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Grupo de mulheres do Alto das Pombas toca podcast em carro de som para aproximar comunidade

Com quase 40 anos de atuação, ativistas do Grumap criam atividades especiais para o Julho das Pretas e desenvolvem novos métodos para alcançar moradores durante a pandemia

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Brenda Gomes/Agência Mural

Por: Brenda Gomes

Notícia

Publicado em 30.07.2021 | 11:10 | Alterado em 23.11.2021 | 18:56

Tempo de leitura: 4 min(s)
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Luciana de Melo e Rita Santa Rosa, integrantes do Grumap @Brenda Gomes/Agência Mural

Comum nas periferias de Salvador, os carros de som anunciam eventos, vendas de frutas, materiais de limpeza, rifas, entre tantas outras publicidades; já no bairro do Alto das Pombas, um podcast produzido pelo Grumap (Grupo de Mulheres do Alto das Pombas) ganha o destaque dos alto-falantes para falar sobre cuidados com saúde e bem-estar aos moradores. 

Rita Santa Rosa, 60, a Ritinha, é quem geralmente acompanha o carro de som pela vizinhança. Ela explica que o podcast anunciado nas ruas foi uma das estratégias para se aproximar da comunidade durante a pandemia. 

“Nós temos um jornalzinho impresso, mas, com a pandemia, nós ficamos sem saber como chegar mais perto das pessoas, já que o papel também pode ser um objeto de transmissão da Covid-19. Então, inovamos a ferramenta. Além do carro de som, o podcast vai também através das mensagens por celular”, diz.

Formado por 12 mulheres ativistas, o grupo atua há 39 anos com ações que buscam formas de garantir direitos como educação de qualidade, saúde e lazer para os moradores da região. 

“Desde 1982, todas as terças-feiras, às 14h, as mulheres do Alto das Pombas se reúnem para buscar formas de melhorar a vida das pessoas da comunidade. Com a pandemia, estamos fazendo isso com menos frequência, pois entendemos a importância de nos cuidarmos. Mas não deixamos de buscar formas de impulsionar os saberes, mesmo que em formato on-line”, conta Ritinha.

Além do podcast, o grupo também utiliza o audiovisual para registrar as atividades desenvolvidas em parceria com a comunidade. Um exemplo é o webdocumentário “Grumap Corpo e Memória”, que relata histórias das participantes da oficina que leva o mesmo nome, lançado no canal do YouTube da instituição, no último dia 25 de julho, quando se comemorou o dia Internacional da Mulher Afro-Latino Americana e Afro-Caribenha.

Para Luciana de Melo, 37, integrante do Grumap, o trabalho mostra como o coletivo enfrentou as adversidades e se uniu no período da crise sanitária. 

“O documentário foi uma forma que achamos de registrar as oficinas desde o ano passado até hoje. Um ciclo de quase um ano de pandemia. Mostrando o quanto foi importante uma mulher apoiar a outra para passar por esse momento”. 

E reflete: “Essa partilha permitiu fazer desse momento, ainda que de isolamento social, fosse de partilha de inquietações, estratégias e principalmente de resistência. Autocuidado é um ato de resistência”. 

Com a chegada da pandemia e o aumento das desigualdades sociais, as mulheres do coletivo precisaram também estruturar estratégias para apoiar as famílias que eram assistidas pelo grupo. Desde março do ano passado, com o apoio de instituições parceiras, o grupo distribuiu mais de mil kits de alimentação e higiene.

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Grupo atua há 39 anos buscando formas de garantir os direitos básicos para os moradores do Alto das Pombas, em Salvador @Brenda Gomes/Agência Mural

A roda de conversas entre as participantes e as mulheres do bairro, prática que acompanha o grupo desde a sua criação, também precisou ser readequada nesse período. Antes semanal, na sede do grupo, a reunião se transformou em roda de cuidado e autocuidado em formato virtual, reunindo cerca de 40 mulheres por encontro.

“A gente entendeu que para conseguir atravessar a pandemia precisávamos cuidar da mente das nossas mulheres. Exercitar o autocuidado não pode ser algo distante das mulheres de periferias, precisa fazer parte da nossa rotina. Se nós cuidamos das mulheres, nós estamos cuidando da família inteira”, afirma Luciana. 

Moradora do bairro do Alto das Pombas, a pedagoga Tarry Cristina Pereira, 56, cresceu vendo o movimento das mulheres do grupo e destaca a sua importância para a comunidade. 

“Enquanto gestora de uma instituição de ensino, eu preciso escutar as vozes da comunidade, nesse espaço de escuta nos fortalecemos, tornamos a escola mais viva. Quando o Grumap vem à escola, ou os alunos vão ao Grumap, a informação não para ali, algo novo é levado para dentro de casa”, ressalta.

MÊS DAS MULHERES NEGRAS

Além do lançamento do podcast e do webdoc, outras ações foram realizadas pelo Grumap para celebrar o Julho das Pretas, como a distribuição de máscaras, formações políticas para mulheres, colagem de mural e grafitagem no bairro.

Para Luciana de Melo, do Grumap, as ações no mês demonstram o protagonismo das mulheres do bairro. “Nossa região é tido, muitas vezes, como um bairro que só tem violência, e, na verdade, o Alto das Pombas é um lugar de mulheres fortes e batalhadoras que escrevem a sua história todos os dias. Celebramos essas mulheres o ano inteiro, mas em julho é de forma especial.” 

A agenda de atividades coletivas em julho é realizada desde 2013. Foi criada pela ONG baiana Odara – Instituto da Mulher Negra, e neste ano teve como tema “Para o Brasil genocida Mulheres Negras apontam a solução”. 

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Valdecir Nascimento, 61, coordenadora executiva do Instituto Odara, explica que o tema discutiu as narrativas sobre genocídio, termo constantemente debatido no atual cenário brasileiro. 

“O genocídio da população negra não começou por conta da pandemia ou deste governo. O genocídio anti-negro, através da escravidão, fundou o Brasil, e o Julho das Pretas é um grito afirmando que para um país genocida, nós apresentamos a solução. É o que fazemos cotidiana e historicamente para nos mantermos vivas e mantermos nossas famílias e comunidades”, comenta a também mestra.

O podcast e o documentário do Grumap estão disponíveis no canal do coletivo no Youtube. Outras informações sobre as atividades desenvolvidas pela instituição podem ser acompanhadas no Instagram www.instagram.com/grumap 

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Brenda Gomes

Jornalista e correspondente do Centro/Brotas (Fazenda Garcia). Mulher negra, e candomblecista. Gosta de viver aglomerada com gente que acredita nos sonhos, de teatro, música e gastronomia fundo de quintal. Mãe de plantas e de pets.

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