Por: Jacqueline Maria da Silva
Notícia
Publicado em 17.10.2023 | 12:21 | Alterado em 22.04.2024 | 9:45
É fato que os jovens sempre estiveram na vanguarda das lutas democráticas, em quase todas as partes do mundo. Porém, nas últimas duas décadas houve uma queda gradativa da participação de jovens na política, segundo análises de especialistas.
Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que menos de 2% das pessoas que ocupam cadeiras em cargos legislativos no mundo têm menos de 30 anos. Aproximar esse público da política se tornou um desafio para as democracias do mundo, que devem estar representadas por todos os setores da sociedade.
“O jovem participa bastante da política, porque a vida do jovem é atravessada pela política e pela necessidade de se organizar, mas não necessariamente ele vai fazer parte da política tradicional, ingressando em um partido ou sindicato, por exemplo”, comenta o estudante Rafael Lucas Leonel Cyríaco, 25, de Cidade Dutra, zona sul da capital.
Ao todo, 47,8 milhões de brasileiros têm entre 15 e 29 anos, o que representa um quarto da população do país, segundo o Atlas das Juventudes de 2021
Os jovens entre 16 e 24 anos são fortemente a favor do voto, mas não sentem que ele seja uma ferramenta democrática suficiente para alcançar mudanças
Eles valorizam a política, mas enxergam com desconfiança os partidos políticos
Preferem se engajar em causas concretas, como meio ambiente, feminismo, desigualdades e defesa de direitos LGBTQIA+
Os jovens se informam, sobretudo, pelas redes sociais, em especial o Instagram e o TikTok
Todos dizem sentir receio de ser enganados por fake news. Embora considerem a mídia hegemônica parcial, acreditam que no ambiente online a desinformação seja mais frequente
Fonte: Relatório Juventude e Democracia na América Latina
Tanto ele como outros jovens ouvidos pela reportagem concordam que não se trata de desinteresse dos mais novos por política, mas sim da rigidez dos ambientes ligados à política institucional, que são pouco atrativos, acolhedores e muito burocráticos, em especial para os periféricos.
“Não vejo ninguém que me represente de fato, que tenha vindo da favela para falar de um modo mais horizontal com os trabalhadores”
Nica Gonçalves, 21, socioeducadora de Perus
“Tem sempre a visão de outro perante a gente, alguém de fora querendo ensinar algo dentro da favela. Eu quero contar minha história, como muitos jovens merecem contar as suas”, complementa ela, que há dois anos está vinculada a um partido de extrema esquerda.
Ela frisa que é essencial os jovens encontrarem sentido na prática política, para se engajarem em projetos e avançarem com ele.
No Brasil, após uma intensa campanha do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), encampada por diversas figuras públicas, o engajamento dos jovens na política aumentou em 2022, quando ocorreram as últimas eleições presidenciais. O número de adolescentes de 16 e 17 anos que tiraram o título de eleitor aumentou em 47,2% em comparação com as eleições de 2018, embora nessa faixa etária o voto seja facultativo.
O fenômeno pode ser explicado por uma adesão temporária à polarização política que marcou as eleições de 2022, quando os então candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) disputaram a presidência com propostas de governo opostas. Parte importante da disputa ocorreu no universo digital, influenciada pelos algoritmos.
Naquele ano, as candidaturas de mulheres bateram um recorde, alcançado 33,74% de concorrentes, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Também foi recorde o número de candidaturas negras, indígenas e de pessoas trans.
Isso, porém, não significa que os jovens estejam mais representados na política ou mais próximos dos espaços de decisão. Uma forma de garantir essa mudança, segundo Rafael Araújo, cientista político, é desenvolver projetos nas escolas, criando espaços de participação dos jovens em temas que impactam sua vida escolar, por exemplo, porém sempre a partir de suas demandas e suas vivências.
Foi justamente na escola que Nica teve mais contato com política, por meio das aulas e de professores que a inspiraram, além do contato com movimentos sociais. “Minha mãe sempre disse que poderiam tirar tudo de mim, menos o meu conhecimento.”
O mesmo ocorreu com a vereadora por Mogi das Cruzes Maria Luiza Fernandes (Solidariedade), 23, uma das pessoas mais jovens a assumir o cargo nas Câmaras Municipais do estado de São Paulo.
Ela participou do Programa de Participação de Jovens no Legislativo, do Grêmio Estudantil, de organizações não-governamentais e do Conselho da Juventude da sua cidade.
“A gente escuta muito que o jovem é futuro, mas a gente tem que entender que é o presente”, diz, defendendo a responsabilidade de todos em tornar a juventude protagonistas de sua história.
Parte dos jovens brasileiros começaram a se interessar por política devido a comentários nas redes sociais de pessoas que seguiam ou influenciadores com quem concordavam
Apesar de acreditarem que se manifestar é importante para a saúde democrática, a maioria diz nunca, ou quase nunca, ter ido a uma manifestação
Apenas 11% do eleitorado da cidade de São Paulo é de jovens de até 24 anos
Fonte: Relatório Juventude e Democracia na América Latina e Tribunal Superior Eleitoral
Jornalista formada pela Uninove. Capricorniana raiz. Poetisa. Ama natureza e as pessoas. Adora passear. Quer mudar o mundo e tornar o planeta um lugar melhor por meio da comunicação. Correspondente de Cidade Ademar desde 2021. Em agosto de 2023, passou a fazer parte da Report For The World, programa desenvolvido pela The GroundTruth Project.
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