Orlando Morando e Carla Morando divulgaram nesta quarta-feira (25) que estão com a doença transmitida pelo coronavírus
Gabriel Inamine/Divulgação
Por: Katia Flora | Jariza Rugiano
Notícia
Publicado em 26.03.2020 | 14:01 | Alterado em 29.03.2020 | 19:58
Orlando Morando e Carla Morando divulgaram nesta quarta-feira (25) que estão com a doença transmitida pelo coronavírus
Tempo de leitura: 4 min(s)Nesta quarta-feira (25), o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), e a deputada estadual Carla Morando (PSDB), divulgaram que estão com covid-19.
Morando fez os exames em um hospital privado, na última terça-feira (24), após sentir cansaço, dores de cabeça e febre alta. Os dois ficarão isolados. Neste domingo (29), o gestor foi para UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital São Luiz, após ter o quadro respiratório agravado.
O anúncio deixou em alerta moradores da cidade do Grande ABC sobre a questão de isolamento. A região do ABC confirmou 50 casos da doença, dos quais 13 são em São Bernardo. Quem tiver sintomas deve procurar as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).
“É preocupante. Mostra que todos estamos no mesmo barco, pode ocorrer com qualquer um”, afirma o funcionário público Wilson Roberto Moreira Júnior, 39.
Ele mora com a mãe que tem 70 anos, está de quarentena e só sai para ir ao mercado quando é necessário.
Wilson tem redobrado os cuidados em casa, principalmente com a mãe idosa. Sabe da importância de ficar em casa. Lá tem um espaço para que ela faz exercício físico. “Essa doença não escolhe classe social e todos precisam se cuidar”.
“Foi um baque ver a live do prefeito com essa informação. É um ser humano, pai de família e não tem histórico de doenças crônicas, é muito triste”, diz Liliane de Campos Faria, 50, moradora do bairro Jordanópolis.
Ela reside no bairro há 14 anos. Casada, mãe de três filhos e formada em administração pública, Liliane atualmente cuida do lar e dos gêmeos de 11 anos. Conta que faz higienização dos alimentos e da casa com álcool em gel e cloro que pega no posto de saúde para lavar as frutas e legumes.
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Liliane tem lúpus, o que a inclui no grupo de risco, e mantém o contato com os pais idosos apenas por telefone. “Cheguei a encontrar o álcool em gel por R$20 reais, me recuso comprar [por esse preço]”, lamenta. “É um vírus que as pessoas precisam pensar no coletivo e se prevenir”, completa.
A situação da cidade também preocupa a vendedora de móveis Marli Gomes de Souza, 56, mãe de dois filhos e que tem 3 netos. Ela parou as atividades no trabalho no dia 20 de março.
Marli reside no bairro Selecta há 38 anos e divide a casa de sete cômodos com a filha, o genro e dois netos. Todos os dias, faz faxina usando água sanitária e cloro.
Depois que viu o anúncio do prefeito ficou abalada em ver o aumento de casos na cidade, mas concordou com a decisão de fechamento dos comércios na região. “Apesar de trabalhar com vendas em lojas, fico preocupada com o emprego, mas em primeiro lugar vem à saúde, principalmente um vírus como este”, comenta.
No bairro, conta que viu carros da prefeitura lavando a rua com cloro e campanhas de conscientização.
A dona de casa Cristiane Costa da Silva, 29, mora no bairro Capelinha, no distrito Riacho Grande, há 16 anos. Na região vive com as duas filhas e o marido. Uma das filhas, Kiara, 5, tem distrofia muscular e faz parte do PID (Programa de Internação Domiciliar).
“Fui orientada pelos médicos da minha filha a não sair de casa nesse momento, porque ela tem essa doença rara e uma saúde bem frágil. Ela tem um quadro de insuficiência respiratória, não pode ficar doente nesse momento”, descreve.
Além dessas medidas, Cristiane está evitando receber visitas. As únicas pessoas que estão frequentando a casa são os profissionais de saúde do PID.
“Meu pai é idoso e não está saindo da casa dele. Sempre conversamos e destaco sobre as formas de uma higiene mais rigorosa”, informa.
Quanto à fala do prefeito Orlando Morando (PSDB) sobre estar com o coronavírus após resultado do exame hospitalar, Cristiane espera que ele se recupere.
“Quer dizer que o vírus existe, está na cidade e tem gente contaminada. Então precisamos continuar tomando cuidado. Qualquer pessoa pode ter esse vírus. Gostei dele ter informado sobre o teste médico e deixou ainda mais claro que todos podem pegar”, observa a dona de casa Cristiane Costa
Quanto à atuação da prefeitura durante a crise, aponta que tem visto principalmente divulgações nas redes sociais sobre o tema. Ela diz ter notado melhora no atendimento da UBS do bairro. Por outro lado, Cristiane não encontrou ações presenciais da Prefeitura voltadas à conscientização sobre os riscos do coronavírus.
“Por aqui não vi combate aplicado pela Prefeitura, como um carro de som passando pelas ruas. Tem algumas pessoas desrespeitando ao ficar andando pra lá e pra cá sem necessidade.”
“Não estamos saindo de casa e não estou trabalhando. Uso álcool gel se sair na rua e em casa lavo as mãos sempre que vou fazer alguma atividade. Estou tomando todas as precauções necessárias e que os órgãos de saúde vêm divulgando”, descreve a cabeleireira Socorro Ferreira, 33.
Ela fez salgados para vender durante a quarentena por causa da covid-19. Casada, com dois filhos e cumprindo o isolamento social, atualmente Socorro ajuda no trabalho do marido, que faz e vende salgados. “Os clientes vêm até aqui buscar os pedidos. Entregamos e recebemos o pagamento pelo portão”, diz.
Sobre o pronunciamento do prefeito, Socorro diz ter visto e que não se surpreendeu. “Como ele ficou saindo muito, por causa da prefeitura, deve ter contato com várias pessoas”, pontua. “Meu marido ficou preocupado”, pontua.
REGIÃO
O tucano afirmou que as medidas de isolamento seguirão no município, assim como os cuidados para que os idosos fiquem em casa.
As medidas contra a doença causaram discussão nos últimos dias entre prefeitos da região e o governo do estado por conta do transporte público. Inicialmente, os prefeitos haviam anunciado que os ônibus não circulariam mais a partir do dia 29.
No entanto, os gestores recuaram na terça-feira (24) e decidiram manter 50% da circulação em dias de semana nos horários de pico, com redução mais ampla no fim de semana. Segundo os gestores, o foco será que o serviço atenda os funcionários da saúde e da segurança nesse período.
Jornalista com experiência em jornalismo online e impresso, tem publicações em diversos veículos, como Uol, The Intercept e é ex-trainee da Folha de S. Paulo no programa para jornalistas negros. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2014.
Jornalista. Gosta de andar por aí de bicicleta, encontrar os amigos, filmes, livros, shows e colecionar memes. Correspondente de São Bernardo do Campo desde 2017.
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