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Ideb de escolas em Itaquaquecetuba mostra desigualdade no ensino público

Cidade teve a menor nota no Ideb da Grande São Paulo; alunos da escola com a maior e menor nota avaliam educação no município

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Arquivo Pessoal

Por: Lucas Landin

Notícia

Publicado em 23.11.2020 | 20:08 | Alterado em 23.11.2020 | 20:09

Tempo de leitura: 4 min(s)

Os números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2019, indicador que mede a qualidade da educação em todo o país, deixaram animados os alunos da escola técnica Estadual Itaquaquecetuba, na periferia da cidade da Grande São Paulo.

A instituição obteve média 6,9 no ensino médio, numa escala que vai de 0 a 10. Foi tão bem, que apareceu no ranking das 100 melhores escolas públicas do Brasil, na 85ª posição.

Mas tal alegria não foi compartilhada por todos os estudantes da cidade. Itaquaquecetuba, uma das mais pobres cidades da região metropolitana de São Paulo, ainda sofre para melhorar seus índices de educação.

Em 2019, o município obteve nota média de 3,9 no ensino médio, e amargou a última posição no ranking do Ideb para essa faixa em toda a Grande São Paulo. Também foi a única das 39 cidades que não chegou a média de 4,0.

Mais próxima da realidade de Itaquá está a escola estadual Mário Martins Pereira, no Recanto Mônica, também na periferia do município. Com nota 3,0 no ensino médio, foi a pior da cidade no Ideb para essa faixa, mas não ficou tão distante da média.

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Letreiro da Escola Estadual Mário Martins Pereira Itaqua @Lucas Landin/Agência Mural

Apenas 11 km separam a Etec Itaquaquecetuba da escola estadual Mário Martins, mas a distância entre as duas é mais do que geográfica. Ambas estão em bairros periféricos, mas possuem estruturas completamente distintas e ilustram a desigualdade entre escolas do ensino público no estado.

Segundo dados do portal qEdu, site da Fundação Lemann que disponibiliza dados da educação básica em todo o país, a primeira escola possui biblioteca, laboratório de ciências e informática, com 98 computadores para uso dos alunos. A segunda tem apenas uma sala de leitura e seis computadores livres. 

Selecionados por meio de um vestibular, os estudantes da Etec também possuem a chance de ingressar nos cursos técnicos oferecidos pela instituição. 

Questionada sobre os baixos índices da rede estadual na cidade, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP) afirma que a rede bateu a meta estipulada, que era de 3,6 em 2019.

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O estudante Matheus Prazeres pretende fazer o Enem @Arquivo Pessoal

DESIGUALDADES DE SONHOS 

O baixo rendimento das escolas públicas acaba afetando os planos e sonhos dos jovens na cidade. “Há um desinteresse nos alunos. A escola não tem uma boa fama, então todo mundo pensa que os estudos não vão acrescentar em nada na vida”, afirma Matheus Prazeres, 18, aluno do 3º ano da Mário Martins.

“O ensino não é tão bom, você aprende o básico, por cima. Quando você entra para fazer um cursinho, você se dá conta de que tudo que viu na escola não foi quase nada do que realmente necessitava”, desabafa o jovem, que garante ser um dos poucos da turma que sonha ingressar no ensino superior.

Segundo o IBGE, em 2010, apenas 3,7% dos moradores de Itaquaquecetuba haviam concluído uma graduação. Matheus, que pretende cursar enfermagem, tentará fazer parte desse grupo, mas não agora. A prioridade dele é arrumar um trabalho para ajudar nas despesas da casa, que divide com o pai e a madrasta, na Vila Augusta, periferia da cidade.

Ainda assim o jovem tentará o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) em janeiro do ano que vem. Chegou a se matricular num cursinho pré-vestibular gratuito, mas não conseguiu conciliar com os estudos do ensino médio a distância, que vem sendo uma grande dificuldade.

“Os estudos estão bem complicados, porque a gente não tem toda a estrutura de computador, wi-fi em casa. O aplicativo do governo também não é tão bom assim, às vezes explicam de uma forma que a gente não entende. Bem complicado”, diz.

A região do Recanto Mônica e Vila Augusta, onde fica a escola e a casa de Matheus, é uma das mais afastadas do centro de Itaquaquecetuba. Sua ocupação é fruto da explosão demográfica que a cidade enfrentou entre 1990 e 2010, quando trabalhadores de classes D e E, principalmente da zona leste de São Paulo, eram atraídos pelos baixos preços dos loteamentos irregulares. 

Esses trabalhadores enxergavam ali uma oportunidade de abandonar o aluguel e realizar o sonho de ter uma casa própria.

No fim da década de 2000, o asfalto chegou em muitas ruas da região, mas até hoje a conexão por ônibus com o centro do município é precária. Por isso, muitos moradores tentam emprego na vizinha Mogi das Cruzes, já que os bairros estão localizados na divisa.

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Ana Guerra estuda na ETEC Itaquaquecetuba @Arquivo Pessoal

Na outra ponta da cidade, a região do Jardim Miray-Aracaré, território da Etec, fica no limite com a cidade de Poá, mas não tão longe do centro de Itaquaquecetuba. Surgiu como subúrbio nos anos 1950, após a construção da estação Aracaré da Estrada de Ferro Central do Brasil, parada hoje pertencente à linha 12 da CPTM.

Também viu sua população aumentar nos anos 1990 e 2000, e suas casas de classe média passaram a dividir espaço com condomínios fechados, loteamentos irregulares e favelas, como a Favela da Tubulação.

É lá que vive Ana Guerra, 18, aluna do 3º ano do ensino médio na Etec. Filha de um funcionário público e de uma pedagoga, Ana sonha em ingressar em um curso de medicina em 2021. Em fevereiro, começou um cursinho pré-vestibular pago para ajudá-la na empreitada.

Confiante, também prestará o Enem e tentará o vestibular da USP (Universidade de São Paulo), o mais concorrido do país. “Onde me aceitarem, estarei entrando”, brinca. “Mas o sonho é uma universidade pública”.

Se tudo der certo para Ana, o nome dela estará estampado numa faixa que sua escola exibe todo ano, na fachada, com o nome de todos os alunos dali que foram aprovados em universidades públicas pelo país. 

ENSINO BÁSICO

Em Itaquaquecetuba, todas as escolas de ensino médio competem ao governo estadual, com exceção do Instituto Federal, ligado ao Ministério da Educação. Porém, o ensino básico, comandado pela prefeitura, também não foi bem avaliado pelo Ideb 2019.

No ensino fundamental I (1º ao 5º ano), a cidade obteve média 5,6, à frente apenas de Pirapora do Bom Jesus, na Grande São Paulo. No fundamental II (6º ao 9º ano), a cidade tirou média 4,8, à frente apenas de Jandira, e empatada com Osasco. Tanto no fundamental I quanto no fundamental II, a cidade ficou abaixo da média estipulada.

Eleito prefeito nas eleições 2020, o Delegado Eduardo Boigues (PP) prometeu em seu plano de governo adotar o ensino em tempo integral nas escolas e alavancar as notas do Ideb. 

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Lucas Landin

Mestrando em políticas públicas pela Universidade do Chile. Amante da política, das ferrovias e dos felinos. Entusiasta do transporte público. Correspondente de Itaquaquecetuba desde 2015.

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