Cidade conta com 86 espaços públicos para lazer dos cachorros, mas número é menor em bairros das periferias; das 32 subprefeituras, dez ainda não têm
Por: Redação
Publicado em 01.03.2021 | 14:26 | Alterado em 01.03.2021 | 14:26
A pandemia mostrou que ficar sem sair de casa pode ser um desafio em São Paulo, onde um terço dos lares são apartamentos. Além dos moradores humanos, quem também sofre, caso não se movimente o suficiente, são os cachorros.
Como uma opção para eles, existem 86 espaços públicos de lazer canino pela cidade: os “parcães”. Porém, 40% se concentram no centro expandido e 13% só na Vila Mariana.
Das 32 subprefeituras da cidade, 10 ainda não têm “parcães”. Até janeiro, a Cidade Tiradentes fazia parte desta lista.
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Por isso, o início da pandemia foi difícil para a professora Tainan Santos, 32. Ela passeava com sua cachorra Cissi duas vezes ao dia, mas na primeira semana de isolamento social tentou mantê-la em casa.
“Não se acostumou, e eu voltei a passear com ela. Até por morar em apartamento, vi a necessidade de levá-la”, conta.
A médica veterinária Karina Torate, 25, é moradora de Pirituba e ressalta que as consequências do sedentarismo para os cães vão além da obesidade.
“Problemas como ansiedade, agressividade e depressão também se enquadram no dia a dia de um cão que não mantém seus exercícios diários”
Karina Torate, médica veterinária e moradora de Pirituba
Tainan leva Cissi a uma quadra esportiva próxima à sua casa, mas acredita que mais espaços de lazer para cães seriam uma boa opção no bairro, já que o “parcão” da Praça do 65, inaugurado em 2021, não fica perto de sua casa.
A zona leste, que concentra 36% da população da cidade, tem apenas 22% dos “parcães” de São Paulo.
CONTRASTE TERRITORIAL
A desigualdade na distribuição destes espaços chama atenção, já que a maioria dos bairros no ranking com mais “parcães” fica no centro expandido. Quatro em cada dez espaços públicos para cachorros ficam nesta área.
O contraste não decorre de uma distribuição desigual de verba entre as subprefeituras. Na verdade, nem sempre o dinheiro para implantação dos equipamentos vem do poder executivo.
Em muitos casos, essa verba é de emendas parlamentares, que são um dinheiro destinado pelos vereadores a projetos na cidade. Só em 2020, vereadores liberaram R$ 810 mil via emenda parlamentar para implementação e melhorias de “parcães”.
Na Lapa, por exemplo, metade dos equipamentos inaugurados foi construída com verba da Câmara Municipal. A subprefeitura é responsável pelo projeto, licitação e contratação de obra para implementar os “parcães”, mas só após o recurso financeiro ser liberado.
QUEM CUIDA?
A professora Cecília Batista Figueiredo, 54, leva seu cachorro Pingo no “parcão” Jardim São Paulo, na zona norte. Apesar de gostar muito da opção de passeio, ela se queixa da zeladoria do local.
“Falta água disponível para os cães e a limpeza é um pouco complicada. O pessoal que frequenta é muito receptivo e se ajuda muito, mas falta iluminação e cuidados como tirar os lixos da lixeira regularmente, pinturas e manutenção das grades e portões”
Cecília Batista Figueiredo, moradora do Jardim São Paulo
A Subprefeitura Santana/Tucuruvi, responsável pela área, não respondeu os questionamentos da reportagem sobre a zeladoria dos “parcães” da região.
Como uma alternativa, os tutores se organizam em um grupo de WhatsApp para levar água e se revezar nos pequenos cuidados com o espaço.
O primeiro “parcão” público da cidade, na Chácara Klabin, foi criado em 2016 por iniciativa dos moradores que até hoje se responsabilizam pela manutenção dos equipamentos.
“Criamos um grupo de voluntários que realizam mutirões de limpeza e manutenção, e solicitamos à prefeitura o suporte deles, por exemplo, para cortar a grama”, afirma o grupo, formado por Isabela Daneluci, Daniel Moral, Débora Nicoletti e Angeles Rayes.
A UNIÃO FAZ A FORÇA
Os espaços para cachorros brincarem são um equipamento público interessante em um momento de pandemia, já que não obriga os tutores a andarem muito tempo para que os cães me movimentem o suficiente.
Em 2020, foram inaugurados 26 “parcães” na cidade. Este ano, já foram 11, e tem mais seis em construção: um em Itaquera, dois no Jaçanã, um na Penha, um em Pirituba, e um na Vila Mariana.
Para que a cidade tenha ainda mais espaços como este, é essencial a união de moradores interessados no tema. Isso porque a demanda popular foi responsável pela implantação de grande parte deles.
Um exemplo é dos moradores de Moema, que em 2014 perceberam que a Praça Nossa Sra. Aparecida poderia ter mais equipamentos para os cachorros que já brincavam ali.
Dois anos depois, com os recursos em mãos, fizeram um mutirão para construir o “parcão” Zeus, nomeado em homenagem a um cachorro que frequentava o local.
“A transformação foi realizada em um final de semana!”, garante a assistente social Viviane Scarsiotta, 55, que até hoje participa de mutirões para manutenção do local.
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Processo semelhante foi feito pelos moradores da Chácara Klabin, que criaram o projeto e fizeram um protótipo em parceria com empresas. Depois, recorreram ao vereador Police Neto para que a proposta se realizasse.
Por isso, eles aconselham: “Busquem empresas interessadas em apoiar o projeto, inclusive de arquitetura para ajudar nos requisitos e escolha do espaço. Vereadores e suas equipes com experiência em projetos deste tipo também podem ajudar com todo o processo”.
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