No Jardim Fontalis, Herika e Gustavo montam Herigus para facilitar interação com crianças durante a pandemia
Arquivo Pessoal
Por: André Santos
Notícia
Publicado em 27.01.2021 | 14:20 | Alterado em 27.01.2021 | 18:07
Moradores do Jardim Fontalis, região Jaçanã/Tremembé, na zona norte de São Paulo, a pedagoga Herika Trindade, 34, e o educador musical Gustavo Araujo, 32, encontraram uma maneira criativa de se manterem próximos dos alunos durante a pandemia.
Casados e educadores, eles elaboraram um jeito especial para as aulas. Herika é professora da rede municipal de Guarulhos, na Grande São Paulo, e recebeu férias já no início da quarentena, enquanto Gustavo, que é professor da rede privada, foi enviado ao modo remoto de ensino no mesmo período.
A ele foi solicitado vídeos semanais para crianças de zero a dois anos e outro para crianças até cinco anos.
“Teve um fim de semana que o Vitor, meu sobrinho, estava andando de bicicleta no quintal e cantando uma musiquinha. Na segunda o Gustavo me perguntou que música era aquela e expliquei que era uma música que as crianças cantavam e gesticulavam a sua letra ao mesmo tempo”, explica a professora.
O músico começou a tocar a música no violão e a companheira perguntou se ele gostaria que ela o acompanhasse fazendo os gestos da música. Estava formado o embrião do que viria a se tornar o Herigus, duo criado pelo casal.
A professora gostou tanto do resultado que resolveu enviar também para os seus alunos. Com a autorização da coordenadora criou um grupo num aplicativo de mensagens e enviou para os pais. “A princípio seria só para elas lembrarem do universo de dentro da escola, todo dia tem roda de música na qual estimulamos os gestos, e também para eles não esquecerem do meu rosto”, brinca.
O projeto consiste em juntar música e gestos, para estimular a criança a usar o corpo para expressar algo. A ideia é estimular a atenção e a concentração dos alunos, por meio da reação ao estímulo musical e das palavras.
Com novas determinações da secretaria de educação do município de Guarulhos ainda no meio da pandemia, Herika se viu desafiada a produzir conteúdos que dialogassem com as referências e conteúdos que as suas coordenadoras exigiam, o casal mais uma vez recorreu à música.
“A questão era que tipo de atividade que a gente podia bolar que não exigisse tanto tempo dos pais, que não exigisse material”, relembra a educadora.
“Focamos na música. A gente pegava o conteúdo que seria trabalhado na semana, como animais, numerais, questões corporais, e pesquisava bastante. A gente buscava músicas que se encaixavam no conteúdo que recebíamos e depois criava gestos”, ressalta.
Gustavo e Herika lembram que passaram a receber retornos “carinhosos” dos pais. “Escreviam dizendo que os pequenos tinham adorado, recebi vídeos de crianças tocando cavaquinho, fazendo os gestos, as carinhas. Passei a ter mais contato com os pais por causa dos vídeos”, conta Hérika.
Eles também ficaram surpresos com a recepção nas redes sociais. Desde os primeiros vídeos, Herika já vinha compartilhando o material com o nome ‘Herigus Para Bêbes’. “Teve um retorno que a gente não esperava, muitas visualizações, pessoal comentando que ia guardar para os filhos verem”, detalha a professora.
Depois disso, fizeram uma lista de transmissão em um aplicativo de mensagens e receberam até doações.
Os vídeos contam também com participações especiais como o sobrinho do casal Vitor, 5, e da cadelinha Pipoca que é o animal de estimação da casa. Herika aparece cantando em alguns vídeos, após sugestão de uma amiga.
O casal também enfrentou um problema que foi comum para muitos durante a prática do home-office ao longo da quarentena. O barulho. “Tinha que contar com a colaboração dos vizinhos, a gente aprontava tudo pra gravar e as motos começavam a subir e descer, vizinho gritando com criança, criança escorregando com garrafa pet na viela, a gente respirava e deixava para outro dia”, relata conformada a professora.
A ideia de abrir um canal exclusivo para o projeto não agrada o casal, que indica que os próximos meses da pandemia vão indicar como será o trabalho. “Dependendo de como ficar a situação a gente pode continuar produzindo, né!? Se voltar a realidade da sala de aula, aí a gente interrompe”, opina Gustavo.
Já para Herika “Foi um projeto de quarentena mesmo, que deu muito certo”, diz Herika.
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