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Agência de Jornalismo das periferias

Léu Britto/Agência Mural

Por: Cleberson Santos | Léu Britto

Opinião

Publicado em 24.03.2023 | 16:42 | Alterado em 24.03.2023 | 18:12

Tempo de leitura: 5 min(s)

No último fim de semana ocorreu em São Paulo, mais especificamente na região do Brooklin Novo, bairro nobre do Itaim Bibi, zona sudoeste da cidade, a segunda edição da Expo Favela. Não, esse pedaço da avenida das Nações Unidas não é uma região de favela, muito pelo contrário. E essa é umas das primeiras questões a se discutir sobre o evento.

Somos dois moradores da periferia da zona sul de São Paulo. Um é repórter (Cleberson Santos), nascido e criado no Jardim São Bento, no Capão Redondo. E o outro é fotógrafo (Leonardo Britto), cria da Favela Monte Azul, no Jardim São Luís. Vivenciar os três dias do evento proporcionou aos dois sentimentos de alegrias e inquietações.

Todo ser humano sonha em conquistar e realizar coisas na vida. Mas o que impede de sermos e termos essas necessidades atingidas? Para os favelados, a resposta é: falta de oportunidades e investimentos.

Evento reuniu empresários e empreendedores das favelas no WTC, no Itaim Bibi @Léu Britto/Agência Mural

Dia 1 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 1 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 1 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 1 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 1 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Eu, Léu, sou fotógrafo e vivo disso há mais de 10 anos. Meu produto e serviço é a fotografia (digital ou impressa). Se eu buscasse uma oportunidade dentro da Expo Favela para oferecer meu serviço, quais os caminhos teria? Expor fotos dentro de um stand?

Mas com o stand compartilhado com outro empreendimento, qual seria a saída? Expor digitalmente numa televisão? Daí já bate o primeiro entrave de investimento: só tenho uma televisão na sala de casa. Levo ela durante esses três dias de feira? Faço o corre e demonstro minha garra de fazer acontecer independentemente da adversidade e dificuldade que se apresenta?

Foi isso que vi no 5º andar do WTC Events Center, prédio onde o evento foi realizado. A área, conhecida como Arena Golden, tinha um palco circular no centro do salão que recebeu os principais bate-papos, como uma palestra com a médica e ex-BBB Thelma Assis e uma entrevista com o empresário Kondzilla.

Konrad Dantas, mais conhecido como KondZilla, esteve na Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Os expositores ocupavam as periferias desse mesmo espaço. Quem pegou seu lugar na ponta do beco, mais próximo do centro da Arena, se deu bem? Teve mais visibilidade? Captou mais clientes e investidores?

Periféricos no corre

Por se tratar de uma feira de empreendedores, a área dos expositores é o setor mais importante de todo o evento. Como repórter, eu, Cleberson, entendo que ali está o verdadeiro “ouro” da feira de negócios, quem realmente está no corre e onde as melhores histórias estão.

Contudo, fico com a sensação de que há a dificuldade de conseguir se fazer ouvido ao lado de um palco, com microfones, palestras e música com volume alto para todos ouvirem.

Isso seria mais um cuidado que os organizadores deveriam fazer entre essa edição e a próxima. Qual o balanço de quem colou, investiu do próprio bolso a grana para o transporte e/ou gasolina, alimentação, estacionamento e tempo de vida?

Expo Favela 2023 contou com convidados de diferentes áreas de atuação @Léu Britto/Agência Mural

Dia 2 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 2 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 2 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 2 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 2 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Todo o marketing da Expo Favela é pautado na ideia de “conectar a favela e o asfalto”, o que por si só já é um erro pensando na geografia da cidade de São Paulo. Tanto que há algumas favelas bem próximas ao WTC, como a Real Parque e a Panorama.

Quando o evento pensa em sucesso, isso se refere aos negócios que foram feitos entre os empreendedores, à presença periférica naquele espaço ou simplesmente aos empresários que os organizadores conseguiram atrair, sejam como patrocinadores ou como palestrantes?

Segundo um empreendedor que participou das duas edições do evento (em abril de 2022 e agora em março de 2023), houve uma queda de visibilidade de um ano para outro. Ele tem seis anos de vida empreendedora, já participou de uma aceleração de negócios de impacto, e investiu cerca de R$ 1 mil para estar ali.

É um caso de um negócio já estruturado, com fundo de caixa, condições de se bancar e tentar prospectar clientes para o futuro, com o investimento aplicado. Para quem está no começo, a Expo é uma grande oportunidade, mas de um alto custo que talvez não tenha disponível.

Mas também não é raro receber relatos de gente contando que conseguiu contatos que nunca imaginou que seriam possíveis. Além, é claro, da conexão entre eles próprios, sobre como um negócio pode ajudar o outro.

Pode chamar de networking, mas nesse contexto também pode chamar de “nós por nós”.

Outros destaques

Já no 3º andar do evento, nos sentimos mais em casa, pelo menos reencontrando amigos e conhecidos entre os corredores.

No espaço “Favela Literária”, vimos o poeta POW Litera-Rua, o escritor Alessandro Buzo e o professor poeta Jefferson Santana declamando no palco. Na sequência do mesmo corredor, na “Exposição Favela”, quem apresentou o trabalho foi a Galeria Visceral, do time de fotógrafos de Paraisópolis, favela da zona sul da capital.

Poeta POW Litera-Rua durante a Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Na outra ponta do andar, o comércio comia solto entre as empresas de roupas, acessórios, artesanato, alimentação, perfumaria e muito mais. Era o setor “Camelódromo”, onde cerca de 47 empreendedores dividiram suas “barraquinhas” com produtos e serviços.

Ali sim o dinheiro estava rolando, maquininha emitindo canhotos de vendas e muitos passantes indo e vindo.

Entre essas duas pontas dos corredores, no centro desse andar, tinha uma divisão muito clara. De um lado, o Museu das Favelas que, pela primeira vez, transitou com suas obras para um espaço fora da sede (que também não fica numa favela), mas também trouxe visibilidade para muitos agentes culturais.

Público circulou pelos andares do WTC Events Center @Léu Britto/Agência Mural

Dia 3 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 3 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 3 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 3 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

Dia 3 - Expo Favela 2023 @Léu Britto/Agência Mural

E, do outro lado, os glamourosos estandes das marcas patrocinadoras do evento. Todos muito coloridos, gigantescos e chamativos. Cada um com sua estratégia particular para atrair o público e distribuir sua informação.

Destaque para o estande da Prefeitura de São Paulo, que durante todos os dias distribuiu livros gratuitamente de títulos diversos e deixou um painel com vídeos explicativos sobre os editais abertos da Adesampa (Agência São Paulo de Desenvolvimento).

O 3º andar também contava com o teatro, outro espaço que atraía grande público, mas que, ao mesmo tempo, pode ser considerado controverso. É ali que aconteciam as principais palestras do evento, de nomes como Manoel Soares, Babu, Mc Soffia e Tia Má, mas também de Abilio Diniz, Luciano Huck e Armínio Fraga.

Já sobre esses segundos da lista, refletirmos: será que precisamos desses nomes para o evento ser um sucesso ou ter público?

Palestra “Educação: acesso é a chave” com a rapper MC Soffia @Léu Britto/Agência Mural

Para fechar essas “zideia” aqui, citamos os shows do 4º andar, no espaço “Mídias de Favela”. Foi realmente onde sentimos que os artistas de favela tiveram algum destaque exclusivo. Nem todos foram contratados com um cachê, muitos colaram e pediram uma vaga de próximo no microfone para apresentar sua arte.

Mas, é isso, quem não é visto, não é lembrado. Então, melhor estar envolvido do que totalmente excluído. Será?

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Cleberson Santos

Correspondente do Capão Redondo desde 2019. Do jornalismo esportivo, apesar de não saber chutar uma bola. Ama playlists aleatórias e tenta ser nerd, apesar das visitas aos streamings e livros estarem cada vez mais raras.

Léu Britto

Fotojornalista e videomaker. Transitar pelos becos e vielas do mundo amando cada um do seu jeito e maneira de viver. Cofundador do DiCampana Foto Coletivo. Correspondente do Jardim Monte Azul desde 2010.

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