Por: Redação
Publicado em 10.07.2017 | 14:33 | Alterado em 10.07.2017 | 14:33
A preocupação com a insegurança fez com que o comerciante do Itaim Paulista, José Arruda do Nascimento, 57, colocasse grades no interior do estabelecimento que possui há mais de 20 anos no extremo leste da capital. “O valor gasto com as grades e as câmeras não chega nem perto do prejuízo e do desgaste dos 15 assaltos sofridos”, lamenta Nascimento.
O aposentado Flávio Luiz, 63, e dono de uma mercearia vive situação semelhante. “Depois de três assaltos decidi colocar câmeras no meu estabelecimento. Eu só queria trabalhar sossegado para mim mesmo, após anos e anos trabalhando fora”.
As histórias de Nascimento e Luiz deflagram um status do qual desejariam dispensar: o alto número de assaltos. De acordo com dados da Secretaria Pública de Segurança do Estado de São Paulo, somente em 2016, cerca de 4 mil ocorrências foram registradas no distrito do Itaim Paulista, onde está situado o bairro homônimo. Os dados contabilizam tanto pessoas como estabelecimentos. Essa taxa, por sua vez, é três vezes superior à do distrito do Brás, no centro-leste da capital, região que abriga um grande número de comércios. Por lá foram registrados 1.200 casos.
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A descrença com a falta de soluções para a segurança na zona leste fez com que os comerciantes deixassem de fazer boletins de ocorrência. “Muitos policiais sabem que foi fulano que cometeu o assalto, mas não podem prender porque não foi em flagrante”, afirma Luiz.
“A única vez que houve voz de prisão foi quando corri atrás do assaltante e a viatura que estava vindo pôde prendê-lo”, lembra Nascimento, mais conhecido como Zezinho, apelido que ele colocou como nome do seu estabelecimento.
Ao 32xSP a Polícia Militar esclarece que atua na região “por meio de planejamento estratégico dinâmico e da análise dos índices criminais”. Ainda segundo a PM, o policiamento realizado pelo 29º BPM/M conta com programas como Radiopatrulhamento, Força Tática, Rocam (Rondas Ostensivas com apoio de Motocicletas), e policiamento a pé. Ainda segundo o órgão, as informações passadas pela reportagem serão analisadas e, se for necessário, o policiamento será readequado.
A alta concentração de assaltos em regiões comerciais como o Brás desatinou a criação do City Câmeras, projeto criado pela Prefeitura de São Paulo em março deste ano para inibir a ação de criminosos a partir da instalação de câmeras. Foram instalados 250 equipamentos, sendo 233 fixos e 17 móveis.
De acordo com o último censo realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), em 2010, a região do Brás possuía aproximadamente 25 mil moradores, em uma área de 12 km² e somava 3 mil domicílios particulares. Os dados não contabilizam as famílias que vivem em ocupações. Além disso, segundo estimativas da Federação do Comércio de Bens, Serviço e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), em 2016, cerca de 100 mil pessoas dispostas a gastar visitam diariamente as 5,5 mil lojas instaladas no centro comercial.
Apesar de deter o triplo de ocorrências que o Brás, o Itaim Paulista ainda não foi contemplado pelo projeto da prefeitura. De acordo com informações da Secretaria Municipal de Segurança Urbana, a iniciativa pretende ser realizada em parceria com 15 associações comerciais distritais, comerciantes, empresas e sociedade civil. As câmeras foram doadas pela iniciativa privada.
O intuito é que as imagens captadas sejam enviadas diretamente para a GCM (Guarda Civil Metropolitana) por meio de um canal de comunicação via internet e controladas pela Prefeitura. A ideia é facilitar o processo de investigação.
Ainda segundo a secretaria, a proposta é reforçar a rede de monitoramento por meio da participação popular. Para isso, além das dos órgãos públicos, também serão utilizadas câmeras residenciais e de comércios que queiram participar e estejam dentro dos requisitos, como boa qualidade de resolução de transmissão de imagem e cadastro da câmera em uma plataforma na nuvem para armazenar as gravações.
Por conta da grande quantidade de moradores e dos problemas de segurança no Itaim Paulista, comerciantes decidiram criar a Associação dos Empresários do Itaim Paulista, que atua desde 2011 de maneira independente. Uma das formas de precaução adotada pela associação são as reuniões para orientar os comerciantes a como lidar com a insegurança. “Ela nasceu da necessidade de olhar para o distrito mais populoso da zona leste como um só”, afirma o presidente Héber Hernandes, 43.
Segundo Hernandes, a associação sabe da existência do projeto idealizado pela prefeitura, mas ainda não tem previsão se ele chegará à região. “Temos grande interesse em fazer parte do projeto, mas até o momento, não fomos contemplados com nenhuma informação direta do órgão público”.
Foto: Danielle Lobato
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