Por: Redação
Publicado em 26.07.2017 | 16:05 | Alterado em 26.07.2017 | 16:05
“Alô, alô freguesa! Pode chegar que esta fruta é bem docinha e saborosa!” Essa é uma das frases que saem da boca da feirante Ariana Duarte, 28. Recém-formada em enfermagem, pela falta de emprego na área, resolveu trabalhar na barraca de frutas, todas às sextas, na feira noturna da Praça Benedicto Ramos Rodrigues, em Ermelino Matarazzo, zona leste da capital.
Desempregada, Ivonete dos Santos Sales, 46, embora seja a sua primeira vez na feira, vive uma situação semelhante. “Fiquei fora do mercado recentemente. O meio que encontrei para trazer uma renda para casa foi vender meus pães caseiros aqui no bairro e nas feiras.
Ambas histórias revelam uma situação vivida atualmente por muita gente na capital paulista. De acordo com o SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) estima-se que o município de São Paulo fechou o ano de 2016 com 1.021 milhão de desempregados. Ainda de acordo com o órgão, as regiões mais atingidas foram a sul 2 e a leste 2, onde está Ermelino Matarazzo, com 19,3%.
Desde 2012 a região de Ermelino vem sendo apontada como uma das piores nos indicadores de desemprego. Os dados mais recentes do Observatório Cidadão mostram que 11,60% da população está desempregada. Entre a faixa etária mais afetada estão os jovens, com 14,64%. Em São Paulo, a prefeitura regional com o menor índice de desemprego é a de Pinheiros, com 6,80%.
Por volta das 15h, cerca de 15 barracas começam a ser montadas e permanecem na Praça Benedicto Ramos Rodrigues, em Ermelino Matarazzo, até às 21h. Mas é durante a noite que o movimento é mais intenso.
Para a moradora Silvana Tanaka, 52, R$ 100 é o suficiente para sair de lá com as mãos fartas. “Troquei as matinais pela noturna, acredito que a qualidade dos produtos sejam melhores. Pelo fato dela ser mais curta que as tradicionais, a gente não perde tempo, e leva para a casa apenas o necessário”, diz.
A iniciativa de realizar a feira partiu de Fabrício Yogui, 51. Ele, que trabalha entre as barracas há mais de 20 anos vendendo pastel, yakissoba e tempurá, explica que o sucesso dela à noite tem relação com a mudança de cenário da família brasileira. “Hoje, muitas mulheres têm de deixar os seus lares para trabalhar fora”, afirma Yogui. Foi indo de banca em banca nas tradicionais matinais que Yogui conseguiu expor a sua ideia para os demais e atrai-los a embarcar nesse projeto. “O espaço a gente já tinha e só faltava mesmo a autorização”, lembra.
Para alavancar ainda mais as vendas, os feirantes decidiram colocar um carro de som na rua com a seguinte vinheta: “E atenção, atenção, Ermelino Matarazzo. Agora em seu bairro você tem uma nova opção. É a feira noturna! Temos frutas, legumes, verduras, pastéis, caldo de cana, yakissoba, tempurá, temperos, peixes e bananas.”.
Nascida em março de 2016, a feira livre de Ermelino Matarazzo está regulamentada pela COSAN (Coordenadoria de Segurança Alimentar e Nutricional), órgão responsável pela implementação de programas, projetos e ações em abastecimento e segurança alimentar e nutricional do município de São Paulo.
De acordo com a COSAN, a capital paulistana registra hoje 880 feiras livres e mais de 15 mil feirantes cadastrados, previstos no decreto da lei nº 48.172, estabelecida pelo ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) em março de 2007.
Além disso, para quem é da região e deseja expor algum produto alimentício, mas não sabe se terá algum retorno, é possível fazer uma exposição sem compromisso. Caso goste, poderá procurar a COSAN para se regulamentar.
Serviço
Cosan
Rua da Cantareira, 216 – Centro
Telefone: (11) 3313-3365
Fotos: Danielle Lobato
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