Estudo mostra que, desde 2015, mais da metade da população paulistana daria adeus à capital. Trabalho, opções de lazer e família são alguns dos impeditivos
Por: Redação
Publicado em 22.03.2019 | 23:17 | Alterado em 22.03.2019 | 23:17
Waldir Salvadore, 58, se divide entre seu sítio em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, e a casa onde vive na Aclimação, zona sul da capital paulista. O professor de história, porém, não nega a preferência de endereço.
“Quando vou pra lá, me sinto bem. Fico triste quando volto pra São Paulo. Se eu pudesse, sairia daqui”, declara.
A decisão de Salvadore não é solitária. Se pudessem, seis em cada dez dez moradores deixariam a capital paulista, segundo revela estudo o “Viver em SP: Qualidade de Vida”, realizado pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Ibope, publicado em janeiro deste ano. Trabalho, opções de lazer e família são alguns dos impeditivos.
“Estimulo meus amigos a morarem no centro para que a região receba vida. Mas hoje busco calmaria onde eu possa fazer nada e estar em paz. Não saio por amor à cidade”, confessa o historiador, que trocou a região central para viver próximo ao parque da Aclimação.
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De acordo com o estudo, Salvadore é a cara do grupo líder em intenção de se mudar de SP: homens brancos com renda de cinco salários mínimos por mês, ensino superior completo e residentes da zona sul.
Nos últimos dez anos, a taxa de paulistanos que deixaria a cidade variou, segundo levantamento da Rede Nossa São Paulo.
Em 2009, na primeira edição do levantamento, 57% da população gostaria de partir de SP. Seis anos mais tarde, esse índice aumentou 11%. Há dois anos, ele continua superando os 60%.
Para o pesquisador Anderson Kazuo Nakano, do Instituto das Cidades da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o desejo da população em sair de cidades grandes como São Paulo demonstra certa ambiguidade.
“As pessoas falam, mas não saem porque se os 63% da pesquisa, por exemplo, saíssem, a cidade iria desertificar”, explica.
Segundo o urbanista, apesar da vontade de migrar pra outros lugares, paulistanos como Salvadore, por exemplo, conseguem aproveitar a vida cultural da cidade.
“Esse grupo tem bom emprego, consome, encontra os amigos. Está inserido nas oportunidades e sofre menos com os problemas urbanos e sociais”.
De acordo com a pesquisa “Viver em São Paulo: Cultura”, de 2018, a maior frequência nas atividades culturais é determinada, sobretudo, pelos preços e pela proximidade do local de moradia.
Para 24% dos moradores da zona leste, a proximidade é um dos principais fatores para frequentar atividades culturais. A região lidera o ranking na cidade.
JORNADA DUPLA
De volta ao Parque da Aclimação, outro morador também vive uma relação conflituosa com a maior cidade brasileira.
“Eu deixaria a cidade sim. Eu tô cansado. Desde que eu cheguei aqui, eu sempre trabalhei. Tenho visto que não está tendo prosperidade. O que a gente ganha fica aqui mesmo”, afirma o porteiro Cleber Miranda da Silva, 53.
Há 33 anos, ele deixou para trás a cidade de Caponga, no Ceará, a 70 km de Fortaleza. Na capital paulista, além de porteiro, a renda ganha reforço com o trabalho como passeador de cães.
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Para ele, a falta de condição financeira é o principal impeditivo voltar à terra natal. “Pela minha vontade, eu iria embora, mas não vou porque tenho meu filho e minha esposa. Estou em sacrifício por eles”, lamenta o cearense.
O dia a dia do porteiro evidencia esse cenário. A dupla jornada prova que as vantagens de viver em São Paulo estão ligadas às necessidades econômicas.
Para o urbanista Anderson Kazuo Nakano, “diferentemente das cidades menores, São Paulo tem uma rede de oportunidades que é desigual, injusta, mas existe”.
“Depois de 2015, o país começou a entrar em recessão. Esses ciclos da economia e renda da população influenciam a vontade de sair das pessoas. É uma correlação forte”, explica Nakano.
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