Em uma casa na Jova Rural, na zona norte de São Paulo, um envelope trouxe 17 santinhos do deputado estadual Gil Lancaster (PSB), que disputou a reeleição em 2018. Durante os 45 dias de campanha, outros 100 materiais impressos dele e de outros candidatos chegariam na residência.
Lancaster não foi reeleito, diferente dos outros concorrentes que mais sujaram a residência. A campanha do senador eleito Major Olímpio (PSL), por exemplo, depositou 18 impressos, enquanto a de Mara Gabrili (PSDB), oito. A deputada federal Renata Abreu (Podemos), com 13 santinhos, foi reeleita, assim como Barba e Ênio Tatto (PT), que venceram a disputa de deputado estadual e jogaram oito materiais.
Os dados fazem parte de um levantamento da Agência Mural feito em 12 residências de diferentes periferias de São Paulo e da região metropolitana durante a campanha eleitoral. A Jova Rural foi o local que mais recebeu santinhos no período, num cenário mais tímido do que na eleição para prefeito e vereador em 2016. Na época, houve regiões onde foram coletados mais de 200 impressos em um único imóvel.
Em uma eleição marcada pela campanha nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, a estratégia de santinhos para as casas ainda é uma aposta. Mas a situação variou bastante.
Também na zona norte, no Jardim Damasceno, distrito da Brasilândia, apenas oito materiais de campanha escaparam do cachorro Gudão. Na eleição passada, 15 propagandas chegaram à casa. Deles, Professora Bebel (PT) e Paulo Teixeira (PT) foram eleitos.
No Jaraguá, os candidatos do PT também tiveram mais propagandas encaminhadas com o deputado federal Carlos Zaratini, Francisco Chagas e Luís Fernando. Entre os 20 materiais, quatro eram do PSDB, como da deputada reeleita Bruna Furlan e dois do PSL com os candidatos Douglas Garcia e Marcos Dantas.
Do outro lado da cidade, na zona sul, uma casa no Grajaú recebeu durante a campanha um santinho por dia em média. Deles, 19 eram do PT. Só a dobrada Ênio Tatto e Nilto Tatto depositou 13 materiais. A região é um dos redutos eleitorais do grupo. Ênio recebeu 6,7 mil votos e Nilto outros 5,3 mil nesta zona eleitoral, uma das poucas que não teve a liderança de Janaína Paschoal (PSL) e Eduardo Bolsonaro (PSL), deputados eleitos mais votados no estado.
Número de santinhos
Capital
Cidade Líder: 9
Brasilândia: 8
Jaraguá: 20
Grajaú: 43
Jova Rural: 116
Guaianases: 6
Cidade Tiradentes: 20Grande SP
São Bernardo (Jardim Planalto): 62
São Bernardo (Jordanópolis): 72
Osasco (Bandeiras): 91
Osasco (Santo Antonio): 69
Mairiporã: 72
Por outro lado, o deputado federal Paulinho da Força (SD) enviou oito materiais, mas com pouca votação na região (274 votos).
Eleito deputado federal, Alexandre Leite (DEM) recebeu 1,8 mil votos em Cidade Tiradentes, na zona leste. A dobrada dele com Waldir Júnior (PROS) foi a mais presente – 10 propagandas enviadas. Júnior não foi eleito, mas recebeu 4,5 mil votos na região. Na sequência, o MDB de Sargento Paula com três e o PT de Barba e Paulo Teixeira, fecharam os 20 materiais.
No Distrito de Cidade Líder, foram nove materiais ao longo da campanha, três do PT, dois do PRB, um do PSDB, um do PROS, um do DEM e um do PC do B. Dos que entregaram papéis ali, apenas Nilto Tatto (PT) foi eleito para a Câmara dos Deputados, e Paulo Fiorillo (PT) para a Assembleia Legislativa. Em Guaianases, foram 136 materiais, mas apenas seis espontâneos. Os outros 130 folhetos chegaram ao mesmo tempo, após um correspondente da Agência Mural ter encontrado o candidato na rua e falado da campanha.
MAIRIPORÃ, OSASCO E SÃO BERNARDO
Partidos tradicionais que rivalizaram nas últimas eleições, PSDB e PT foram os que mais tiveram materiais enviados, segundo o levantamento. Na soma de todas as regiões, o PSDB enviou 113 papéis para as caixas de correio. A sigla foi seguida do PT, com 91. DEM (53) e Podemos (49), completam a lista.
A quantidade de materiais para esses partidos foi a marca sobretudo das cidades da Grande São Paulo, onde mais de 60 propagandas chegaram em todas as casas de São Bernardo do Campo, Osasco e Mairiporã que fizeram parte do levantamento.
Cidade que foi berço do PT e teve a vitória do PSDB na última eleição municipal, São Bernardo teve diferenças entre os materiais recebidos nos bairros Jordanópolis e Planalto.
No primeiro caso, mais de 18 partidos enviaram materiais, em especial o PSDB, que tinha a candidatura da deputada eleita Carla Morando, esposa do prefeito, como principal nome. Foram 26 santinhos do partido. O bairro também recebeu 14 do PPS, de Alex Manente, candidato a prefeito em 2016 e que foi reeleito deputado federal.
No bairro, o PT enviou apenas três, diferente da região do Planalto, onde a sigla foi a que mais encaminhou propagandas – 19, com os candidatos Marcolino (PT), Ana do Carmo (PT), Barba (PT), Lisete (PSOL) e Vicentinho (PT), marcando presença.
Em Mairiporã, na região norte da Grande São Paulo, foram mais de 60 papéis, com a dupla Guilherme Campos (PSD) e Estevam Galvão (DEM) com 28 deles. Apenas o segundo foi eleito. Foram 12 de Aladim (PR), ex-vereador de Mairiporã e o candidato a federal mais votado na cidade, com 8 mil votos, mas não o suficiente para se eleger.
Além de petistas e tucanos, Osasco teve a presença constante de candidatos do Podemos, partido que governa a cidade com Rogério Lins (Podemos). No Bandeiras, o mandato de Renata Abreu foi o que mais enviou materiais. Ela empatou com outro deputado federal da cidade, Valmir Prascidelli (PT), com 11 materiais. Ao todo, foram 91.
No Santo Antônio, foram 69 materiais enviados, dos quais 17 foram da dupla Bruna Furlan (PSDB) e Claudio Piteri (PPS) e outros oito de Kaique Verginio (Podemos). Só a tucana foi reeleita.
Aline Kátia Melo (Jova Rural), Ariane Costa Gomes e Paulo Talarico (Osasco), Cleber Arruda (Brasilândia), Erika Pacheco e Priscila Pacheco (Grajaú), Giacomo Vicenzo (Cidade Tiradentes), Humberto Muller (Mairiporã), Lucas Veloso (Guaianases), Jariza Rugiano e Kátia Flora (São Bernardo do Campo), Magno Borges (Jaraguá), Raquel Porto (Cidade Líder)
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