiro semestre de 2019.
O órgão também esclarece que as obras de infraestrutura estão sendo realizadas na medida em que os condomínios são entregues, como alargamento de vias, contenção de risco, construção de estação elevatória de esgoto e troca da frota de ônibus das linhas existentes.
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Há uma área institucional com aproximadamente 39 mil m², que abrigará um Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI), uma Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) e um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).
Em relação ao Parque dos Búfalos, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) informa que a área da subprefeitura de Cidade Ademar possui o parque Sete Campos que conta com aproximadamente 80.000 m² com área verde, equipamentos de lazer e esporte.
Ainda de acordo com a Secretaria, a região ganhará o Parque Jardim Apurá-Búfalos, sendo o quinto maior parque urbano da capital paulista.
Já a Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) Sul informa que, para atender os moradores do Residencial Espanha e melhorar o atendimento na região, está prevista no Plano de Trabalho de 2019 a ampliação de mais quatro equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), dobrando sua capacidade atual.
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